Os tempos que vivemos, bem como aqueles que se aproximam, vão exigir uma capacidade de sofrimento imensa por parte dos portugueses, face às medidas que se anunciam e que não deixam prenunciar tempos favoráveis.
A inevitabilidade com que o ministro das Finanças, em nome do primeiro-ministro, apresenta as decisões que enformam o Orçamento Geral do Estado para 2013 e a frieza e insensibilidade como fala, criam na população um sentimento horrível de culpa e de incapacidade em reagir.
Mas é uma sensação estranha que o cidadão ouça uma pequena parte do governo a defender e a bater-se por um conjunto de medidas duríssimas que vão fazer piorar a situação em que cada um vive, criando mesmo situações insustentáveis, e que vão levar à miséria de muitas pessoas, quando a maioria dos comentadores, especialistas e das próprias pessoas, está frontalmente contra as mesmas e os mais conhecedores ditam a sua falta de consistência e antecipam quase o fracasso certo.
Na maioria dos casos a argumentação de quem está contra este orçamento assenta na própria experiência das medidas tomadas para 2012, que em vez de diminuírem o défice orçamental o aumentam, crescendo em simultâneo o desemprego, as falências, os encerramentos de empresas, a desorientação e desmoralização das pessoas.
Perguntava-se um empresário recentemente na televisão com que cara e espírito de colaboração vai qualquer trabalhador para uma empresa, se lhe cortam salários, diminuem regalias, aumentam tempo de trabalho e criam maiores incertezas, sem que em alternativa lhe mostrem algo no futuro que os possa mobilizar.
Gazeta das Caldas tem consciência do dramático momento que se vive em muitos países da Europa, assolados por idêntico problema como o nosso, mas também com o que se vive em Portugal, e particularmente na nossa comunidade mais próxima.
Como tribuna dos nossos leitores, assinantes e anunciantes, temos tentado dar eco a todas estas preocupações e ensaiado algumas fórmulas de entreajuda, que possam irmanarmo-nos em luta por objectivos comuns.
Sabe-se que para um jornal viver e subsistir no actual momento, tem que estar fortemente ancorado na sua comunidade, mas igualmente deve partilhar os problemas, as dificuldades e o anseios da mesma.
Com a ajuda e solidariedade de muitos, temos tentado oferecer aos leitores e assinantes propostas de partilha com as actividades desenvolvidas na comunidade pelos nossos empresários que anunciam na Gazeta das Caldas. Desta forma procuramos minimizar os custos com a assinatura do nosso jornal pois os nossos assinantes recebem vales de desconto em produtos e serviços nas empresas da região.
Simultaneamente, fomentamos as operações comerciais na comunidade, sabendo que isso pode contribuir para dar sustentabilidade a essas empresas, viabilizando os necessários empregos.
Gostaríamos de aprofundar ao máximo estas formas de cooperação solidárias entre parceiros e actores da mesma comunidade, para que todos possamos subsistir e ultrapassar o momento crítico que vivemos.
Será difícil atalhar o crescendo de problemas que todos sentimos, e que agora se agravam, mas achamos que ainda há tempo para o governo atalhar e evitar a implementação de novas medidas de tal forma graves que poderá matar o doente da cura.
Quanto gostaríamos de ouvir as lideranças nacionais que o objectivo era produzir mais e mais eficientemente, para que todos pudéssemos consumir mais, mantendo e criando mais emprego, para numa círculo virtuoso sairmos do actual círculo vicioso de mais impostos, mais dívida, menos emprego, mais dificuldades, mais miséria e desorientação.
Não se ouve uma palavra que aposte nas variáveis estratégicas endógenos que criam valor e emprego mais qualificado numa sociedade e que tem como lema a inovação, a criatividade, o design, a qualidade, a tecnologia e que dão resposta à mão de obra que formamos nas escolas e universidades.
Para aqueles que andam a criar competências elevadas não lhes deveríamos propor a emigração como futuro, apesar de não termos internamente os mercados e os meios para que engenheiros, arquitectos, designers, criativos e outros se possam afirmar.
Julgamos que é precisamente em torno destas questões – que caracterizam as sociedades mais evoluídas – que se deve reflectir de forma crítica.
Como julgamos que é aqui que está a chave do futuro, e como os actuais responsáveis pelo país omitem estes factos, não podemos acreditar no sucesso das suas políticas. Confiamos no futuro e na ultrapassagem do actual momento que, inevitavelmente, terá de ser feito contra o stato quo que nos estão a vender.