Seca e aumento de custos pressionam agricultores

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Cenário de seca agravou-se em janeiro e colocou a região em seca severa. Regar implica adicionar custos a uma produção que já tinha margens esmagadas, além de consumir recursos hídricos que vão ser necessários a partir de abril

A chuva que caiu no passado domingo foi apenas uma gota nas necessidades das produções agrícolas, que estão a enfrentar diversos problemas devido à seca severa em que a região se encontra. Nesta fase, as produções em curso não estão ameaçadas, mas o cenário pode mudar caso a chuva continue sem cair. O que já está em causa são os preços no consumidor e a rentabilidade das produções para os agricultores.
Sérgio Ferreira, presidente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO), diz que os efeitos da seca começaram a sentir-se em meados de janeiro e que, entretanto, já se passou mais um mês sem chuva. O primeiro impacto da seca nas culturas foi a obrigatoriedade de regar numa altura do ano em que as produções deveriam ser de sequeiro, com consequências negativas. “Estamos a utilizar recursos que seriam para os meses de abril a junho”, refere o dirigente. Isso poderá criar problemas mais para a frente, se a chuva continuar sem cair.
Nos terrenos que não estão preparados para a rega, “há culturas que não vão chegar ao fim ou, se chegarem, os produtos terão menor qualidade”, acrescenta.
A falta de chuva tem um lado positivo: permite que maquinaria pesada entre em terrenos onde não conseguiria se estivessem molhados para preparar as próximas culturas, “mas sem água também não teremos grandes hipóteses de sucesso nessas produções”, sublinha.
Outro problema da necessidade de regar é que isso importa despesa, “em cima dos aumentos de custo de materiais e energia que já tínhamos”, alerta o dirigente.
Para o consumidor, Sérgio Ferreira diz que “é natural que o produto saia mais caro”, até porque isso já está a acontecer. No entanto, o presidente da AIHO refere que esse aumento não tem reflexo no que os agricultores recebem.
Essa é uma questão que preocupa, particularmente, os agricultores, que nalguns casos estão a receber menos pelo que produzem do que no ano passado, apesar do aumento de custos. “Esse aumento tem que ser repartido nas diversas fases, ou seja, no produtor, no distribuidor, no embalador e no consumidor”, adverte Sérgio Ferreira, acrescentando que “os produtores não aguentam mais”.
Em risco poderão estar, nalguns casos, o abandono de produções para “procurar outra atividade que seja rentável”, e noutros pode levar a redução de área cultivada, para reduzir o risco. “Os produtores estão descapitalizados, com dificuldade de ir à banca para retomar culturas. Os apoios do Estado existem, mas não resolvem tudo, precisamos é que o mercado seja justo”, sustenta.
O problema da seca não é novo, nem no país, nem na região. “É ciclíco, embora nos últimos tempos os ciclos sejam mais curtos”, refere Sérgio Ferreira.
Nesta altura, a AIHO está a aguardar que seja formado novo Governo para pedir uma audiência à tutela, e tem propostas para colocar em cima da mesa, para o curto, médio e longo prazo.
Para o imediato, a associação defende a criação de pequenas charcas exploração a exploração ou em grupos, em conjunto com a APA e o Governo. “Existem bons exemplos na região, em que armazenamos água de chuva”, diz Sérgio Ferreira. Num plano mais alargado, a associação quer ver implementados estudos já realizados para regadio nas ribeiras do Oeste, com a criação de pequenos açudes.
E para o longo prazo, o dirigente acredita que o Projeto Tejo, previsto para abastecer três regiões, incluindo o Oeste, é a solução. “A nível de engenharia, o estudo está numa fase muito avançada, vai precisar de apoio político, e de toda a região, para que continue a ser a maior produtora de hortícolas no país e de reconhecida qualidade a nível europeu”, conclui.

Quase metade do país está em seca severa ou seca extrema

A corrente temporada de outono/inverno tem sido particularmente seca, não só na região, mas praticamente em todo o país.
Em dezembro, a precipitação já tinha sido reduzida e, segundo o mapa de monitorização da seca do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), mais de metade do país encontrava-se em seca fraca. Este mapa colocava o Oeste, assim como as regiões de Lisboa, Lezíria e Médio Tejo e Setúbal, em seca moderada. Este cenário agudizou-se em janeiro, colocando mais de metade do país em seca moderada (53,7%). O Oeste entrou mesmo para o território em seca severa, o segundo grau mais elevado da escala. Em conjunto, quase metade do país (45,7%), encontrava-se em seca severa ou extrema e até 12 de fevereiro não caiu qualquer precipitação em território nacional. É ainda de referir que nenhuma zona do país se encontrava no nível normal, numa altura do ano em que era suposto haver mais água no solo.

Suinicultores temem colapso
da fileira devido aos preços baixos

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Empresários pedem ajuda ao Governo e admite tomar medidas

Setor teme que alguns produtores deixem de ter fundos de tesouraria para alimentar os animais

Os empresários da fileira da suinicultura, atividade relevante na região, temem que o setor esteja à beira do colapso devido aos baixos preços de mercado desta carne e ao disparar dos preços de produção, nomeadamente da alimentação dos animais e os custos energéticos. O setor esteve reunido em plenário no passado dia 8 de fevereiro em Leiria, no auditório da NERLEI, onde foi apresentado um pacote de medidas essenciais e urgentes para amenizar os prejuízos.
No plenário da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), os empresários falaram de “uma crise gravíssima” que o setor está a atravessar, “com milhares de postos de trabalho em perigo, animais sem alimento e famílias em risco de perder o seu único meio de subsistência”, refere a federação.
Os empresários referem que, ao contrário dos outros bens alimentares, e apesar dos fatores de produção estarem mais caros, “os preços dos porcos continuam baixos” e o setor não está a conseguir que o preço do produto acabado reflita os custos de produção.
A FPAS fala numa inflação de 30% nos custos de alimentação dos animais em relação ao ano passado, o que acumula com subidas homólogas de 28% nos combustíveis, enquanto a eletricidade chega a atingir os 300%. Os custos energéticos, além de subirem o custo de produção, estão a provocar problemas de competitividade para as exportações em comparação, por exemplo, com Espanha, onde os preços dos combustíveis e eletricidade são mais baixos.
Esta subida de custos acumula com a redução da procura interna e externa e uma “redução significativa” do preço pago ao produtor, que é superior a 40%, indica a FPAS, acrescentando que as campanhas de promoção no retalho alimentar esmagam ainda mais as margens de toda a fileira.
“A situação que se vive é absolutamente sufocante para muitas empresas, sobretudo as de menor dimensão que não encontram fundo de tesouraria para fazer face aos muitos e onerosos encargos que enfrentam há já largos meses”, referem os empresários, que querem ver aplicadas medidas após três reuniões realizadas com o Governo.
Nessas reuniões, a fileira pediu medidas como o acesso a uma linha de crédito de apoio à tesouraria, isenção da Taxa Social Única durante um ano, acesso à eletricidade verde, assim como apoio à negociação com os operadores do retalho alimentar, no sentido de sensibilizar para o aumento das compras de carne nacional e cessação das promoções na carne de porco. Caso estas medidas não sejam implementadas num prazo de 15 dias, os suinicultores irão reavaliar as ações a tomar.

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