Sociedade Filarmónica Carvalhense: a tocar desde 1859

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A banda que nunca parou de tocar fará 164 anos a 21 de outubro, uma data que será assinalada com um concerto e um almoço-convívio

A Sociedade Filarmónica Carvalhense existe desde 1859, tendo seguido a tendência que se iniciou com a Revolução Francesa de surgimento de bandas filarmónicas. A coletividade viria a ser oficializada após o 25 de Abril, em 1976. Desde então, a banda tem passado por “altos e baixos”, mas continua, até ao presente, a tocar ininterruptamente, com um novo vigor desde que a nova direção tomou posse, em julho de 2022, por dois anos.
O caldense e presidente da direção, Mário Xavier, a residir no Carvalhal, de onde a esposa é natural, afirma que o grupo de trabalho tem “recuperado esta alma da aldeia”, tentando “adaptar-se a uma situação nova”.
Mário Xavier afirma que assumiu funções numa “fase descendente” da banda, que estava reduzida a “cerca de cinco” elementos. O impacto da pandemia fez-se sentir, mas hoje já possui 25 músicos e é dirigida pelo maestro de longa data, José Carlos Reis, natural da Dagorda, Óbidos.
Os elementos são “pessoas da terra”, ou músicos de outros concelhos que aprenderam a tocar naquela banda e que também prestam serviços noutras filarmónicas. “As atuais bandas desta zona fazem partilha de recursos. Tem de ser, para conseguirem formar bandas completas”, completou o tesoureiro, natural do Carvalhal, António Costa.
Um panorama bem diferente do que se verificava há “30, 40, 50 anos”, acrescentou o vice-presidente, João Ricardo. “Era uma banda de 30, 40 elementos, todos do Carvalhal. Praticamente todas as crianças por aqui passavam, e podia-se fazer eventos com a banda com mais facilidade do que hoje em dia”. Atualmente, há menos crianças na aldeia, que estudam no Bombarral, e as que desejam aprender música têm a opção do ensino articulado. “Temos cerca de oito jovens na Escola de Música”, partilhou Mário Xavier.
Se, dantes, “a banda era o principal financiador da coletividade”, atualmente, “é preciso festas [organizadas pela coletividade] para gerar receitas”, contando-se ainda com o apoio das autarquias, avançou João Ricardo. As atuações por contrato, em festas de outras aldeias, também são menos, e por vezes oferecidas.
Vasco Costa, diretor da Secção Musical e antigo diretor da banda, foi filarmónico durante cerca de 40 anos, e recorda-se da viagem a Rouen, França, cerca de 1999, quando a banda foi convidada pela comunidade portuguesa imigrada. “Angariámos dinheiro para nos deslocarmos durante o período de festas de verão e durante uma semana lá estivemos, foi maravilhoso. Bons tempos”. No âmbito dessa viagem, ainda puderam desfilar pelos Campos Elísios.
Porém, os quatro amigos estão determinados, juntamente com o grupo de trabalho que envolve, no total, entre 30 a 40 pessoas, a “devolver o caráter que a banda já teve e o seu contributo para o caráter da aldeia”, que é “uma aldeia histórica já do séc. XIII” que serviu de plateau à série da RTP “Bem Vindos a Beirais”, lembrou António Costa.
A banda oferece os seus serviços nas quatro procissões que se realizam ao longo do ano, a mais sui generis das quais é a procissão de S. José, ou dos caracóis, como é popularmente conhecida, devido ao facto das ruas serem todas iluminadas por candeias em cascas daquele animal, e que é celebrada no dia do pai. Há ainda a atuação na festa anual em Honra ao Senhor Jesus do Carvalhal, no segundo fim de semana de setembro, que esta direção retomou, em 2022, e na festa de aniversário da banda.
A SFC dinamiza ainda um clube de leitura que, há três anos, agrega 18 idosos que leem e discutem clássicos da literatura nacional e estrangeira. O grupo também já recebeu a visita de alunos do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó. Trata-se de um momento em que os mais novos ouvem as histórias dos mais velhos, mas os jovens também já apresentaram um teatro, estando previsto o seu regresso. No âmbito deste grupo, realizou-se ainda, neste verão, uma excursão a Conimbriga, que foi guiada por Isabel Xavier.
A escola de acordeão é outro projeto paralelo, como o grupo de cantares de música tradicional portuguesa e a ginástica de manutenção.
A atual direção foi ainda promotora de obras estruturais no salão nobre, com a recuperação do chão, a instalação de um sistema contra incêndios e a aquisição de um palco em alumínio, que custou mais de dez mil euros, tendo beneficiado de apoios do programa Leader Oeste. A eletrificação também foi toda reforçada no espaço que outrora foi o recreio ao ar livre da escola primária ali criada em inícios dos anos 1950. A cozinha também foi reequipada.
A próxima paragem da SFC será na peça baseada num texto do Poeta Ventura, natural do Carvalhal, a qual integra ainda uma adaptação de um texto de Júlio César Machado, de A-dos-Ruivos (ambos escritores do séc. XIX). A Rainha D. Leonor também entra no teatro, não tivesse sido a fundadora da Igreja do Santíssimo Sacramento, que até hoje continua a ser gerida pela Irmandade homónima, cujo juiz-presidente é João Ricardo, e em cujo largo o Auto da Rainha D. Leonor terá lugar, a 15 de outubro. O teatro está inserido no projeto “O Largo da minha aldeia”, da Câmara do Bombarral e que conta com o envolvimento de várias aldeias do concelho. A iniciativa tem o forte apoio da SFC, em termos de recursos humanos, logísticos e de cedência do salão para os ensaios.
A 21 de outubro a SFC celebra o seu aniversário, com uma atuação da banda em estilo de orquestra e outra do grupo de cantares, antecedidas por almoço-convívio. A 11 de novembro a coletividade celebra o magusto, seguindo-se uma atuação de sevilhanas, fado acompanhado da banda e flamengo, em datas ainda a definir. As visitas culturais também são para repetir, desta feita, a Mafra, Vila Viçosa ou Coimbra.
“A banda foi fundada a 21 de outubro de 1859 e, mesmo com todas as vicissitudes, esteve sempre em atividade, apesar de, por vezes, muito pequenina, mas funcionou, não parou”, salientou Mário Xavier. E Vasco Costa rematou: “O meu pai sempre me disse, Filho, enquanto puderes, não deixes morrer a Filarmónica. É o que estou a tentar fazer e, enquanto tiver forças, tudo farei para que isso não aconteça”.

A sede da SFC pertence à junta e está arrendada por contrato de comodato
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