O grande auditório do CCC foi mais uma vez palco da cerimónia de atribuição das medalhas do Município. Casa quase cheia para homenagear instituições, empresas, artistas, autarcas, e outras personalidades, cujo percurso a autarquia entende ser digno de distinção.
Às entidades locais juntaram-se, este ano, o secretário de Estado da Administração Local e Reforma Administrativa, Paulo Júlio, e a presidente das federações portuguesa e europeia dos Bancos Alimentares Contra a Fome. Num ano em que os tempos de crise levaram a Câmara a dar especial destaque à solidariedade, ficou o desafio para que de agora em diante não se esqueçam os mais carenciados nos festejos do feriado municipal.
Foi sob o mote da solidariedade que decorreram este ano a Festa da Cidade. E em tempos difíceis apoiaram-se os mais necessitados e reconheceu-se o trabalho de uma instituição onde todos os dias diversos voluntários arregaçam as mangas para pôr alimentos na mesa de centenas de pessoas da região, que de outra forma passariam fome.
No passado dia 15 de Maio, o Banco Alimentar do Oeste recebeu a Medalha de Honra do Município, a maior distinção na habitual atribuição de medalhas que se repete em cada Dia da Cidade. Uma distinção que reconhece o trabalho levado a cabo por esta entidade em oito concelhos da região desde 2006 e que mereceu unanimidade na Câmara e na Assembleia Municipal.
A distinção da autarquia trouxe às Caldas a responsável nacional pelo Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, que recentemente assumiu também a presidência da Federação Europeia dos Bancos Alimentares. Para a dirigente, o Banco Alimentar Contra a Fome replica, “numa lógica talvez um pouco mais estruturada, aquilo que a Rainha D. Leonor lançou quando fundou as misericórdias”.
De acordo com Isabel Jonet, “320 mil pessoas recebem diariamente no seu prato alimentos entregues por uma das 2.040 instituições que trabalham com os 19 bancos alimentares do país”. Mas nada disto seria possível sem os voluntários que diariamente asseguram o bom funcionamento da rede de solidariedade.
Quanto à realidade da região, a responsável diz que a boa relação entre o Banco Alimentar do Oeste e a Câmara das Caldas é “um bom exemplo de colaboração entre autarquias e instituições da sociedade civil”.
Isabel Jonet diz mesmo que sem o apoio da autarquia – exemplificado nas obras de adaptação das instalações do Banco Alimentar -, “nada disto teria sido possível”. O sucesso do Banco Alimentar do Oeste, que em 2011 distribuiu 688 toneladas de alimentos em oito concelhos da região, deve-se ainda “a todos os que nas Caldas o ajudam e dão de comer a quem tem fome”, garantiu.
Quem também salientou o papel dos voluntários no Banco Alimentar local foi Ana Bessa, que assumiu a presidência da instituição nos últimos cinco anos, cargo actualmente ocupado por José Siqueira Carvalho. Num breve, mas emocionado, discurso, Ana Bessa lembrou ainda “três pessoas que foram peças fundamentais e que já não estão entre nós”: Frederico Lupi, Luísa Firmino e Rogério Caiado.
A entrega da medalha ao Banco Alimentar do Oeste foi um dos pontos altos de uma cerimónia onde foram ainda distinguidas diversas pessoas, empresas e colectividades caldenses, ou de alguma forma ligadas às Caldas. Num ano em que as distinções
deixaram de ser divididas em grau bronze, prata e ouro, atribuíram-se, além da Medalha de Honra, Medalhas de Dedicação Pública e de Mérito Municipal.
A Medalha de Dedicação Pública foi entregue à Associação Barrantes Cultural e Desportiva e ao rancho folclórico “Os Oleiros” (que pertence à Associação Cultural, Desportiva e Recreativa Arneirense). Ao palco do grande auditório do CCC subiram ainda representantes da Frigosto e da Frutalvor para receberem as medalhas de Mérito Municipal Industrial e Agrícola, respectivamente.
Na área do desporto, foram distinguidos Tiago Évora (praticante de motonáutica) e Joaquim Damas (pela sua actividade no basquetebol nos Pimpões). Na vertente cultural o município caldense decidiu este ano condecorar António Maria Leão (da Sociedade Filarmónica Catarinense), o actor José Eduardo, Jaime Costa (director do Jornal das Caldas), o artista José Pires, Pedro Bernardo (proprietário da Fundação Bernardo), o escritor Luiz Pacheco (medalha a título póstumo) e a cantora Adelaide Ferreira.
Esta última, que passou parte da sua infância e adolescência nas Caldas da Rainha, acabou mesmo por cantar um dos seus mais conhecidos temas – “Eu dava tudo” – e por arrancar algumas gargalhadas do público quando pediu se não podia ser lançado um abaixo-assinado para que Fernando Costa possa continuar à frente da autarquia, garantindo que este autarca “merece uma excepção à regra”.
Já a Medalha de Intervenção Cívica e de Carreira foi este ano atribuída a António Alexandre (que foi presidente da Junta de Freguesia do Landal e esteve ligado à Associação Casais da Serra), ao coronel Rocha Neves (um dos militares do 16 de Março), a Silvino Roque (presidente da Junta de Freguesia de Carvalhal benfeito e da Cooagrical) e a Valentim Alves (presidente da Junta de Freguesia de São Gregório).
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt
O dia em que a política se misturou com as medalhas
Salientando o significado da cerimónia de atribuição das medalhas, Fernando Costa garantiu que “Caldas é fruto dos seus homens e das suas mulheres”, gente que deve ser distinguida. Realçando a importância da novidade introduzida este ano com a atribuição dos cabazes a famílias em dificuldade, o autarca manifestou o desejo de que “o Dia da Cidade seja também o Dia de Natal para os mais carenciados”, apelando a que também esta vertente solidária se torne uma tradição do 15 de Maio.
Na presença do secretário de Estado da Administração Local e Reforma Administrativa, Fernando Costa admitiu que “não há outro caminho a não ser reduzir as despesas” e elogiou o “excelente bom-senso e sentido de equilíbrio” do governante.
Já antes, o presidente da Assembleia Municipal, Luís Ribeiro, abordou alguns dos temas “quentes” que marcam a actualidade local, como a luta pelos serviços hospitalares e pelo termalismo. Quanto à reforma administrativa em curso, Luís Ribeiro deixou uma garantia: “defendemos as nossas freguesias e a sua identidade, mas não nos amedrontamos e aceitaremos o desafio desta reforma”.
Na resposta, Paulo Júlio dirigiu-se aos representantes do poder local presentes na cerimónia, dizendo que são estes quem melhor conhece a realidade, os problemas para resolver e os recursos a explorar. Mas lembrou que o país tem “imensos” problemas para resolver, acumulados ao longo das últimas décadas.
Para o governante, a realidade actual do país é “um momento a que a problemas emergentes se juntam problemas estruturais”. Mas é em exemplos como os que foram distinguidos pela autarquia caldense que “fica bem espelhada a nossa capacidade”.
“Com portugueses como vocês, Portugal saberá sair deste ponto onde está e criar uma comunidade feliz”, garantiu o governante, admitindo que neste percurso muitos são os problemas que ainda há para resolver.