
Speak Caldas, assim se designa o projecto de integração que se destina a quem vem do exterior morar para a cidade termal. No Speak aprende-se Português e também Inglês e é nestas aulas que se forma uma importante rede informal de apoio.
O Speak Caldas teve início em 2014, fez uma pausa e em 2018 recomeçou com as aulas de línguas que hoje são frequentadas por 50 pessoas. No dia 8, o Speak deu-se a conhecer com a primeira Talk, que teve lugar na Igreja do Espírito Santo, no Largo João Deus.

“Passamos muito tempo da nossa vida a trabalhar em coisas que não gostamos, para comprar coisas que não precisamos”, palavras de Hugo Aguiar, o fundador do Speak, durante a sua intervenção na primeira Talk do Speak Caldas.
O fundador desta rede de apoio, é engenheiro informático e trabalhava na Google, antes de se dedicar a esta iniciativa. Em paralelo, esteve sempre ligado a projectos de voluntariado, à procura de um ponto de equilíbrio na sua vida. Hugo Aguiar afirmou que ao longo dos tempos ia notando que as variáveis que influenciam o seu bem-estar, iam mudando. Se nalguns momentos era a carreira e a família, noutras era a ajuda ao outro que mais o preenchia. E foi por isso que criou o Speak tirando partido da necessidade de aprender a língua local quando se chega a outro país.
Assim, o projecto tornou-se “uma ferramenta muito útil para tirar as pessoas do isolamento”, contou o responsável, que percebeu que as aulas também serviam para criar uma rede de suporte informal. “Era algo mágico que poderia ser replicado em vários locais”, disse o fundador do Speak, que já está presente em vários países. Está agora a ser testado na Etiópia, no Bangladesh e nos EUA. Na Europa, marcam presença em 25 localidades e têm como meta “estar em 100 cidades em 2024”, referiu Hugo Aguiar, recordando que todas as semanas três milhões de pessoas de todo o mundo, mudam-se para uma cidade nova.
O Speak obteve o Selo Europeu para as Línguas, atribuído pela Comissão Europeia e, em 2015, foi distinguido com vários prémios, entre eles, o de melhor projecto social português em fase de crescimento no Social Innovation World Forum. “Conseguimos colocar o tema das migrações num palco internacional”, disse o fundador, acrescentando que foi a primeira vez que Portugal chegou ao top 10 daquela iniciativa. O projecto liga actualmente 25 mil pessoas de 160 países diferentes que se inter-ajudam e organizam eventos e actividades culturais, para além da aprendizagem linguística em cada comunidade.
Caldas, a primeira replicação
“Caldas da Rainha tem uma história de amor e de paciência connosco”, referiu o fundador Speak. E isto porque o projecto que nasceu em Leiria, em 2014, foi replicado para as Caldas “quando ainda não estávamos preparados”, disse. Em 2018 houve um novo re-arranque e com o apoio da Ordem do Trevo e da Associação Fazer Avançar, o Speak Caldas já tem 50 pessoas distribuídas por quatro turmas dos níveis básico e conversação de Português e de Inglês. As aulas decorrem uma vez por semana – a partir das 18h30 – de segunda a quinta-feira nas salas da AIRO, na Expoeste.
O actor e encenador, José Ramalho e o director da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, Daniel Pinto, contribuíram também para esta primeira Talk do Speak Caldas, dando a conhecer parte dos seus percursos pessoais e profissionais, ligados às Caldas da Rainha.
Quebrar preconceitos
Segundo Vera Fortes, uma das responsáveis pelo Speak Caldas, além da aprendizagem da língua e cultura dos vários países, o grupo “tem vindo a promover actividades quebrando barreiras e preconceitos”.
A responsável contou que os participantes são de várias nacionalidades como, por exemplo, dois ingleses que dão as aulas da sua língua nativa. “São designados buddies pois são alunos das aulas de Português e ensinam, aos interessados, a sua língua materna”, disse Vera Fortes, explicando que estes elementos foram professores toda a vida em Inglaterra e agora voltam a partilhar o seu saber em Portugal. A partir do próximo ano, o Speak Caldas vai abrir novos grupos e “gostaríamos de ensinar outras línguas como o russo e o mandarim”, rematou.
“Nunca mais se sai”
A professora Maria Pereira, é caldense. “Sou aluna do Speak Caldas onde aprendo Inglês pois preciso de melhorar a dicção”, referiu dizendo que adora viajar e que vai começar o segundo curso de Inglês. Maria Pereira conta que no Speak se aprende não só a língua como várias características de outras culturas. Gosta por isso dos espaços multiculturais até porque um dos objectivos principais “foi a inclusão”. A participante diz que no grupo “se sente o calor pois está toda a gente disponível para se dar e estar com os outros. É um ambiente muito agradável”.
Segundo Maria Pereira – que já levou mais gente para o projecto – quando se entra no Speak “nunca mais se sai!”.
Também Maria Besuga quer integrar em breve o projecto. Vai ensinar Português e aspectos da cultura e gastronomia. Ao mesmo tempo vai aprender Inglês. As duas participantes gostariam que o Speak Caldas fosse mais divulgado “para poder ganhar mais escala”.