Se há algo caraterístico das Tasquinhas na Expoeste é o espírito de encontro e de convívio que o evento proporciona. É impensável ir às Tasquinhas e não conhecer ninguém. Imagem de marca da Festa de Verão é também o espírito associativo
Tasquinhas na Expoeste são encontro e convívio. Uma ida àquele que por estes dias é o maior restaurante do Oeste, com 2000 lugares sentados, é sinónimo de ver e rever caras conhecidas, muitos que não residem atualmente nas Caldas, mas que nesta época de verão aproveitam as férias do mês de agosto para visitar as raízes e o que de melhor a região tem para oferecer.
Se o lado gastronómico, com comida diversa, mas confecionada de maneira tradicional, é um atrativo óbvio, tal como o convívio, também é certo que as Tasquinhas nas Caldas têm um lado particular, tradicional e curioso. É que “toda a gente” vai às Tasquinhas. Uns, é certo, vão mais do que outros. Há os que não perdem um dos dez dias e os que acabam por lá parar, quase arrastados, para um jantar de amigos ou de família, mas lá que acabam todos por se encontrar na Expoeste, isso é garantido. É uma tradição. Tal como o 15 de agosto, que tem vindo a decair, mas que tinha também uma ida certa na agenda dos caldenses.
E a maioria dos que não dispensa a ida à Expoeste não vai porque espera um grande serviço ou pratos gourmet, mas sim porque quer encontrar os seus conterrâneos. A gastronomia é, afinal, uma desculpa para o convívio que se estende pela noite na zona de bares.
A existência de uma mostra de artesanato, este ano com 40 participantes, mas também de cerca de 50 instituições do concelho, permite dar a conhecer melhor o território e a sua diversidade, patente também a nível gastronómico.
Criado em 1995, o evento vai atualmente na sua 25ª edição e prossegue diariamente até ao dia 13 de agosto.
O associativismo, sempre
Outra imagem de marca das Tasquinhas nas Caldas é o espírito associativo do evento. É que são as coletividades do concelho (e já foram mais!) a dinamizar os restaurantes e bares.
E nesse campo é sempre de salientar o voluntarismo dos participantes, que durante estes dias trabalham para angariar dinheiro para as suas coletividades dinamizarem atividades sociais, culturais e desportivas. Muitos, já se sabe, tiram férias de propósito nesta altura do ano para estarem aqui… a trabalhar.
Dos mais velhos aos mais novos, a maioria sem formação na área da restauração, fazem como podem para responder a tanta procura. São, ao longo dos dez dias, centenas de voluntários que ali oferecem milhares de horas de trabalho e dedicação.
Avelino Marques é um dos assadores da Ramalhosa, mas na realidade ele até é do Bairro Figueira (na Benedita). Participa nas Tasquinhas desde o primeiro ano, sempre como assador. Na altura trabalhava na construção civil e fazia parte da direção da associação (A.N.D.A.R. Ramalhosa). “Viemos com os olhos fechados, foi uma aventura”, conta.
Atualmente tem as coisas controladas, chega às 18h00 à Expoeste e começa logo a fazer as brasas. Os pratos mais pedidos são o entrecosto na brasa, com arroz e feijão, e o bacalhau grelhado com migas. “No ano passado, só de entrecosto grelhámos 525 quilos”, conta.
Recorda-se também do tempo em que tinha que ir buscar a carne, no seu carro, às duas da madrugada, à Benedita.
“Há cerca de 20 anos, tinha os alguidares com carne e bacalhau perto do assador em cima de uma mesa, vim à sala e quando regressei os alguidares estavam no chão”, lembra. Tinha sido António Júlio, que fazia parte da direção, que tinha ido buscar uma mesa para sentar mais clientes. “Eu chateei-me, mas ele, no espírito da amizade, foi comprar uma garrafa de vinho para bebermos ao jantar e fizemos logo as pazes”, conta. Aliás, é isso que nota Avelino Marques, é que ao longo destes anos mantém-se precisamente o espírito de amizade.
Entre as mudanças repara que Alvorninha chegou a ter oito tasquinhas com restaurante, pelo que tinham que dividir a tasquinha por dias. Atualmente, esta é a resistente. E, se falámos do que mudou e do que não mudou, não resistimos a perguntar, o que é que deveria mudar. A resposta é pronta: “as condições das cozinhas, que é uma obra prometida há tantos anos”. É que apesar de serem menos tasquinhas, o que permitiu melhorar ligeiramente as condições de trabalho, ainda estão longe do ideal e o calor, por exemplo, é uma das principais queixas de quem ali confeciona milhares de refeições diárias.
A tradição…
A chegar às Tasquinhas encontramos Vasco Eusébio e a esposa, das Caldas. O casal mora perto da Expoeste e tem como tradição vir todos os anos com a família (várias gerações) encontrar-se à mesa nas Tasquinhas.
“Costumamos ir comer o bacalhau à tiborna ou os respos da Fanadia, que foi onde fomos no primeiro dia e estava ótimo, mas hoje [segunda-feira] ainda não sabemos onde vamos”, contou, acrescentando que apreciaram a música e animação.
… e a inovação
Mas se há algumas coisas que não mudam nas Tasquinhas, também há outras que vão evoluindo. A grande novidade deste ano foi o facto de esta ter sido a primeira edição das Tasquinhas organizada pelo Gabinete de Eventos da autarquia.
A ADIO – Associação para o Desenvolvimento Industrial do Oeste era a responsável pela Expoeste e também pela organização da Festa de Verão da Expotur. Com a passagem da gestão da Expoeste para a AIRO (Associação Empresarial da Região Oeste), as Tasquinhas passaram a ser organizadas pela própria Câmara.
Outra novidade foi, por exemplo, a existência de pratos vegan na maioria das tasquinhas, e que é um sinal dos tempos. Encontramos os cogumelos salteados com arroz e batata e o alho francês à brás, no Arneirense, o bitoque vegetariano (com um hamburguer de feijão preto, cogumelo e tomate seco) no Monte Olivett e as alheiras e hamburguers vegetarianos no Campo. Já o Sporting Clube das Caldas apresenta um risotto de cogumelos.
Mas entre as várias tasquinhas, mesmo naquelas em que não existe uma opção vegetariana ou vegana na ementa, procura-se sempre encontrar uma solução que vá de encontro aos desejos dos clientes, ainda que aí a oferta passe muito pelas saladas e omeletes.
Mas houve mais novidades na edição deste ano, como os copos de plástico reutilizáveis, com imagens dos pavilhões, da Rainha, de Zé Povinho e outras, com cores vivas e um design gráfico apelativo, que vêm dar fim aos já “cansados” copos da Frutos 2019.
Na abertura do certame, Pedro Marques, vice-presidente da Assembleia Municipal, salientou as “bodas de prata” do evento e enalteceu o trabalho dos anteriores autarcas Fernando Costa e Maria da Conceição Pereira, ambos presentes na inauguração. Deixou também votos para que as associações que perderam dinâmica com a pandemia possam encontrar novo rumo e voltar a participar nas tasquinhas.
Já o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, explicou que ao invés das 25 que participavam no evento, atualmente participam 21, ainda que sete com bares e não com restaurantes (que recorde-se, são 14).
Nesta edição, que é a primeira organizada pela autarquia, há uma mostra com mais de 40 artesãos e mais de 50 instituições do concelho que ali procuram dar a conhecer as suas atividades e trabalho. “A ADIO fazia a gestão do equipamento e a organização da festa, que passa a ser organizada pelo Gabinete de Eventos da autarquia. É uma aprendizagem, mas com um histórico muito grande”, ressalvou Vítor Marques, agradecendo o trabalho feito anteriormente.
A animação conta com 40 grupos, que inclui animação em palco e itinerante. O objetivo da autarquia foi “tentar que a oferta seja o mais abrangente possível”.
O autarca reconhece que “há um investimento significativo da Câmara, mas multiplica-se diversas vezes no potenciar do apoio às associações”.
Hoje, dia 10 de agosto, há o já tradicional almoço do Emigrante. ■