Coordena a dimensão parlamentar da Presidência Portuguesa do Conselho da Europa e está nas suas mãos garantir que os parlamentares dos 27 países continuam o debate no atual contexto pandémico
É na Assembleia da República que Teresa Paulo coordena os serviços que asseguram o exercício da Dimensão Parlamentar da Presidência Portuguesa do Conselho da UE. A caldense, de 46 anos, trabalhou na adaptação dos serviços à covid-19, para garantir o exercício de uma Presidência digital.
“Este foi e tem sido um desafio para o qual ninguém estava preparado”, disse Teresa Paulo à Gazeta das Caldas, explicando que foi necessário assegurar que “o debate plural e democrático tinha condições para se realizar”. Foi esse o mote que imperou quando em abril “não se sabia o que fazer”. Em conjunto com os colegas croatas (que detinham a Presidência) e alemães (que assumiram em julho) que se procurou perceber se a decisão seria o cancelamento das reuniões interparlamentares.
“A única certeza era de que os Parlamentos não podiam ficar sem voz, sobretudo no contexto pandémico, com tantas decisões a terem que ser tomadas”, contou a responsável, recordando um período em que se sucediam as declarações de estados de emergência pelos Estados-membros da UE.
Foi com recurso ao digital que se reiventaram as plataformas de encontro e debate que juntam, de seis em seis meses, os parlamentares da UE. “É virtualmente que os parlamentares europeus debatem os temas que mais preocupam os cidadãos que representam”, disse.
São três as prioridades da presidência portuguesa ligadas à recuperação europeia, às transições climática e digital e à concretização do Pilar Social da UE
A Presidência Portuguesa vai agora promover o debate sobre o combate à covid-19 e o impacto na vida dos europeus, nas relações laborais, na política social e na cooperação policial.
Em cima da mesa estão também os planos de recuperação e resiliência (a “bazuca” europeia), da emergência climática, da biodiversidade, do novo pacto europeu de migração e asilo, da política externa, de segurança e de defesa da UE, da governação económica, do desenvolvimento rural, das relações com África e “o debate sobre o estado da própria democracia, procurando contrapor à tão temida recessão democrática, uma ideia de resiliência democrática”.
Segundo a caldense, o Governo definiu como prioridades da Presidência Portuguesa, a recuperação europeia alavancada pelas transições climática e digital e concretizar o Pilar Social da UE como elemento essencial para assegurar uma transição climática e digital justa e inclusiva. Pretende-se ainda reforçar a autonomia estratégica de uma Europa aberta ao mundo.
Por seu lado, é no Parlamento nacional, onde Teresa Paulo se encontra, que são organizadas cerca de uma dezena de reuniões interparlamentares. Nestes encontros participam os Parlamentos nacionais dos 27 Estados-membros e o Parlamento Europeu, perfazendo um total de 39 câmaras parlamentares (alguns países têm uma Câmara Baixa e um Senado, como Espanha e França).
Cidadãos devem ser exigentes
Para a assessora parlamentar, quanto mais exigentes forem os cidadãos europeus para com as instituições que os governam, mais estas se sentem na obrigação “de os manter informados e de criar conteúdos que lhes interessem e mecanismos que recolham e que integrem as suas posições”.
Teresa Paulo chama a atenção que atualmente se prevê que “cerca de 70% das alterações estruturais do nosso país, muitas delas legislativas ou regulamentares, tiveram origem na UE”.
39 câmaras parlamentares (alguns países têm também Senado) que estão representados e que reúnem com o Parlamento Europeu nos encontros
São várias as decisões com implicação nas vidas de todos: “na regulamentação dos produtos que consumimos, na emissão das notas e moedas com que pagamos as nossas contas, nos fundos de coesão que financiam as autoestradas que usamos”. Juntam-se, ainda, “as obras das escolas, filhos, dos pavilhões desportivos ou cineteatros das nossas cidades e, agora, do acesso às vacinas de combate à covid-19”, acrescentou.
No entanto, a caldense reconhece que a União Europeia “é facilmente atacável” e que precisa de melhorar em várias questões. “Tem de ser um caminho de exigência, que force a uma permanente melhoria”, disse. A alternativa era não se ter “vivido esta experiência de paz nos últimos 70 anos”. “É um património precioso, que deve ser preservado e de que se deve ter consciência, lado a lado com o lastro da experiência de governação democrática e de progresso económico de que o nosso país beneficiou”, rematou Teresa Paulo, que, sempre que pode, regressa à terra natal, para visitar família e amigos e destaca como foram fulcrais os “ensinamentos” que recebeu na Secundária Raul Proença. ■
A primeira mulher e civil a dirigir RI da Defesa
Passou por alguns ministérios e foi distinguida com louvores em Portugal e em França
Na sua carreira, Teresa Paulo foi desafiada a assumir a Direção de Serviços de Relações Internacionais do Ministério da Defesa. A caldense foi a primeira mulher e civil a assumir tais funções.
Conta que o momento mais marcante foi o facto de, nove dias depois de tomar posse, ter “recebido a decisão dos EUA de desmobilizar, da Base das Lajes, o que, foi um colosso, quer politicamente, quer em termos de trabalho”.
Posteriormente foi chamada para a equipa do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que classifica de “verdadeiro Alfa da política nacional, com uma capacidade de trabalho inigualável”. Teve, então, a oportunidade de acompanhar os Conselhos de Negócios Estrangeiros, ao nível da UE, e, por outro, o dossier do Brexit. “Ambos obrigavam a intensos esforços de coordenação interministeriais, com vista à definição da posição nacional, que acomodasse os contributos dos demais ministérios”, explica.
A caldense, que ainda não tinha terminado o curso de Relações Internacionais quando foi convidada a dar aulas ainda no ISCSP (Universidade Nova de Lisboa), ainda passou pelo Ministério da Educação, onde avaliou como é que os conteúdos sobre a História da Europa e do projeto europeu eram transmitidos nos vários Estados-membros.
Seguiu-se a Assembleia da República, para assessorar a Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, durante a segunda Presidência Portuguesa do Conselho da UE, em 2000. Tinha 25 anos.
Teresa Paulo tem sido agraciada com louvores. Se trabalhasse no setor privado, possivelmente chamar-se-ia prémio ou dividendos. Na administração pública, em que os departamentos se chamam “serviços”, em que o trabalho prestado se apelida de “serviço público” e em que as competências podem designar-se por “missões”, o louvor assume “uma forma de reconhecimento pela forma como alguém desempenhou as suas funções ou exerceu a sua missão”, observa.
Teresa Paulo foi agraciada com um louvor público do ministro dos Negócios Estrangeiros em 2019. Um ano antes recebeu a medalha da Defesa Nacional da República Francesa, escalão prata. Soma-se um louvor do ministro da Defesa Nacional (2017), além de outras distinções. ■