Termas das Caldas vão ter aproveitamento geotérmico

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2016-05-06 Primeira.inddQuando forem reactivadas as termas das Caldas, será feito o aproveitamento geotérmico para o aquecimento e climatização do hospital termal. Quem o diz é José Martins de Carvalho, o maior especialista em geotermia em Portugal que é também consultor do município caldense  por causa da questão termal. A afirmação foi proferida durante o segundo colóquio do ciclo “Regresso às termas” que teve lugar na Eira Branca (Infantes), a 22 de Abril. Neste evento participou também António Eloy, ambientalista, ligado ao Oeste desde as lutas contra a central nuclear em Ferrel (anos 70).

 

Natacha Narciso

nnarciso@gazetadascaldas.pt
Todos os projectos geotérmicos de Portugal passaram-lhe pelas mãos. José Martins de Carvalho é um dos maiores especialistas desta área e é agora consultor da autarquia caldense para a questão termal. Este especialista considera que a água termal caldense “tem muito caudal e temperaturas relativamente baixas, o que impõe algumas limitações”. No entanto, é possível tirar proveito do calor que existe no subsolo usando-se bombas de calor geotérmicas. É pois possível a produção de energia a partir do vapor de água de origem geotérmica. Martins de Carvalho considera que será necessário avançar com prudência pois “é prioritário proteger o recurso termal que vai “alimentar” o hospital termal”. O famoso legado da Rainha é para o convidado compatível com o aproveitamento geotérmico. Este não será aproveitado logo numa primeira fase – apesar das nascentes já lá estarem –, mas sim após obras de fundo que reabilitem o hospital. O aproveitamento da geotermia vai permitir o aquecimento e a climatização daquelas instalações hospitalares. Segundo Martins de Carvalho, o hospital deverá abrir portas em 2017 com apenas uma interven
ção que vai ter em conta a substituição de tudo o que é adução de água. “Como houve contaminação do interior, têm que ser substituídas tubagens e sistemas de captação”, disse.
As obras que prevêem o reaproveitamento geotérmico serão feitas dentro de três a quatro anos e poderão ter também aplicação em alguns edifícios públicos nas imediações do hospital, que passarão a ser aquecidos com o calor da terra. Para se conseguir obter esse calor serão necessários furos profundos de forma a obter temperaturas da água a 60º em vez dos 32º actuais. “Nessas condições é possível fazer mais coisas”, disse o especialista. Uma das possibilidade é a exploração de estufas geotérmicas que permitem produzir “o que o mercado quisesse no que diz respeito aos produtos fora de época”, rematou.

TERMAS EM FILME E NA LITERATURA
Na primeira parte desta iniciativa, o ambientalista António Eloy partilhou algumas inquietações e observações, feitas ao longo dos seus 40 anos de intervenção na área ambiental. Depois de ter especificado de que forma é feito o aproveitamento do calor térmico, apresentou um filme com as especificidades deste tipo de energia nas termas de S. Pedro do Sul, de Chaves e dos Açores. Segundo o ecologista, já há centrais geotérmicas nas ilhas de S. Miguel e Terceira que permitem a produção de 38% das necessidades energéticas do arquipélago dos Açores. Este está a caminho de se tornar “um arquipélago inteligente”, disse António Eloy, que referiu como bom exemplo nesta área a ilha de El Hierro (Canárias) que é considerada uma “smart island” pois está a caminho da auto-suficiência energética através de energias limpas. Entre outros temas, esta convidado ainda fez uma incursão pela literatura referente às águas e ao termalismo, tendo salientado filmes como “A Morte em Veneza” de Thomas Mann, ou “O Ultimo Ano em Marienbad” de Alain Resnais, feito sob argumento do escritor Alain Robbe- Grillet. Depois do cinema, o convidado ainda se referiu com detalhe ao livro “O Balneário”, de Vasquez Montalban, tendo dito que é uma obra “muito informada sobre termas, balneários e processos termais”. Conhecedor do processo de relançamento termal das Caldas da Rainha, António Eloy contou que sabe bem como é o seu funcionamento e as suas potencialidades pois já em garoto acompanhava os seus avós aos tratamentos e chegou mesmo a fazer as famosas inalações.