Uma tragédia à nossa porta…

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Os incêndios no norte do distrito de Leiria ocorridos nos últimos dias impõem-nos algumas reflexões pertinentes, mas também nos recordam o absurdo da cena vista, também há dias, em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançava idiotamente para o lixo os relatórios que tinham sido realizados sobre as alterações climáticas.

Ao reflectir sobre o que aconteceu, achamos que nos devemos colocar na situação de algumas das vítimas, que foram confrontadas repentinamente com o fogo dantesco em seu redor e que teriam de ser obrigados a tomar decisões, qualquer delas sem saber as consequências imediatas. Ficar onde estava e tentar defender-se procurando algum local que pudesse escapar à dizimação pelo calor e pelo fumo irrespirável? Fugir em qualquer direcção, não sabendo à partida o que o esperava, se um oásis salvador ou um inferno que destruiria a vida num sofrimento indescritível?
Foi um verdadeiro jogo de roleta russa em que qualquer decisão podia encontrar a morte, se é que não fosse mesmo impossível uma solução racional e salvífica.
O que nos foi dado a ver pelas televisões e pelas redes sociais é um verdadeiro pesadelo, que aconteceu à nossa porta, a menos de uma hora de distância, onde as infelizes populações foram surpreendidas por uma catástrofe impensável.
Já tínhamos ouvido ou visto nas televisões e nos jornais, tragédias da mesma ou maior dimensão, nalguns países até mais desenvolvidos e com mais meios do que o nosso, de incêndios ocorridos nos Estados Unidos (propriamente na Califórnia), na Canadá, na Austrália, ou mesmo no Chile.
Quando se ouve o mesmo acontecer à distância, a muita distância, existe uma atitude de desvalorização da gravidade e em pensar que o mesmo não vai ou pode acontecer connosco.
Para os habitantes do Oeste, em que as temperaturas e as restantes condições climatéricas nunca atingiram aqueles graus de calor e de secura, mesmo em relação a terras a poucas dezenas de quilómetros, ou seja, para além do sistema de Montejunto, Candeeiros e Serra d´Aire, a questão ainda se torna mais difícil de entender.
Muitas vezes queixamo-nos por cá, das nossas noites frias e húmidas no Verão e as temperaturas do ar que ficam muitas vezes a 10º centígrados dos cálidos dias do Ribatejo, Alentejo, Beira Interior e mesmo Lisboa, mas percebemos agora que esse fenómeno tem um benefício objectivo.

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O aquecimento global (fenómeno desmentido ignorantemente por alguns, mesmo muito altamente colocados) e o aumento das regiões áridas e da falta de água, ajudam ou obrigam-nos a pensar em alterar a nossa forma de agir, quer em relação à nossa vida pessoal, quer em relação à nossa economia.
A ocupação do espaço, a agricultura que é feita, a indústria que privilegiamos, a utilização dos recursos naturais como água, o ar, os combustíveis, os outros recursos originais ou transformados, devem merecer uma cuidada e profunda reflexão.
Não basta pensar no assunto no quente da tragédia e depois ir esquecendo com a passagem do tempo.
Portugal contou até terça-feira 64 vítimas mortais, para além do sofrimento de todos os restantes protagonistas, quer como vítimas que não pereceram, quer como actores no socorro e que viveram momentos trágicos que não vão esquecer.
Também não partilhamos do comportamento daqueles que usam estes horríveis acontecimentos para promoverem audiência e receitas, usando a desgraça alheia como fonte de benefício.
Ouvimos, especialmente nos media televisivos, queixas, se bem que verdadeiras, muitas vezes com exigências incompreensíveis para com os outros que tentaram dar o seu melhor e mesmo arriscando a sua vida. O desconforto, o medo e a ruína, criam, em cada um de nós, um comportamento egoísta e exagerado, atribuindo aos outros causas que são inexplicáveis racionalmente, por muito que mediatamente possamos encontrar algumas explicações.
Mas a mãe Natureza, em certos momentos, desencadeia fenómenos que são indomáveis e que apenas temos de tentar compreender e criar mecanismos para que, nas vezes em que ocorreu, se trate melhor de preveni-los.
Provavelmente os muitos desmandos que os seres vivos provocaram na natureza merecem muitas destas suas “vinganças”, mas que castigam especialmente os mais inocentes.
Esta dialéctica tem séculos, mesmo milénios, e dificilmente será entendida, a não ser em momentos como estes. Algum tempo depois é esquecida à espera da próxima ocorrência.
Mas tudo isto não desculpa a negação de que a natureza se está a transformar por acção humana e que devemos prevenir mais destas situações, entendendo que a luta do mundo contra as alterações climáticas, provocadas muitas vezes por nós próprios, são um assunto actual e premente.
Que uns idiotas o tentem esconder ou desmentir, deve merecer o nosso mais vivo combate e protesto!

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1 COMENTÁRIO

  1. Portugal é um pequeno rectângulo e só com uma grande falta de vontade política e ao mesmo tempo um desleixo nacional é que se permitem tragédias e catástrofes destas. Quando digo nacional, refiro-me a todos, proprietários de florestas, autoridades que não exigem a aplicação das leis. Quanto ao cidadão, claro, quem quer viver no Interior a 40.º C de máximas e mínimas tropicais acima de 25.º C ? mas se de facto há tanta gente de braços cruzados que se precipitam para os seus PCs a mexer os dedos das mãos a exigir demissões em cadeia, porque razão não se voluntarizam com seus braços e pernas para defender o seu país? As grandes peregrinações religiosas, mostram que somos um povo que, em nome da fé, faz autênticas caminhadas em nome pessoal .Então, se temos músculo também temos sensibilidade para defender o nosso torrãozinho de território. Quanto às autoridades mais uma vez se demonstra que trocar o quadro negro do giz a apagador por investimentos que nos sugam o tutano (e endividam as futuras e atuais gerações) não resolve nada. Uma das incumbências da ANPC é “prever” e , num país tão pequeno é impensável não “governarmos” tão exíguo espaço. Se há macrocefalia é na governação para um corpo tão pequeno, afinal. É assim tão difícil fazer um mapa das zonas de risco e estar vigilante, pelo menos, ainda por cima em períodos de tempo tão exíguos quando ocorrem “vagas de calor”?