Como poderá a CP competir com a rodovia, sem condições para dar velocidade ao comboio?
Com os condicionalismos de uma infraestrutura que não permite grandes velocidades, a CP tem um desafio difícil pela frente. Se o objetivo é retirar carros da estrada, como defende o ministro da tutela, Pedro Nuno Santos, a fim de se atingir a descarbonização e combater as alterações climáticas, como poderá o operador público competir com a rodovia na região Oeste? Se não o pode fazer na redução do tempo de viagem, restam-lhe três variáveis: frequência, conforto e preço.
Porém, a frequência é outra limitação. Com uma linha em via única, mesmo que duplicada em alguns troço, dificilmente poderá haver mais do que um comboio por hora entre Caldas e Lisboa em cada sentido. Eventualmente dois nas horas de ponta. Os autocarros têm maior flexibilidade para se fazerem à estrada aumentando a frequência, do que um comboio, cuja marcha tem de ser planeada, dependendo dos canais horários disponibilizados pelo gestor da infra-estrutura (IP).
É certo que um único comboio pode levar centenas de passageiros, substituindo-se a vários autocarros, mas o horário é claramente menos flexível.
Resta, então, à CP, o preço e o conforto. Um preço que tem de ser competitivo face ao concorrente mais direto, beneficiando também do PART (Plano de Apoio à Redução Tarifária dos Transportes) como forma de atrair clientes para o modo ferroviário.
Mas é na comodidade que se joga a vantagem competitiva do comboio face ao autocarro. A CP não deverá imitar os autocarros e aviões oferecendo carruagens com lugares todos seguidos e iguais. Deve apostar num interiorismo inovador dos comboios onde coexistam lugares individuais para quem quer descansar ou trabalhar, compartimentos para grupos ou famílias e até pequenos espaços para crianças (tal como acontece cada vez mais no resto da Europa). Assentos cómodos, Internet fiável, tomadas para computador, mesas de trabalho e máquinas de vending para se poder tomar um café a bordo, devem completar uma oferta que, comparada com a situação atual pode parecer um luxo, mas que é a normal e óbvia noutros países onde o caminho-de-ferro é mais desenvolvido.
Considerações que, se a CP as tiver em conta, poderão ajudar a contrariar as baixas perspetivas de aumento de quota de mercado após 2023.
Há ainda uma boa notícia. É bem possível que, com a utilização de comboios mais modernos que a CP vai comprar à empresa suíça Stadler, o tempo de viagem entre Caldas da Rainha e Sete Rios, não seja de 1 hora e 29 minutos como admite a IP, mas se consiga reduzir a 1 hora e 20 minutos. É um pouco mais do que o autocarro, mas a comodidade da viagem pode fazer pender o mercado para a ferrovia. A cereja em cima do bolo seria a utilização dos comboios pendulares na Linha do Oeste (que deixarão de fazer sentido na Linha do Norte quando houver alta velocidade entre Lisboa e Porto) e que poderiam reduzir em dez a 15 minutos a viagem entre Caldas e a capital. ■