Economistas defendem a criação de políticas públicas para fazer face ao impacto económico provocado pela proposta de construção do equipamento no Bombarral
“A localização de um hospital, ou qualquer outro equipamento desta natureza, tem um impacto na economia local”. Esta a premissa de que partiu a economista Susana Peralta, para explicar que não é indiferente o novo Hospital ser construído nas Caldas ou noutra localização, dando conta dos ganhos, em diversas áreas, que estes equipamentos geram, desde logo com a atração de uma população altamente especializada. Mas a sua construção num local, quer dizer que haverá outro a perdê-lo e, neste caso, a economista não vê como sendo necessariamente mau para as Caldas, se este vier a ser construído no Bombarral. “As Caldas tem atributos que lhe permitem contar a sua história a uma população altamente diferenciada”, defendeu, acrescentando que está nas mãos, do município das Caldas e dos poderes autárquicos, desenharem políticas que consigam atrair essa população e, com isso, partilhar com o Bombarral uma parte substancial dos ganhos económicos com aquele equipamento. Outro desafio que se coloca às Caldas é o que fazer com o atual hospital, caso este venha a fechar, “para não se criar um buraco negro no espaço urbano”, alertou a também docente universitária, acrescentando que a Câmara deveria negociar contrapartidas junto do poder central.
Presente no encontro, o presidente da Câmara rejeitou, peremptóriamente, pensar em contrapartidas, defendendo a localização do equipamento nas Caldas. O autarca deu ainda nota da reunião que tiveram com a CCDR, uma “peça importante na decisão”.
Conflitos de interesse
Declarando desde logo o seu próprio conflito de interesses, pelo facto de ter raízes familiares no concelho, Susana Peralta deixou uma crítica às tomadas de decisão, nomeadamente ao nível das políticas públicas, que são “fracas, permeáveis a muitos interesses”. Isso leva a que haja alguma desconfiança, legítima na sua opinião, “acerca da lisura do processo, pelos munícipes das Caldas”. A economista referia-se, concretamente, aos conflitos de interesse de Ana Jorge, enquanto coordenadora do grupo de trabalho, pelo facto de ser ex-ministra da Saúde e uma pessoa profundamente ligada ao PS, assim como, na altura, ser presidente da Cruz Vermelha, uma entidade que concorre no mercado da promoção dos cuidados de saúde. No estudo encomendado pela OesteCIM está como consultor o também ex-ministro socialista Adalberto Campos Fernandes, o que “não quer dizer que as pessoas sejam desonestas”, realçou, mas sim que, “na tomada de decisão, podem estar confrontados com dois interesses divergentes”. Defende, por isso, que num “equipamento desta centralidade, obviamente que o governo devia ter tido mais cuidado com a escolha das equipas que iam opinar sobre o processo”.
A também economista e especialista em Saúe Pública, Joana Alves, referiu que a localização de um hospital tem impactos diferentes nas várias classes sócio-económicas e que, por exemplo, a distância e a falta de transportes podem constituir uma barreira no acesso aos cuidados de saúde por parte dos mais pobres. Há, por isso, que pensar numa “total reorganização” da rede de cuidados e dos transportes, para garantir a acessibilidade a todos.
No que respeita ao hospital das Caldas, se este se transformar numa unidade de cuidados continuados, também “trará um acréscimo à economia”, considera.
O encontro, organizado pela associação Vamos Mudar (na noite de 15 de setembro), contou com a presença de representantes dos vários partidos políticos caldenses (com exceção do PSD), que criticaram a “politização do assunto” que tem unido todos, e reiteraram a opção pela localização entre Caldas e Óbidos para o novo Hospital. A médica caldense Mara Marques equacionou se a escolha do governo, pela localização no Bombarral, não possibilita às Caldas a negociação de contrapartidas, nomeadamente de mais e melhores cuidados de saúde primários. Na plateia houve ainda quem questionasse se, com esta perda ao nível da oferta pública nas Caldas, não se abria portas à resposta privada. De acordo com as oradoras, se o novo hospital oferecer melhores cuidados de saúde, mais atempados e escalas de eficiência, retirará procura aos cuidados privados. Para além disso, “há um consumo excessivo dos cuidados de saúde, nomeadamente nas idas às Urgências”, provocado pelo facto dos cuidados serem gratuitos. ■