Nos últimos anos tem-se acentuado uma tendência na procura por novos tipos de habitação. As razões prendem-se com uma maior ligação e respeito à terra, utilizando formas mais ecológicas e sustentáveis de viver. Hoje há opções que deixam uma pegada humana muito inferior às de uma construção convencional. Além das autovivendas, existem casas modulares, as já famosas mini-casas, contentores de carga transformados em habitação e até… manilhas de esgoto utilizadas como quarto.
A Vepelibérica, que se localiza no Bombarral, tem exposta uma casa feita a partir de contentores marítimos. Com 60 m2, resulta da junção de dois contentores e é vendida a partir dos 45 mil euros.
A rapidez e durabilidade, o curto prazo de execução (entre três e cinco meses), a facilidade em ampliar a casa e em deslocá-la, são algumas das vantagens destas casas modulares, mas também o facto de ser possível construir múltiplos andares (incluíndo caves).
Há várias formas de montar os contentores. Haja criatividade. Um ao lado do outro é o mais comum, mas há ideias que colocam uns em cima, outros em baixo e até um projecto de criação de um prédio com 16 contentores, com quatro andares de altura (quatro por quatro contentores).
A Vepel é a empresa da região que tem instalações e meios próprios para fabricar as casas, bem como os materiais e acessórios para os acabamentos.
Esta foi uma das formas que a empresa encontrou para acompanhar as tendências da área e, para tal, foi criada uma parceria com uma outra empresa, a Boxcode, que desenha as casas.
Mas os contentores não servem apenas para habitação. Por exemplo, em Lisboa foi criado, com 14 contentores marítimos e dois autocarros, um espaço colaborativo que apela à criatividade, o Village Underground.
As Mini-casas sustentáveis da Moita de Alvorninha
O projecto Mini-casas, criado na Moita de Alvorninha, foi notícia na Gazeta das Caldas em 2014. Madeira, lã de ovelha e cortiça são as bases para criar as pequenas habitações que custam entre 3000 e 15 mil euros.
O seu mentor, João Neves, falou-nos das soluções de habitação que cria e dos “novos rurais, que são jovens que depois de viver meia dúzia de anos em grandes cidades, estão saturados da exploração”. Estes procuram, então, formas de habitação alternativas.
As casas que João Neves fabrica interessam a quem procura preços muito reduzidos e para quem valoriza o facto de “a pegada que deixam ser muito reduzida”. Os mais procurados são os yurts, tendas tradicionais da Mongólia. “Têm muito espaço, são 20 metros quadrados”, disse, notando que podem ser montados e desmontados.
São redondos e o tecto permite ver o céu. Em conclusão, “é um conceito versátil e económico” e, talvez por isso, o mais procurado.
Se o objectivo for apenas dormir, o que faz mais sentido é a hobbit house, onde praticamente apenas cabe uma cama.
Outra criação é a wood cabin (uma cabine com uma cama e uma gaveta, por baixo, com cozinha e arrumação), mas, dentro dos mesmos materiais, também fabrica roulottes ciganas, vagões de cowboy, deltoid houses, casas de madeira, cozinhas, decks, casas de banho portáteis ou fixas e sanitas secas.
Também transforma carrinhas antigas de caixa aberta em pequenas casas. A sua especialidade é trabalhar com este tipo de carrinhas porque isso lhe permite construir com os materiais que quer, algo que uma autovivenda dificilmente permitiria.
A legalização das carrinhas, em muitos dos casos, não se coloca porque vão de reboque para alojamentos locais e parques de campismo onde podem circular.
“Apesar ser mais confortável que um yurt, são caras em relação aos metros quadrados, porque o motor as encarece, mas permite jogar com o dormir uma noite com cada vista”.
Os preços das habitações variam entre os 3000 euros (a hobbit house) aos 15 mil (uma carrinha antiga transformada em casa). A procura é sempre maior que do que aquilo que pode aceitar. “Não quero ter uma produção em escala”, afirmou. Se durante a crise houve uma grande procura por razões económicas, depois houve uma grande vaga de pessoas ligadas à permacultura e “agora é mais o turismo”.
Relativamente ao licenciamento destas casas, esse depende de cada Câmara e varia consoante a motivação para atrair habitantes.
Uma noite numa manilha de esgoto
Enquanto falamos com João Neves, ele dá-nos a conhecer o tubismo. Curioso? É uma prática que surgiu no Parque de Campismo O Tamanco, no Louriçal, e que se traduz em dormir uma noite numa manilha de betão igual às usadas no esgoto.
Com vidros espelhados, que permitem ver de dentro para fora, mas não o contrário, os tubos são tanto mais bonitos quanto o local em frente deles.
Aqui a ideia não é a habitação permanente, mas sim as férias. O conceito foi criado para os meses mais quentes do ano e portanto não é forrado, apenas pintado e decorado com cortinados. Tem uma cama a toda a largura do tubo. A bagagem fica por baixo da cama. Tem iluminação e duas tomadas.
No total são oito tubos, onde se inclui uma torre de três, com dois em baixo e um em cima desses dois e que tem, até, uma varanda no primeiro andar. A cozinha é comunitária e a casa de banho é a do parque.
Trata-se de uma invenção de Hans de Jong, holandês que é proprietário do campismo e que contou com a ajuda de vários parceiros, entre os quais, claro está, João Neves.
Hans de Jong disse à Gazeta das Caldas que na altura pretendia “reutilizar produtos que foram fabricados para um fim, mas que podem ganhar novos usos”.