Há quem continue a vender todos os dias na Praça e outros que escolhem vir apenas nos dias mais próximos do fim de semana. Aos sábados o mercado é forte mas a maioria dos vendedores está a envelhecer e os filhos não os irão substituir
Natacha Narciso
António Farinha tem 71 anos, é das Caldas e já vende na Praça há mais de 50, seguindo as pisadas da sua mãe. “Só venho à sexta-feira e ao sábado no inverno”, contou o vendedor que tem a sua produção de legumes, frutas e até de flores na Estrada da Foz, nos terrenos próximos da Fábrica do Sabão. “Às vezes tem que vir um homem ajudar-me e aí venho às sextas, sábados e domingos”, contou o vendedor, acrescentando que há muitos anos que deixou de vir ao mercado diário até porque “preciso do tempo para me dedicar à produção”.
Na sua opinião, era importante permitir o estacionamento aos compradores, durante 20 minutos ou meia hora em volta da Praça. António Farinha defende que se deveria “investir numa cobertura fixa e bonita e que poderia também permitir a atividade fixa quando não há o mercado relacionadas por exemplo com o exercício físico”.
O caldense tem muitos clientes fixos, sobretudo particulares, e lamenta que os custos da produção “estejam sempre a aumentar”. António Farinha tem uma filha mas ela “nunca “tombou” para aqui. Tive uma neta que gostava de ajudar e eu recompensava-a”, referiu o vendedor que acha que considera que o mercado deveria passar para um local fechado – com estacionamento para clientes e vendedores. “Assim ao ar livre, tem tendência a acabar pois o dinheiro às vezes não é tudo”, contou António Farinha que vem às cinco da manhã e, às vezes, “se me atraso um pouco já não consigo estacionar perto”, rematou.
Filipa Militão é do Olho Marinho e vende flores há 35 anos, de quarta a domingo, na Praça. “Hoje vendeu-se pouco sobretudo porque as pessoas não têm dinheiro”, referiu a vendedeira que conta que tem alguns clientes fixos. Filipa também tem alguma produção mas outra vai comprar.
Um dos problemas são os toldos das atuais bancas que, em dias de chuva e de vento, molham as pessoas. Na sua opinião, o ideal seria “ter um céu de vidro, mais alto que as árvores e era melhor que serviria como uma proteção”. Também gostaria de ter casas de banho mais próximas pois as que existem são longe e não se pode deixar a banca tanto tempo.
Um dos seus filhos gosta da Praça mas não sabe se um dia ele quererá vir vender. Filipa Militão vem por volta das oito da manhã. Na sua opinião, o melhor seria mudar a praça durante o inverno para um espaço fechado. “Eu gostei muito de vender na Expoeste, onde há condições e estacionamento”, disse a vendedora.
Rosa Sousa vem do Arelho (Óbidos) e tem 73 anos. Vende na Praça desde 1982, todos os dias e vai continuar a vir “até que Deus me dê saúde”. Para a venda vem às seis da manhã e traz frutas.
Rosa Sousa tem dois filhos mas como eles estudaram não sabe se quererão fazer vida na praça da Fruta.
“O pior e mais duro é o carregar e descarregar os carros com a venda”, disse. A vendedeira acrescenta que durante a semana tem os seus clientes fixos e concorda que ao fim de semana há mais movimento, sobretudo, aos sábados, quando até vem de gente de vários lados de propósito para adquirir bens à Praça da Fruta.
João Coutinho vende na praça há pelo menos 30 anos, altura em que vinha vender com a sua tia. Trabalha com bolos secos e também gostaria de pelo menos poder ter uma cobertura. O principal problema é a falta de estacionamento. O vendedor, de 42 anos, tem produção própria em Alvorninha, no Casal dos Carvalhos, e teme que um dia a Praça possa acabar. “Passamos aqui muito frio e chuva e ninguém queria isso”, disse o vendedor que vem cinco dias por semama, exceto à terça e à quarta-feira, dias que se dedica a produzir os bolos que vende.
“Sangue novo” no mercado
Maria Pereira, 32 anos, dá continuidade ao negócio de família, vendendo na Praça. “O meu pai vende na Praça há, pelo menos, 36 anos e os meus irmãos também trabalham na agricultura”, disse , explicando que o negócio de família tem sede na zona do Olho Marinho. Vendem na Praça, no mercado semanal e fornecem muitos restaurantes nas Caldas e outros também no Bombarral. “Vimos de segunda a segunda, mas só a partir de quinta-feira é que começa a mexer”, disse a vendedora que diz que há muito que segunda-feira deixou de ser o dia mais forte.
A falta de estacionamento é um problema que prejudica o mercado e, nos dias em que chove, “não se vende nada de jeito”.
Durante a pandemia, a Praça passou para a Expoeste, local onde “vendíamos muito pois havia muito estacionamento e as pessoas não tinham que apanhar chuva ou sol”.E, por isso, Maria Pereira defende que, no inverno, a Praça poderia ser mudada para uma zona coberta. Dos três filhos, Maria Pereira é a que tem mais jeito para o atendimento ao público, enquanto que os seus irmãos estão na produção, a vender por grosso e a fazer entregas.
David Brasil, 26 anos, veio de S. Miguel (Ponta Delgada) para as Caldas e frequenta o mestrado em Design de Produto na ESAD.CR. Trabalha em part-time na Praça, três dias por semana, das oito da manhã às 14h00, o que lhe permite conciliar com os estudos. “É mais bem pago do que um part-time normal”, disse o designer, acrescentando que tem um colega que tirou a licenciatura e que trabalha toda a semana na Praça. E ainda lhes dão produtos no final do dia.
Para David Brasil, ao fim de semana, há mais movimento com muitos estrangeiros e gente de fora que vem. a este mercado. Na sua opinião, as bancas têm problemas pois acumulam água e o próprio espaço também não escoa. Sugere uma cobertura permanente mas sabe que a proposta não é consensual. ■