Na passada sexta-feira, 3 de Fevereiro, realizaram-se vigílias em sete estações da Linha do Oeste, entre Leiria e Bombarral, com o objectivo de protestar contra o fim do serviço de passageiros. Em cada estação juntaram-se algumas dezenas de pessoas, mas a maior concentração foi de 50 participantes na Marinha Grande que procederam ao corte da linha durante quase meia hora.
As vigílias foram organizadas pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, que promete mais acções nas próximas semanas. Rui Raposo, elemento desta comissão, destacou que haverá em breve uma reunião com a população de Fanhais (Nazaré), que tem uma grande dependência dos transportes ferroviários.
O tempo frio poderá ter contribuído para o facto de não se terem juntado mais 30 pessoas em frente à estação de caminho de ferro das Caldas. Entre os presentes encontravam-se representantes da CDU, PS e PSD, entre os quais autarcas como o presidente da junta de freguesia de N. Sra. do Pópulo, Vasco de Oliveira.
“O protesto mais significativo aconteceu na Marinha Grande onde cerca de 50 pessoas cortaram a linha e impediram a passagem do comboio”, disse Rui Raposo, da Comissão para a Defesa da Linha do Oeste acrescentando que a circulação foi interrompida durante um período de 20 minutos no sentido Norte-Sul.
O corte da via aconteceu pouco depois das 17h00, altura em que iriam começar algumas das vigílias contra o fim do serviço de passageiros entre Caldas e Figueira da Foz, nas estações de Leiria, Martingança e Marinha Grande. Ao todo nestas três estações participaram 80 pessoas.
Nas estações de Valado dos Frades, S. Martinho do Porto, Bombarral e Caldas da Rainha a vigília ficou marcada para as 18h00 e, desta forma, também pôde contar com os utilizadores do comboio que passaria a esta hora nestas estações.
“Esta foi mais uma etapa na luta contra a eliminação do transporte de passageiros a norte das Caldas da Rainha”, disse Rui Raposo
A decorrer está já uma recolha de assinaturas para um abaixo-assinado dirigido ao Presidente da República, ao primeiro ministro e à presidente da Assembleia da Republica. Por outro lado, o documento reafirma a necessidade da requalificação da linha. “Por todo o distrito já somamos mais de duas mil assinaturas, mas queremos chegar ao dobro”, diz Rui Raposo, que refere a boa adesão da população e das próprias juntas de freguesia que têm ajudado na recolha.
Além da reunião entre elementos da comissão e da população de Fanhais – localidade da Nazaré que conta com o comboio para garantir a sua ligação com o exterior – Rui Raposo recordou que a eliminação do transporte ferroviário será muito sentida sobretudo por trabalhadores e estudantes que usam a ligação entre Caldas e Leiria.
“Há gente com sérias apreensões quanto ao seu futuro profissional pois não vêem outro meio de transporte ou a estudar já que se registou um grande aumento nos transportes rodoviários”, disse.
Nas estações onde decorreram as vigílias foi aprovada uma resolução exigindo ao Governo “a urgente anulação da decisão de encerramento do serviços de transportes de passageiros entre as Caldas da Rainha e a Figueira da Foz” e que sejam tomadas em conta as propostas apresentadas pela Plataforma para a Defesa da Linha do Oeste.
Esta defende a viabilidade do serviço de passageiros direccionado para Coimbra em vez de ir para a Figueira da Foz, como acontece actualmente.
A resolução aprovada – e que também vai ser enviada ao governo, Assembleia da República e câmaras da região oestina – exige igualmente “a concretização do projecto de requalificação” da linha considerada estratégica para “o desenvolvimento económico e social do país e da região”.
A Comissão encontra-se também a aguardar a marcação de uma audiência parlamentar onde o caldense Nelson Oliveira, autor do estudo de sustentabilidade da linha do Oeste, poderá ser ouvido pelos deputados da Comissão de Obras Públicas e Transportes.
Maria de Jesus Ribeiro, 66 anos
“Vivo nas Caldas da Rainha há 44 anos e sempre viajei para várias localidades de comboio. Trabalho a tomar conta de idosos em S. Martinho do Porto e uso o comboio. Se terminar o transporte de passageiros, não tenho condições financeiras para viajar de transporte rodoviário.
É inconcebível para mim que uma cidade como as Caldas fique sem comboios. Venho todos os dias lutar pela linha do Oeste”.
Manuel Santos, 73 anos
“Cada vez vejo a cidade das Caldas mais abandonada. Sou doente do hospital e vejo que as especialidades se vão embora.
Uso o comboio para ir das Caldas a Óbidos e também ia muitas vezes a S. Martinho do Porto e a Salir do Porto, onde costumava ir à pesca. Isto faz falta a toda a gente, até costumo falar com pessoas a quem isto faz falta para vir vender os seus legumes para a praça. Nós ficamos a perder se ficarmos sem transporte de passageiros”.
Maria Alice Miranda, 57 anos
“Vivo no Bombarral e trabalho em S. Martinho do Porto e uso o comboio diariamente e não posso perder este meio de transporte. Na última greve andei de camioneta e gastava 12 euros para ir trabalhar.
Faço parte da comissão e vou lutar até ao fim pela permanência do serviço de passageiros”.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
Duas mil! Já são muitas… E nas Caldas quantas são?