André Serrenho
23 anos
Caldas da Rainha
Londres – Inglaterra
Tripulante de cabine
Percurso escolar: Escola Secundária Raul Proença, Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Do que mais gosta do país onde vive?
Boa pergunta. Não no sentido de que haja tanta coisa que goste no país onde vivo que não saiba por onde escolher, mas no sentido de que na verdade não sei. É um país que realmente nunca me atraiu muito… «Então porque foste para aí?» – pergunta-se o leitor. Eu vim aqui parar um bocado de pára-quedas, porque me candidatei a um emprego na Ryanair, sem saber para onde iria parar num universo de 70 sítios possíveis. Este foi o que calhou. Mas espremendo uma resposta para essa questão, posso dizer que simpatizo bastante com os ingleses. Acho que são um povo bastante animado e com sentido de humor. Gosto também da importância que este lugar tem no Mundo, e num aspecto pessoal que me atrai mais, que é o viajar, é um grande ponto de partida para todos os lugares do globo. Irónico que eu acabe por responder a uma pergunta sobre o que mais gosto no país de onde vivo, com a facilidade que é viajar para outro lado qualquer. Mas no fundo até gosto de estar aqui, porque encaro a minha estadia como uma experiência, e tenho a possibilidade com o meu emprego de conhecer pessoas novas todos os dias, tanto colegas como passageiros. Enriqueço-me culturalmente e o salário é bastante razoável.
O que menos aprecia?
Aqui a resposta já é mais fácil. Existem duas coisas que se destacam naquilo que eu não gosto do Reino Unido que são o clima e a gastronomia. Viajando para quase todos os países da Europa, e numa companhia cujos aviões voltam sempre a casa ao final do dia, vou apanhando céu limpo e calor na França, em Espanha, em Portugal, na Itália, na Grécia etc. Mas quando acaba o meu turno de trabalho, aterro sempre sob nuvens, vento e frio. O clima aqui é mesmo um factor contra, para um latino habituado, pelo menos no Verão, ao clima que bem conhecemos. Quanto à gastronomia, é horrível. Simplesmente é horrível.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Ligando esta resposta à resposta anterior, duas das coisas que mais sinto falta em Portugal, são exactamente o clima e a gastronomia. Que saudades de comer um bom prato português numa esplanada, a torrar ao sol que bate. Mas não só. Eu não sou uma pessoa propriamente saudosista, sou mais um romântico, assim numa perspectiva de que aquilo que eu mais sinto falta, não são objectos individuais. Sinto falta de Portugal pelo seu todo. Desde a família aos amigos, dos conhecidos aos estranhos na rua… Desde o sol à chuva, e do granizo ao nevoeiro… Desde a cultura às tradições, e das rotinas aos hábitos sociais… Não tenho saudades do que está em Portugal, sinto apenas falta de viver em Portugal.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Não tenho quaisquer planos a longo prazo. Quanto muito tenho a médio, e espero regressar, mas não agora. Por agora quero aproveitar as oportunidades que me surgirem, viver os anos dourados da minha vida ao máximo e seguir a minha intuição para fazer as escolhas certas nos tempos certos. Também não tenciono ganhar raízes no Reino Unido, e já vou tendo algumas luzes de para onde quero ir a seguir, mas não tenho pressa. Uma coisa é certa: não vou sair do Reino Unido directamente para Portugal. Há outros lugares que quero pôr pelo meio.
“Aqui é muito mais fácil ao fim do mês ter dinheiro para gastar ou poupar”
O dia-a-dia de trabalho de um tripulante de cabine é um bocado louco. Se há dias que saímos de casa antes das quatro da madrugada, há outros em que chegamos perto dessa hora. Assim, por vezes, é um bocado difícil gerir a alimentação e os afazeres da vida. Come-se muitas vezes fora de casa e gasta-se algum dinheiro nisso, visto que comer fora de casa é caro aqui. Mas no Reino Unido o mais caro são mesmo as casas. Neste momento partilho casa com mais três pessoas, e pagamos aproximadamente 300 libras cada um (sem despesas), que são aproximadamente 450 euros, e estamos a 60 quilómetros de Londres. As coisas podem ser algo caras, mas também o salário é mais elevado, e no fim de contas, aqui é muito mais fácil ao fim do mês ter dinheiro para gastar ou poupar, do que em Portugal. Nesse aspecto é bom estar por cá.
André Miguel Milhanas Serrenho