Num mundo materialista, assistimos impávidos ao declínio dos afetos, que representam uma componente fundamental para o desenvolvimento de competências que marcam o nosso intimo como seres humanos e, que alimentam o nosso crescimento emocional ao longo de toda a vida sem qualquer prazo de validade.
A maior crise a que se assiste è a crise de partilha de momentos de prazer, interação, diálogo, escuta e orientação de crianças e jovens, desculpabilizando-se o adulto pela trincheira do trabalho e do tempo que os desgasta. Contudo, são essas lamúrias diárias que incutem nos filhos memórias de esquecimento do valor do colo, onde as expressões de afeto representam pontos cardeais da formação da personalidade, interiorização de valores relacionais e sociais, que lhes permitam reconhecer a sua própria identidade emocional e, que de todo está acessível numa aplicação de telemóvel.
A máquina nunca substituirá o homem no que diz respeito à “ fortaleza do amor” onde tudo se cria e tudo se transforma. A atual falência de identidade emocional conduz ao desenvolvimento de sentimentos menores como o ressentimento, insatisfação, desmotivação, raiva, sensação de não serem amados e desejados, culminando em sofrimento por carência afetiva que está na origem de distúrbios psicológicos mais graves. Não sendo psicóloga de profissão, experiencio todos os dias o reflexo desta descontextualização afetiva familiar que se reflete na estrutura educativa, onde se instala um desgaste crescente de professores e alunos, onde o sucesso académico se condena pela indisciplina que remete para a asfixia emocional das crianças e jovens privados do verdadeiro elemento que dá vida à vida, “ o amor incondicional” que lhes trás segurança e estabilidade e do “ amor firme “ que lhes dá disciplina e educação.
Sendo a saúde considerada como um bem estar físico, social e emocional poderemos definir a atual geração como uma geração doente de afetos, perdidos na tecnologia, desprovidos de valores básicos de relação interpessoal, sem capacidade de gestão de conflitos, onde impera a hiperatividade que se sobrepõe à concentração, ao interesse e ao desempenho.
Neste momento vários estudos científicos confirmam o poder do toque como uma mais valia terapêutica, onde se prova que um abraço tem repercussões na recuperação da saúde dos indivíduos e, se enfatizam essas dinâmicas em hospitais e lares com evidências comprovadas. Neste sentido, dinâmicas de afeto são essenciais para uma maior coesão das famílias e que vinculem crianças e jovens à verdadeira essência da vida “ a alegria de a sentir”.
Bastam pequenos gestos para demarcar a mudança, sabendo que o mimo não estraga as crianças, o mimo representa atualmente um suporte básico de vida, que estará na génese de futuros adultos mais felizes e realizados.
Valorize todos os dias a sua relação como seu filho através de um gesto tão simples como um abraço.
Profª Maria Céu Fandinga