No passado dia 7 de Outubro, o caldense Bruno Jesus trouxe de Vila Verde (Braga) o Prémio de Melhor Galo de Raça Portuguesa, neste caso a Pedrês Portuguesa, uma espécie com origens no Norte de Portugal. Mais valor tem o galardão se considerarmos que esta é uma raça em vias de extinção.
Gazeta das Caldas visitou o quintal do Bruno, onde este não só cria a pedrês portuguesa, como outras raças estrangeiras, patos, gansos e perus, num total de 40 aves. Aqui os animais andam livremente e alimentam-se de misturas biológicas, feitas à base de frutas e legumes, sementes e milho.
São 500 metros quadrados com vários galinheiros, patos, gansos e perus. Também há um pequeno lago e legumes plantados ao fundo. Mal chegamos, está na hora de soltar as galinhas pedrês portuguesa e deixá-las andar à vontade pelo terreno. Estas aproveitam para se alimentarem no comedouro colocado no centro do quintal, que contém uma mistura de sementes. Há também uma pequena piscina de borracha que está cheia e serve para que as aves bebam água e se refresquem. Hoje nem é o caso, pois ainda têm as penas molhadas da chuva que apanharam durante a noite.
Mas como estas galinhas são criadas ao natural, também são mais resistentes às doenças do que aquelas que crescem nos aviários. “Nem precisam de tomar medicação artificial pois acrescento orégãos secos à sua comida e vinagre de sidra à água, que são dois produtos naturais que as desparasitam por dentro”, explica Bruno Jesus, 35 anos, que desde 2012 se dedica à criação de galinhas de raça portuguesa.
Para fortalecer as cascas dos ovos com cálcio, o jovem dá-lhes cascas de ostras trituradas.
Bruno Jesus nasceu nas Caldas, emigrou depois para o Canadá, mas viveu quase toda a sua infância e adolescência em Sintra. Aos 22 anos viria a mudar-se para a sua terra natal e a “culpada” foi também uma caldense, por quem se apaixonou e com quem acabaria por casar. Hoje, vive em Casais de Santa Helena (A-dos-Francos) e é funcionário no Colégio Frei Cristóvão. Quanto ao seu hobby, não é difícil adivinhar… cria galinhas no seu quintal. “É a minha terapia”, ri-se.
Bruno Jesus não percebia nada de avicultura, embora os pais e os avós também tivessem tido galos. Começou por pesquisar na internet e descobriu que, tal como existem raças nos cães, o mesmo acontece com as galinhas. Portuguesas, há apenas quatro: a pedrês portuguesa, a amarela portuguesa, a branca portuguesa e a preta lusitana. Também através da internet, Bruno conseguiu fazer download de alguns livros da Universidade de Cornell (Estados Unidos) sobre a ciência das aves.
“Enquanto a minha mulher via a novela, eu lia sobre genética, fui aprendendo como cruzar as espécies de forma a obter os exemplares mais perfeitos”, recorda o caldense, que começou por ter galinhas estrangeiras, mas rapidamente se apercebeu que queria era dedicar-se às portuguesas. Bruno Jesus chegou a ter as quatro raças, mas como o quintal não era espaçoso o suficiente para ter os galinheiros necessários ao apuramento das raças (que implica o isolamento das espécies), optou por focar-se apenas na pedrês portuguesa.
Através da AMIBA – a associação que em Portugal regista as raças das aves – chegou a criadores no Norte, senhoras de 80 anos que nunca tinham criado outras galinhas senão a pedrês, e iniciou o seu projecto. Estas galinhas distinguem-se pelas patas e bico amarelos, crista vermelha e penas com padrão pedrês (preto e branco, que faz lembrar a calçada portuguesa). Há estirpes com ou sem penas no pescoço, o mesmo acontece com os papos. Mas para participar em concursos, não convém que os galos tenham os pescoços nus.
Bruno Jesus ainda é novato nas exposições de aves. Só participou em duas, mas conquistou sempre prémios. Em Dezembro do ano passado participou num concurso em Santarém e levou para casa as distinções máximas de melhor galo e melhor galinha de raças portuguesas. Agora há pouco tempo, no dia 7 de Outubro, também participou na Festa das Colheitas, em Vila Verde, e ganhou o prémio de melhor galo português. Nestas competições os juízes avaliam a correspondência do exemplar àquilo que é considerado o modelo ideal da raça, mas os prémios são apenas simbólicos (taças).
OVOS BIOLÓGICOS NA PRAÇA DA FRUTA
Bruno Jesus compara as galinhas de aviário às suas, as quais chama de rústicas. “Uma galinha geneticamente modificada pelo homem é capaz de pôr 300 ovos por ano, as minhas no máximo põem 180. As primeiras vivem no máximo um ano, as minhas aguentam-se até aos quatro”, defende. As suas aves também são mais saudáveis porque são alimentadas com frutas e legumes triturados, sementes e milho. “Isso reflecte-se na qualidade da carne e dos ovos”, acrescenta Bruno Jesus, que também faz incubação de ovos.
Este processo pode ocorrer ao natural, com as galinhas chocas e poedeiras, ou artificialmente, com recurso a chocadeiras em ambientes controlados. No método artificial, a temperatura deve rondar os 37,5 e os 37,7 graus e a humidade os 45% (excepto nos últimos três dias, em que a percentagem se estabelece nos 65%).
No futuro, Bruno Jesus gostava de conseguir vender os seus ovos biológicos na Praça da Fruta, levando também pintos em cestos de verga, e trajando-se à moda antiga, com uma boina, umas calças e uns suspensórios.