Casa do Pão de Ló de Alfeizerão está à beira de celebrar centenário

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Helena Castro mostra um dos produtos âncora deste negócio. A Casa do Pão de Ló foi fundada em 1925 e a actual gestão mantém-se desde 1994

Espaço foi fundado em 1925 e, como tal, está a assinalar o seu 95º aniversário. A empresa possui dois produtos-âncora e estuda uma estratégia que permita poder distribuí-los, casa a casa, em Lisboa.

Helena Castro está na gestão da Casa do Pão de Ló desde 1994. Esta empresa – que se encontra a celebrar o seu 95º aniversário – possui dois produtos-âncora: o pão de ló local e as empadas de galinha, que têm a particularidade de ser feitas com massa folhada. Há décadas que aquelas duas iguarias conquistam as mais variadas faixas etárias de clientes.
A tradição diz que a receita deste bolo tem origem no Mosteiro de Santa Maria de Coz, convento cisterciense feminino fundado no século XII por D. Fernando, abade de Alcobaça, a alguns quilómetros de Alcobaça. Aquando das perseguições às ordens religiosas e consequente encerramento do convento no início do séc. XIX, algumas freiras refugiaram-se em Alfeizerão e transmitiram a receita a senhoras da terra. Esta vila é também a terra natal do fidalgo Vitorino Froes, que era amigo do rei D. Carlos e que passava temporadas entre a quinta de Alfeizerão e uma casa em S. Martinho do Porto. Numa das vindas do rei, as senhoras da terra estavam a preparar a refeição e, com o nervosismo provocado pela visita real, deixaram a cozedura do pão de ló incompleta. Certo é que toda a gente adorou a nova versão do bolo que era feito sobretudo durante as festas e eventos religiosos.
Esta verdadeira iguaria – feita por ovos, farinha e açúcar – continua a conquistar gulosos de todo o mundo e são frequentes visitas de nacionais e de estrangeiros que vêm aprender a degustar e também a saber como se confecciona esta doçaria.

Empreendedorismo no feminino

Quem fundou a Casa do Pão de Ló foi o padre João Matos Vieira e a irmã, Adília Matos Vieira, tendo a receita nascido dentro dos mosteiros da zona de Alcobaça, assim como de vários doces conventuais que ainda hoje são confeccionados naquela casa.
“A sócia da empresa, com mais duas pessoas, era a D. Adília”, recorda Helena Castro, referindo-se à irmã do padre e notando que aquela casa comercial “é um exemplo de empreendedorismo feminino”.
Adília Matos Vieira, que não teve filhos, passou a gestão do Pão de Ló às sobrinhas, Ema e Elisa, ou seja, “houve sempre uma mulher à frente deste negócio”. E assim se mantém na actualidade.
Desde o início de actividade, a empresa possuía uma bomba da gasolina e muito do tráfego automóvel entre Lisboa e Porto parava na casa do Pão de Ló onde era possível “abastecer o carro e também forrar o estômago”, contou a responsável.
O edifício que acolhe a Casa do Pão de Ló data dos anos 1940 e chegou a ser um restaurante. O espaço, que é um salão de chá, possui mais de uma centena de lugares sentados. “Tivemos anos em que rodávamos as salas duas vezes à hora do lanche”, contou a empresária.
Em Alfeizerão há mais duas casas de Pão de Ló e já se tentou constituir uma associação para certificar o produto, mas ainda não houve entendimento que permitisse avançar para a criação de uma entidade. A empresa, fundada em 1925, integra a Confraria Gastronómica do Pão de Ló Tradicional.

Entregar casa a casa em Lisboa

A Casa do Pão de Ló tem actualmente nove funcionários e, durante a quarentena, a maioria esteve em lay-off. Sempre que possível, fizeram-se entregas dos seus produtos não só na região, como na capital.
A empresa aposta forte na distribuição em Lisboa “entregando nas casas dos clientes”, disse Helena Castro, acrescentando que é preciso encontrar novas estratégias para o negócio, após dois meses de paragem e de se ter perdido um importante período: a Páscoa.
Além do pão de Ló de Alfeizerão, esta casa está também a produzir o Pão-de-Ló do Mosteiro de Coz, um projecto feito em parceria entre a Casa do Pão de Ló de Alfeizerão e o Centro de Bem-Estar da freguesia de Coz, inserida no projecto Coz’Art, no sentido de recuperar a antiga receita das monjas que ocuparam o Mosteiro de Santa Maria de Coz.
“Um dos aspectos mais importantes são os nossos clientes”, disse Helena Castro, referindo que a Casa do Pão de Ló é frequentada por clientes de todo o país, que trazem os filhos e netos. Somam-se, também, vários funcionários que trabalham na empresa ao longo de várias décadas.