Luís Eusébio, o construtor de instrumentos de cordas

Na sua oficina, no Coto, Luís Eusébio dá os primeiros riscos num desenho do que será uma réplica de um violoncelo datado de 1840. É a primeira vez que faz este género de instrumento musical e estima que poderá estar concluído dentro de dois meses.
Mas se o violoncelo é uma novidade para este construtor de instrumentos musicais, o mesmo já não acontece com violinos e guitarras que são peças que está habituado a fazer e que já vende a músicos portugueses, espanhóis e até do Japão.
Modelista cerâmico de profissão há mais de 30 anos, Luís Eusébio sempre teve a música como passatempo. Toca gaita-de-foles e trompete e participa em algumas feiras medievais. Foi numa dessas feiras, em 2009, que conheceu o também construtor de instrumentos Orlando Trindade que o incentivou a criar um bandolim.
Luís Eusébio foi então à serralharia da sua terra Natal (A-da-Gorda) e pediu umas tábuas, muito secas, para começar a trabalhar, sempre com as dicas dadas por Orlando Trindade. O resultado final foi muito satisfatório. Para aumentar a dificuldade, propôs-se de seguida fazer um violino seguindo um livro da especialidade. “A obra foi testada, e aprovada, por um professor do Conservatório de Ferreira do Alentejo que depois me encomendou um”, recorda o autodidacta.
Seguiu-se uma guitarra folk para a filha que andava a aprender a tocar e algumas guitarras clássicas para encomendas que entretanto lhe surgiram. Pelo meio, e durante quase um ano, andou às voltas com um alaúde.
Durante todo este tempo, as reparações, restauros e novas criações foram feitas em part-time, mas desde o mês passado que Luís Eusébio deixou para trás definitivamente a área dos moldes para se dedicar às madeiras. “Despedi-me a 20 de Setembro e dois dias depois já estava a expor os meus trabalhos em Óbidos, durante o Folio. Fiz imensos contactos”, conta o criador de instrumentos que, entre os visitantes, contou com a presença de vários músicos e do Presidente da República.

Madeiras da Transilvânia

Com meia dúzia de encomendas pré-agendadas, Luís Eusébio tem agora em mãos a construção de dois violinos e um violoncelo, que serão depois experimentados por músicos profissionais da Orquestra Metropolitana de Lisboa. “Se gostarem vamos ver se surge alguma compra”, remata o construtor, que conta ter o violoncelo e um violino prontos até ao final do ano.
Um violoncelo poderá custar cerca de 7000 euros e um violino andará pelos 3000 euros, mas são resultado de meses de trabalho e de um investimento grande nas madeiras e materiais utilizados.
Um violino, por exemplo, é composto por mais de 80 peças, especifica Luís Eusébio, que nas suas criações não utiliza colas brancas, mas apenas grude, uma cola natural que se funde de tal maneira com as madeiras que parecem uma peça única. Em caso de necessidade de reparação, também permite a descolagem sem estragar.
Também as madeiras utilizadas no fabrico dos instrumentos são especiais. Para os de corda friccionada (tocado com arco), como é o caso dos violinos, viola de arco e violoncelos, usa o ácer, importado directamente da Roménia, das florestas da Transilvânia, “que é o de melhor qualidade”. Estas tábuas já vêm com alguns anos de secagem, mas Luís Eusébio ainda as mantém em depósito três a quatro anos para garantir que a madeira está mesmo seca quando a utiliza.
O construtor pretende especializar-se nos instrumentos de corda friccionada, como é o caso do violino, viola de arco e violoncelo. Mas, pelo meio, pretende também dar resposta a um novo desafio que lhe foi lançado: construir um cravo (instrumento de teclas e cordas, antepassado do piano).
O seu trabalho pode ser conhecido através do facebook: eusebiointrumentsmaker ou do perfil Luís Eusébio.