Loja da Maria ajuda a criar hortas em casa sem recurso a terra

Sabia que é possível cultivar alimentos sem solo, mas apenas com recurso a uma reduzida quantidade de água onde são colocados todos os nutrientes necessários? A isso chama-se hidroponia, uma técnica de cultivo que embora não seja recente começa a ganhar cada vez mais adeptos, seja em produções industriais, seja em produções de escala reduzida, para consumo doméstico.
Há nas Caldas da Rainha uma loja que há cerca de oito anos se dedica à agricultura biológica e onde se encontram todos os materiais necessários para que possa fazer da sua varanda, ou de um pequeno espaço numa das divisões de sua casa, uma “horta” com alfaces, tubérculos ou plantas aromáticas, entre muitas outras opções.
E ainda que a growshop Loja da Maria, no número 5 da Rua Heróis da Grande Guerra, possa passar despercebida aos mais distraídos que passam, muitos são os que reparam no verde dos alimentos ali cultivados.
Para cultivar com recurso à hidroponia não é preciso muito. O equipamento necessário depende dos alimentos pretendidos, e existe para todos os gostos. Desde um conjunto de pequenos vasos ideal para plantas aromáticas, com preços a partir dos 50 euros, a uma tenda onde se podem, por exemplo, produzir mais de 30 alfaces, cujo sistema completo já ultrapassa os 400 euros.Aos equipamentos juntam-se as sementes e os nutrientes a colocar na água que corre em circuito fechado, bem como as lâmpadas ideais para que os alimentos possam ser cultivados mesmo fora de época, quando a escassez de luz solar dificulta o crescimento das culturas. Com a hidroponia é ainda possível cultivar em qualquer lugar alimentos que não se dariam nos solos locais.
De acordo com o proprietário da loja, Paulo Santos, não obstante o investimento inicial implicado, este é um sistema “muito económico”, pois os equipamentos são reutilizáveis e os gastos de água e energia são reduzidos. “Compensa a longo prazo”, afiança.

As vantagens da hidroponia

Mas as vantagens da hidroponia não se ficam pelo que se pode poupar. O grande benefício de comer elementos hidropónicos é que estes têm apenas os nutrientes necessários, permitindo uma alimentação muito mais saudável. “Quando comemos uma planta hidropónica bem cultivada, já não tem nutriente lá dentro porque foram extraídos na última semana, na chamada lavagem das raízes”, quando é aplicada apenas água, ou uma solução para limpeza, no sistema de cultivo. Uma vantagem de que nem sempre beneficiam os hidropónicos de cultivo industrial, “em que não há essa semana de tolerância, porque o mercado não deixa”.
Além disso, a cultura hidropónica é muito mais amiga do ambiente que o cultivo tradicional. Não se utilizam produtos químicos e não há qualquer contaminação dos solos. “Não há nada de químico neste processo, todos os nutrientes que temos são de origem mineral ou biológica. Temos marcas certificadas como orgânicas”, garante o responsável.
Na hidroponia o ambiente em que se produzem os alimentos é controlado e as raízes respiram melhor do que se estivessem enterradas na terra, por isso o cultivo é muito mais rápido que na agricultura tradicional. Finalmente, “isto não dá trabalho nenhum, ao invés da cultura tradicional na terra que todos os dias tem que ser regada”.
Paulo Santos é peremptório: “na hidroponia é tudo controlado, é mais científico, mas o produto final é muito melhor para a saúde”.
Nascido no concelho de Alcobaça, Paulo Santos acompanhou o mundo da agricultura desde jovem. Há cerca de oito anos arriscou abrir nas Caldas um negócio dedicado à hidroponia e à agricultura biológica, trazendo para a região conhecimentos adquiridos além-fronteiras e técnicas que embora desconhecidas em Portugal, são muito usadas lá fora. Mas a Loja da Maria já extravasou há muito os limites da cidade, contando com estabelecimentos em Lisboa, Coimbra, Porto e Badajoz, o mais recente, aberto no início deste ano. “Estamos a expandir porque a Extremadura espanhola ainda não está muito desenvolvida neste aspecto”, diz.
“As pessoas estão a aderir, seja por questões económicas, seja por hobby. As pessoas gostam de ter ervas frescas em casa, cozinhar com produtos frescos, o resultado é completamente diferente”, afiança Paulo Santos. Mas a Loja da Maria também tem na sua lista de clientes produtores de larga escala, que começam a perceber as mais-valias da agricultura biológica e da hidroponia.
“Vendemos grandes sistemas e grandes volumes e já começam a aparecer algumas empresas na região a optarem por este sistema, sobretudo nas alfaces e no tomate. Acho muito bem, para não vir tudo de fora”, diz. E tanto a uns como a outros fica garantido o acompanhamento e aconselhamento necessário.
Em breve a growshop Loja da Maria conta lançar um projecto em parceria com alguns restaurantes locais. Se tudo correr como previsto, dentro de algum tempo poderão ver-se nos estabelecimentos de restauração os equipamentos de cultivo das ervas aromáticas usadas para os pratos, sumos e molhos.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt