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Construir um rádio com uma lata de conserva e contactar, através de código de morse, com outros rádios amadores parece uma tarefa complicada. Mas 17 alunos das escolas de Óbidos conseguiram fazê-lo em apenas uma manhã de trabalho.
O objectivo era estabelecer contacto com a Fragata D. Fernando II e Glória (que se encontra em Cacilhas), que não foi conseguido apesar dos esforços. No entanto, foram escutados na Alemanha e Reino Unido.
Tomás Cláudio, de 13 anos, tem um rádio novo e construído com as próprias mãos… e com a ajuda de alguns rádio amadores que se juntaram à iniciativa, que decorreu no Parque Tecnológico de Óbidos no passado dia 28 de Março. Com uma pilha, resistências, condensadores, transístores e mais alguns componentes devidamente ligados dentro de uma lata de atum, foi criado o rádio que depois de ligado à antena e a um equipamento de morse, permitia estabelecer contacto com outros utilizadores destes dispositivos.
“Isto é muito melhor que os telemóveis, posso usar em qualquer altura, vou experimentar com os meus amigos”, dizia o jovem, satisfeito com o novo objecto.
O passo seguinte à construção dos pequenos rádios foi a tentativa de comunicação com a Fragata D. Fernando II e Glória, que para este dia, activou os seus equipamentos de comunicação (contando, para o efeito, com a colaboração de radiotelegrafistas da Marinha Portuguesa). No entanto, o contacto não foi conseguido. “As condições de propagação [das ondas de rádio] têm andado alteradas”, explicou o rádio amador João Carlos Morgado, acrescentando que também os profissionais do navio tentaram contactá-los, mas não receberam o sinal. Apesar dessa falta de comunicação com a fragata, conseguiram comunicar com radioamadores em Espanha, Alemanha e Reino Unido.
João Carlos Morgado, do Entroncamento, é professor de Português e Francês e tem como passatempo o rádio amadorismo. Especialista em transmitir em código de Morse, diz que este código é relativamente fácil de aprender. “Dá trabalho, é preciso memorizar, decorar todos os caracteres de Morse, mas adquirindo alguma prática, transmite-se com facilidade”, explicou, acrescentando que esta forma de comunicação continua a ser utilizada, mas na maior parte dos casos, como apoio às tecnologias mais modernas.
Caldas tem “muitos radio amadores e bastante activos”
Há países, como o Japão, Estados Unidos, Alemanha e Itália, que possuem uma grande comunidade de radio amadores. Em Portugal existem à volta de 5000 radio amadores licenciados, um número que tem estabilizado, mesmo com o aparecimento da internet. “É nas ilhas dos Açores e da Madeira que têm o rácio mais elevado, devido ao isolamento”, explica o caldense António Matias, que tem este hobby desde os 16 anos.
De acordo com o também empresário no Parque Tecnológico de Óbidos, as Caldas sempre teve uma grande tradição nessa área, com muitos radio amadores e bastante activos.
Na sua opinião, estes acabam por ser a última linha de recurso numa situação de emergência e, em caso de catástrofe, conseguem manter contacto. Tal já aconteceu várias vezes em Portugal e António Matias dá um exemplo recente, de uma derrocada nos Açores em que uma povoação ficou isolada e o contacto com a população foi feito através do rádio amador. Por vezes, em caso de catástrofe, os telemóveis perdem o sinal por as antenas ficarem danificadas e esta alternativa revela-se como a única possível para estabelecer comunicação.
Esta actividade com os alunos das escolas de Óbidos insere-se no programa Férias Ativas da Páscoa, que se realizou pela primeira vez. Durante uma semana os participantes tiveram oportunidade de fazer canoagem, BTT, padle, volei de praia, ter aulas de surf e frequentar um workshop de alimentação saudável. Esta iniciativa foi o ponto de partida para o que o município de Óbidos pretende fazer no Verão, estando previstas duas a três semanas de actividades.
As latas-rádio – Fátima Ferreiras[/caption]
