E agora José?

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José Ramalho
ator & marionetista

“Temos de nos insurgir contra tudo o que está mal. É a isso que chamo insurreição.”
Frei Bento Domingues

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Na ordem do dia está o OE, acrónimo de Orçamento do Estado, no qual consta uma verba de 619,4 milhões de euros para a área da Cultura, correspondente a um aumento face ao ano anterior de 9,1%. Uau! TEMOS AUMENTO! E qualquer “aumentozinho, pá!” é sempre bem-vindo, dir-se-á por aí!
Sem escalpelizar a distribuição dos valores, para não maçar a malta, ficamos a saber que 86,7% das verbas disponíveis são para “despesa corrente, aquisição de bens e serviços e despesas com pessoal”. Em suma, este Orçamento para a Cultura continua a representar menos de 0,3% do OE.
Mas… há sempre um “mas”! E os montantes para o financiamento da criação artística? Tornam-se residuais? Inversamente desproporcionais? Não há práticas culturais do futuro sem produção contemporânea. Mesmo para os mais distraídos que preferem investimento no património cultural edificado, é bom lembrar que ao seu tempo, em cada época, esse património foi contemporâneo e resultou das vontades políticas e afins naquilo que usa dizer-se “financiamento das Artes”.
Há muito muito tempo que economistas, gestores culturais, políticos, artistas, reclamam o montante de 1% do OE para a área da Cultura em cada país, no território da Comunidade Europeia.
Esta meta, sendo simbólica, representa uma quantificação em valor, cujo impacto nas políticas culturais, pelo retorno em inúmeras áreas, superará em grande escala o investimento realizado.
Investir na Cultura é investir na Resistência, na Criatividade, na Massa Crítica, no Futuro.
Investir na Cultura é dotar os territórios de proximidade da acessibilidade aos bens artísticos na promoção da capacitação das populações.
Nas margens do Lago Léman, na Suíça, há duas cidades, Vevey e Montreux, internacionalmente conhecidas. A primeira, terra da sede da Nestlé e por Charlie Chaplin aí ter fixado residência e a segunda pelo Festival de Jazz e o de Televisão “Rosa de Ouro”. Estas cidades ricas, desenvolvem um programa conjunto das acções culturais complementando-se na oferta de manifestações artísticas e outros eventos visando a optimização de recursos, fundamental na boa gestão e no exercício das boas práticas, alargando a eficácia das suas políticas de investimento e promoção da Cultura.
No nosso território há dois municípios umbilicalmente e historicamente indissociáveis, que estão condenados ao sucesso, a exemplo dos suíços, se e quando desenvolverem uma estratégia conjunta das suas políticas de intervenção no tecido cultural.
Caldas da Rainha e Óbidos pelo trabalho que vêm desenvolvendo, só têm a ganhar nas parcerias que puderem realizar, ampliando, comunicando, transformando esta mancha do território num destino onde a oferta cultural ao serviço das populações locais atrai outros públicos, contribuindo para a qualificação da programação cultural. ■

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