Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT
“O Hospital Termal das Caldas da Rainha: A sua história, as suas águas, as suas curas”, impresso em 1930 na Sociedade Gráfica Editorial (Lisboa), tem como autores o diretor clínico António de Melo Ferrari, o médico adjunto Manuel de Melo Ferrari e o médico externo Fernando da Silva Correia. Da mão deste conjunto de privilegiados conhecedores do Hospital surge: 1) uma evolução histórica do estabelecimento; 2) uma descrição das “actuais termas” e do seu enquadramento, dos tratamentos aí realizados e do “futuro do balneário”; 3) uma listagem de casos clínicos, entre os quais se destacam, da autoria dos antigos médicos Henrique dos Santos Pinto e João Augusto de Melo Côrte Real, uma “auto-observação” e notas sobre “doenças de fígado” – textos que constam na sua forma manuscrita no arquivo Fernando da Silva Correia; 4) um “Guia do banhista” e 5) uma enumeração de individualidades e médicos que passaram pelo Hospital.
Numa leitura mais atenta, vislumbram-se dois públicos-alvo: a classe médica e o possível banhista. A classe médica é apontada por Fernando da Silva Correia, que considera que a ausência da Hidrologia nas universidades concorre para que as águas termais tenham “sido desdenhadas por muitos médicos”. Ao constituir um “mise-au-point do que se conhece sobre a acção das águas das Caldas”, esta obra pretende contrariar essa tendência e desmistificar crenças médicas “infantis”, sem, no entanto, procurar uma “exibição de bibliografia fácil”, que os autores consideram “ofensiva”, para os “clínicos” que já a conhecem. Entre as questões apresentadas à classe médica, vale a pena acrescentar a “terapêutica da dôr”, encarada por Fernando da Silva Correia como a resposta a um problema do “ponto de vista social”. Ao banhista está dedicada a parte final do livro, especialmente o “guia” elaborado em colaboração com António Montês, integrando a lógica regionalista (e talvez também propagandista) da época.
Através do arquivo pessoal e familiar Fernando da Silva Correia, identificam-se alguns médicos que conheceram esta obra: Nicolau de Bettencourt, diretor do Instituto Câmara Pestana e João Serras e Silva, Professor de Medicina em Coimbra, ambos frequentadores do Hospital; José Pereira Ferraz, da Associação de Caridade de Sintra; e os radiologistas Bénard Guedes, que em abril de 1931, a considera um “livro preciosíssimo para a história da crenoterapia portuguesa”, e Plácido Sánchez Carrión, que nela reconhece o lado de “publicista” do seu correspondente. A estes podem acrescentar-se o historiador Hernâni Cidade e o Real Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro), que recebeu também um exemplar.
Esta obra está em destaque na Biblioteca Municipal, não se esqueça de a consultar e de acompanhar esta mostra bibliográfica “Um ano com a obra de Fernando da Silva Correia: 12 livros sobre as Caldas da Rainha”. ■