A minha Avó sempre me leu histórias para adormecer. Ainda hoje, me recordo muito bem dos contos que ela contava, com a sua fantasia.
Mais tarde, quando já lia, verifiquei que alguns deles não eram bem iguais aos que a minha Avó me dizia, mas, era a sua interpretação criativa das histórias.
Por isso, aprendi que a realidade não tem só uma leitura.
Mesmo mais tarde, por razões profissionais, fui entendendo esse encanto, ou desencanto de uma mesma história ter várias versões.
Como se diz na gíria popular: “quem conta um conto, acrescenta um ponto”.
Ou então, como um amigo Juiz, de longa data, sempre me referiu: “todas as testemunhas mentem. O que temos é de perceber quem mente menos”.
Também, a versão do “copo meio cheio, ou meio vazio”.
Isto tudo a propósito de balanços que gostamos de fazer no final de cada ano.
Para uns, a realidade é meramente virtual e parece correr às mil maravilhas, mas para outros, o olhar é sempre crítico, e nada acontece.
Na nossa cidade, por vezes oscilamos entre uma realidade e outra.
Entre outros, e sem querer ser exaustivo…
O futuro da SECLA e a problemática de preservar a memória da cerâmica e da cidade.
A sempre adiada Festa da Cerâmica, verdadeiramente popular, e com a projecção e procura de um caminho para o futuro, e da integração e interacção com os ceramistas,
que vão fazendo obra meritória em concelhos limítrofes e que, por aqui, parecem um pouco esquecidos.
Mesmo novas gerações que vão surgindo e que são pouco divulgadas.
Onde está, numa Cidade da Cerâmica, uma verdadeira Casa da Cerâmica?
O sempre adiar da dignificação e alargamento do Museu da Cerâmica.
O Hospital Termal, Os Pavilhões do Parque, o futuro do Céu de Vidro e da Casa da Cultura, O Teatro da Rainha… A Praça do Peixe que vai morrendo, aos poucos.
Para quando, e ao fim de longos dez anos, um projecto para a Praça do Centro Cultural e de Congressos.
Um espaço privilegiado para animação de rua. Para se desfrutar da cidade.
E para quando um projecto para se tornar a cidade sustentável do ponto de vista ambiental. Uma cidade mais pensada para os peões. Para quando a saída dos carros do centro da cidade.
Não é preciso viajar muito para se entender que este, é hoje, um objectivo de muitas cidades.
Mas outros dirão, “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
E muito já se avançou.
Projectos existem. Só falta saírem do papel. E serem implementados.
Mas Caldas da Rainha muitas vezes parece uma “Bela Adormecida”, que ainda espera, que numa manhã de nevoeiro, surja qual Dom Sebastião, que a liberte deste marasmo.
Mas para outros, tudo está quase a acontecer.
Mas meus amigos, deixemos estes balanços, sempre discutíveis, e vamos ao que agora nos interessa.
Boas Festas e até para o ano.