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Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora
Na última sessão de Cinema no CCC, realizada na passada quarta-feira, 13 de novembro, foi exibido o filme Foragers, da realizadora Jumana Manna. Este documentário, cujo título em português significa “Recolectores” mergulha na vida de famílias palestinianas que mantém a tradição da recolha de plantas silvestres para a sua alimentação e fins medicinais, enfrentando perseguições e proibições impostas pelas autoridades israelitas. Enquanto isso, em território israelita, essas mesmas plantas são cultivadas industrialmente para venda no mercado árabe, evidenciando a exploração económica da natureza e as desigualdades do conflito.
O filme revela a agressividade do colonialismo, a apropriação cultural e a desconexão forçada de um povo com a sua terra, tradições, identidade e conhecimento ancestral. É um retrato profundo da resistência palestiniana e um alerta sobre a capitalização da natureza, que deveria ser um bem comum.
Antecedente ao filme, foi servido um jantar com comida típica da palestina no café-concerto do CCC, um jantar delicioso cozinhado pelo chef Hindi Musleh, desde o seu restaurante Zaytouna (Mercado de Arroios, Lisboa), permitindo aos presentes conectar-se com esta cultura e descobrir novos sabores, havendo igualmente momentos de reflexão e partilha.
A cultura portuguesa, semelhante à palestina, aprecia muito a sua comida, valorizando bastante momentos conjuntos em familia ou amigos em torno da mesa, com várias horas de longas conversas. No entanto, a cultura portuguesa, tem vindo a perder a sua conexão com a terra, sendo que, cada vez menos pessoas conhecem as plantas silvestres, as suas propriedades alimentares e medicinais, não fazendo estas parte da nossa alimentação e dos nossos pratos. Embora ainda celebremos a comida como parte essencial da nossa cultura, estamos cada vez mais afastados da origem e preparação dos alimentos que consumimos.
Após o filme, junto do meu amigo Hindi, um dos fundadores do movimento Palestina em Português, conduzimos uma sessão de perguntas, respostas e partilhas. Durante a conversa, discutimos a realidade do povo palestiniano, formas de ativismo e solidariedade, e destacamos o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) como uma ação concreta contra o apartheid e genocídio sofridos por este povo.
O filme deixou-nos a refletir sobre questões urgentes: como é possível existir tamanha injustiça contra um povo? Como chegámos ao ponto de capitalizar até os recursos que a natureza nos oferece gratuitamente? O direito de colher alimentos diretamente da terra, é agora criminalizado, alimentando um sistema de exploração e desconexão com o mundo natural que nos sustenta.
Este evento foi uma iniciativa dos coletivos Palestina em Português e Caldas Regenera, com o apoio de cidadãos caldenses sensibilizados pelo sofrimento do povo palestiniano, que acabaram por formar o grupo Palestina Livre Caldas. No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, é crucial lembrar o que significa a ausência de liberdade e os perigos do colonialismo e da opressão, não apenas para um povo, mas para toda a humanidade. Agradeço ao CCC por abrir as suas portas a este evento, a todos os que colaboraram para a sua realização e ao público que esgotou os lugares no jantar e na sala de cinema. Foi um momento de união, consciência e solidariedade.
Palestina Livre, hoje e sempre. ■
