Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – XXXIX

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Gazeta das Caldas
Isabel Castanheira

UM BALNEÁRIO PORTUGUÊS

Gazeta das Caldas
Um Balneário Português no fim do Século XV – Caldas da Rainha
Fernando da Silva Correia – 1928 | D.R.

“Um Balneário Português do fim do século XV (Caldas da Rainha)”, da autoria de Fernando da Silva Correia, foi publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, no ano de 1928, como separata de “O Instituto”, Vol. 75, nr.º 4, correspondendo à comunicação feita pelo autor no Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências de Coimbra.

Conduzidos pelas palavras do autor, convido-vos a visitar o “Balneário Português das Caldas da Rainha”:

“Vejamos o que foi no primitivo Hospital.

A Rainha D. Leonor, sempre preocupada com a realização das obras de Misericórdia, se principalmente construiu um Hospital-Balneário, único no seu género em todo o mundo, visto que nele podiam tratar-se gratuitamente (como ainda agora) doentes pobres de todo o país, tendo mantimentos durante o tempo da cura à custa do Hospital, ao lado do balneário construiu uma casa para os peregrinos que passavam pelo lugar, fez enfermarias de doenças gerais, e não esqueceu os males de espírito construindo também uma Igreja.

O Hospital era formado por um grupo de construções feitas sobre as nascentes de água termal, a oeste da igreja, que ainda atualmente se conserva.com algumas modificações.

A entrada principal era do lado da Praça da Vila, correspondente ao atual Largo D. Leonor. A porta era rendilhada em estilo manuelino, com as armas da Rainha. Junto da porta e à esquerda de quem olhava o Hospital, havia uma sineta, a «campa», que servia para chamar os empregados do Hospital ao seu serviço. Uma arcaria aguentava uma varanda, que dominava a frontaria do edifício de um e outro lado da porta. O corpo central das edificações era ocupado por enfermarias. À esquerda havia um edifício mais alto terminado por um alpendre com colunas, donde se avistava todo o balneário e o resto da vila. Esse alpendre ligava com a rouparia do Hospital e era continuado por aposentos de enfermeiro, médico, boticário, etc. À direita da porta da entrada, no extremo da fachada, era o Hospital dos peregrinos.

O interior do edifício era bastante complicado, devendo a sua irregularidade às várias casas que formavam o todo.

Logo depois de atravessar a porta principal entrava-se numa ampla sala, a copa, onde havia uma grande mesa que servia para distribuir as refeições aos doentes na presença da própria Rainha e, depois, dos seus provedores. Os enfermeiros levavam a comida às enfermarias, quando os doentes não podiam ir à copa.

Para a copa abriam duas portas ao fundo, a da esquerda com grades como as dos conventos e correspondendo à enfermaria das mulheres entrevadas, a da direita à dos homens nas mesmas condições. Ambas elas eram contiguas à igreja, podendo os doentes assistir aos ofícios divinos através dumas portas com rótulas.

Do lado norte da copa, junto da enfermaria das mulheres, ficava a piscina destas, e do lado correspondente, ao sul, a dos homens. Para a lado norte da piscina das mulheres era o «Banho da Rainha», onde a fundadora tomava os seus banhos.”

Em silêncio, retiramo-nos porque longe de nós incomodarmos a Rainha nos seus tratamentos…

Gazeta das Caldas
Frontaria do Hospital das Caldas como se achava em 18 de Março de 1747 | D.R.