CARLOS COUTINHO – o esteta Caldense
Corria o ano de 2017 quando o Caixa Negra entrevistou o Dr. Carlos Coutinho na Rádio. Foi uma entrevista conjunta que surgiu de um desafio feito ao Diretor dos Museus José Malhoa e da Cerâmica das Caldas da Rainha, Foi uma entrevista emotiva e de partilha de algumas histórias interessantes sobre o seu percurso.
Nuno Saldanha na sua tese de doutoramento sobre José Vital Branco Malhoa (1855-1933) fala-nos da história do pintor com Museu na nossa cidade, e revela o desafio que foi, depois de José Malhoa ir viver para Lisboa, conseguir fazer da sua arte o seu sustento. José Malhoa foi caixeiro de uma loja de chapéus durante algum tempo numa loja de um Tio, algo muito comum no tempo, quando ainda jovens milhares de crianças iam para a capital para trabalhar no comércio, e muitas vezes com sorte desbravavam a vida a trabalhar desde crianças. O lado interessante desta história, é que José Malhoa foi capaz de a pulso e depois de muitos projetos menos bem sucedidos, vingar no mundo da História da Arte Portuguesa e ser objeto de uma apreciação internacional que o coloca nos mercados das Antiguidades e Belas Artes como um dos pintores portugueses mais reconhecidos da história da pintura do século XIX em Portugal. Quis escrever esta crónica com um forte intuito motivacional. José Malhoa foi caixeiro sim, mas nunca deixou de perseguir o seu sonho, e foi só depois de concluir a sua formação na Academia Real de Belas Artes de Lisboa que conseguiu a pulso realizar o sonho que muitas vezes foi turvo, de conseguir viver da sua arte.
A Gazeta das Caldas, Ano 10, n.o 480, 27 Abr. 1935, p. 4. viria a publicar uma carta que fala de José Malhoa como uma referência das Belas Artes Nacionais e Internacionais, e que, ainda que nunca tenha conseguido fazer formação no estrangeiro tornou-se o pintor da portugalidade do Sec.XIX. É no primeiro Museu construído de raiz para receber uma obra de autor, que também se encontram recentemente acolhidas dois originais que pertenciam ao espólio do BES e que aos dias de hoje podem ser apreciados na sala Malhoa.
O edifício do Museu do Caldense, projeto de Paulino Montez tem uma história que se confunde com a própria história da cidade das Caldas da Rainha, sendo obrigatória a sua visita para poder ver, ainda que temporariamente “Os bebâdos” de 1907 recentemente chegado de Lisboa em 2016.
Falando do Dr. Carlos Coutinho, e depois deste enquadramento, parece-me de louvar que alguém que possa gerir este espólio, seja ele também fruto de um percurso que valoriza o que é a luta e a dedicação a uma causa nobre como a cultura, mas que acima de tudo entenda e tenha vivido dignamente o percurso de vida que custa a alguém que se dedica a uma causa artística, quero dizer que além da educação académica, possa ele também ser alguém de valores e sentimentos que dignificam este Museu. E se os há, estão eles na pessoa de Carlos Coutinho, na dedicação à causa publica, à multidisciplinaridade e ao estender a mão a todos aqueles que na comunidade desejam uma aproximação ao espaço do Museu, e o possam fazer com a generosidade à qual ele nos habituou.
O Dr. Carlos Coutinho como esteta que é, encontra-se no Museu José Malhoa a acolher projetos artísticos e criativos de toda uma comunidade que respira o espírito de Ser Caldense.
Mariana Calaça Baptista
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