O líder e as crenças sobre a gestão do tempo

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Gazeta das Caldas

Comecemos pelo princípio. O que significa liderar? Dar ordens, mostrar um caminho, decidir e fazer escolhas, inspirar? Ser líder implica tudo isto. No entanto, no caminho desse exercício, cada líder se confronta com dificuldades. Algumas, muitas – quase todas – decorrem de se tomar consciência de características pessoais que têm efeitos mais ou menos positivos nos outros e nas equipas.
Ser líder implica decidirem-se caminhos e, com isso, entender que nem todos os caminhos satisfazem toda a gente. Por isso, importa distinguir a liderança pelo princípio da semelhança e liderança pelo princípio da diversidade.
À partida, há uma tendência natural de nos aproximarmos de quem mais gostamos (rapport), ou seja, com quem “vamos `bola”. Mas essa via não é a melhor. Se optamos pelo exercício da liderança efetiva, há que saber percorrer – sobretudo, aprender – o caminho da diversidade.
Para isso, é fundamental o domínio da consciência e o desenvolvimento da nossa inteligência emocional – a capacidade de reconhecer e gerir as nossas emoções e as dos outros, procurando alcançar os melhores resultados possíveis numa determinada situação. A forma como eu me consciencializo dessas emoções determina a minha resposta, a minha atuação e, naturalmente, a minha comunicação. E a gestão emocional significa a vivência efetiva das experiências, bem como a sua capacidade de “digestão”. Gerir eficazmente é também utilizar o tempo eficazmente. De forma proactiva, não reativa.
Por exemplo, se eu reajo constantemente nas situações em que sinto posta em causa, isso é meio caminho andado para “perder controle” do desenrolar de uma conversação e é porventura a forma menos eficaz de alcançar resultados desejáveis. Por outro lado, muitas vezes nós não temos sequer consciência de que reagimos ou, quando a temos, já é tarde demais.
Liderar uma equipa é um caminho infinito em que boa parte dele é feita por via da auto-reflexão. Tempo. Tempo para gerir e digerir os acontecimentos contínuos no seio de uma equipa. Estratégia. Há tempo que precisa ser-lhe dedicado.
E grande parte deste caminho implica quebrar crenças, as nossas próprias crenças pessoais, que foram sendo formadas ao longo do nosso caminho com indivíduos e que, a maior parte delas nos escapa, do ponto de vista racional. Se você é uma pessoa com responsabilidades acrescidas na coordenação de uma equipa e considera ter pouco tempo para refletir e para se dedicar a estes temas, considere ler a lista de crenças irracionais – tantas vezes as ouvi! – que lhe apresento de seguida. Desejo, sinceramente, que não se reveja em nenhuma delas .

A maior parte das pessoas estão sobrecarregadas de trabalho por causa das suas funções;
O meu trabalho é específico e não está sujeito a padrões de tempo repetitivos;
A maior parte das actividades do dia-a-dia não podem ser planeadas;
A maior parte das pessoas pode resolver os seus problemas de tempo trabalhando mais;
O melhor lema no trabalho é: “se quero as coisas bem feitas, o melhor é fazê-las eu próprio”;
A maior parte das pessoas sabe como é gasto o seu tempo e pode facilmente identificar os seus maiores desperdiçadores de tempo;
O problema com a gestão do tempo está no facto de não permitir comportamentos espontâneos, vive-se e trabalha-se como um “robot”;
Para ser eficaz, não é preciso passar a escrito os meus objetivos.

Mara Castro Correia
Especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações