Os deputados municipais aprovaram, por unanimidade, uma moção de apoio à Câmara de Óbidos e subscrevem a queixa apresentada para apuramento de responsabilidades dos vários organismos estatais que emitiram licenças para o funcionamento dos aviários da Avarela. A decisão foi tomada na reunião de 29 de Junho, dominada em grande parte pelo problema da praga de moscas que assola o concelho.
Para o presidente da Câmara, Humberto Marques, não restam dúvidas que a causa deste problema são os aviários da Avarela e mostrou três pequenos filmes com larvas e moscas que o próprio gravou no telemóvel quando em 2013 foi visitar aqueles aviários. Por seu lado, Rita Sobreiro, responsável dos aviários, disse que diversas entidades têm validado os procedimentos que fazem para controlo de pragas, assumindo que há outros focos onde não há qualquer controlo.
Mais de 40 moradores, comerciantes e hoteleiros queixaram-se do problema e pediram que seja declarado “o estado de sítio” no concelho por considerarem estar em risco a saúde pública.
Mais de 40 pessoas foram à Assembleia de Óbidos para se queixar do excesso de moscas no concelho que, além do incómodo que provocam têm causado prejuízos na actividade dos hotéis e restaurantes locais.
José Patrício, da Associação de Moradores da Avarela, disse mesmo tratar-se de uma “calamidade pública” e sente que existe uma “total negligência das autoridades” em resolver o problema.
Foram também imperativos de saúde pública que levaram o munícipe Carlos Sá à reunião. O morador no Bairro da Senhora da Luz queixou-se de cheiros nauseabundos e de moscas e apontou como solução a declaração de “estado de sítio municipal”. Em sua opinião, a origem das moscas não estará só nos aviários da Avarela, mas também no lixo acumulado nos caixotes entre recolhas. “Que a Câmara aplique as coimas a quem tem que as aplicar”, disse, acrescentando ainda que os munícipes deviam de ser informados sobre o que se está a passar.
Outro munícipe, a residir na Quinta de S. José, no Senhor da Pedra, desde finais de 2015, diz que começou a aperceber-se da quantidade anormal de moscas em Fevereiro, mas que agora a situação tornou-se insuportável e um “problema grave de saúde pública”. A morar a cerca de 150 metros do primeiro bloco de cinco pavilhões do aviário, diz que as explicações dadas se contradizem quanto à causa do problema e refere que “são tantos responsáveis que ninguém é responsável”.
João Dinis sente-se lesado no investimento que fez na moradia e diz que se não forem tomadas medidas que controlem a situação, pretende ser indemnizado por perdas e danos. Caso não veja uma atitude concreta para resolver o problema, pondera também apelar ao Presidente da República, primeiro-ministro e presidente da Assembleia da República.
A Associação Empresarial do Concelho de Óbidos – Óbidos.com – tem recebido vários pedidos e reclamações relacionadas com o grande número de moscas. “Assiste-se a clientes que saem a meio da noite porque não podem continuar a dormir com moscas, ou outros que, nos restaurantes, têm que comer debaixo dos guardanapos e que acabam por sair sem pagar, assim como o cancelamento de reservas”, informou o presidente, Luís Cajão.
O responsável lembrou que os comerciantes estão a entrar na época alta, que é a mais importante para a economia local, e perguntou à Câmara que medidas pretende tomar para resolver o problema.
Paulo Cunha, director do Hotel Rainha Santa Isabel (dentro da vila) já sentiu na pele o descontentamento de clientes, uns que cancelaram as suas reservas e outros que apresentaram reclamação durante as refeições. Diz-se surpreso como é que há entidades que vão ao seu estabelecimento e, se alguma coisa não está em condições conseguem encerrá-lo na hora e, no caso dos aviários “que estão a provocar este aumento de moscas há três ou quatro anos, não se consegue fazer nada”.
A comerciante em Óbidos, Isabel Ribeiro, mora no concelho do Cadaval e diz que lá não há moscas. Corrobora da ideia de que a causa não deve ser apenas o aviário, mas também do estrume que é colocado nos campos.
“As pessoas vão-se embora, este é um problema que ultrapassa o limite do razoável há muito tempo”, sustentou.
Eduardo Firmino, em representação dos moradores da Avarela, voltou a pedir ajudar à Câmara e Assembleia para tentar resolver o problema do ruído, poeiras e explosões provenientes da pedreira ali existente.
Houve ainda moradores que pediram uma sessão de esclarecimento sobre o novo regulamento do trânsito e as ruturas de água na vila.
Aviários com “procedimentos validados”
Rita Sobreiro, sócia-fundadora e administradora para as áreas financeira e gestão de recursos humanos na Sociedade Avícola Avarela, empresa que explora os aviários de perus, referiu que a exploração tem sido visitada por diversas entidades que “validaram os procedimentos que fazemos em termos de controlo de pragas”. Salientou que, fazendo esta empresa os procedimentos necessários e se os problemas se mantêm, é porque “há outros focos de aparecimento de moscas onde não há qualquer tipo de controlo”.
A empresária propôs que se pedisse a uma entidade independente um estudo para avaliar a população de moscas nos concelhos da região Oeste, que percebesse a sua origem e que propusesse as medidas para a sua redução. Para acompanhar todos estes trabalhos “poder-se-ia criar um grupo de trabalho conjunto com todos os interessados”, concluiu.
Queixa à Inspecção Geral da Agricultura
Para o presidente da Câmara, Humberto Marques, não restam dúvidas que a causa das moscas são os aviários da Avarela. O autarca disse que também a CCDR corrobora desta opinião e mostrou três pequenos filmes com larvas e moscas que o próprio gravou no telemóvel quando em 2013 foi visitar aqueles aviários.
A Câmara vai apresentar uma queixa à IGAMAOT (Inspecção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território). Esta tem como visados a Direcção Regional de Agricultura (DRAP) e a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) porque a utilização de pavilhões que não estão legais representam uma violação do PDM em matéria de ordenamento do território.
“Estando debaixo da tutela da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) é a CCDR que tem a responsabilidade sobre essa matéria”, disse, acrescentando que a queixa visa também a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) porque passou uma licença ambiental quando se verifica que não tem condições para a ter.
Esta participação surge depois das duas entidades (CCDR-LVT e DRAP-LVT) terem feito uma visita conjunta aos aviários e depois emitirem relatórios contraditórios sobre o que viram. A CCDR-LVT refere no relatório que está a ser desenvolvida actividade em pavilhões que deviam de estar desactivados, verificando-se que a condicionante da Declaração de Impacte Ambiental (DIA) não está a ser cumprida. Refere ainda que das seis condicionantes apenas duas estão a ser cumpridas.
Já o documento da DRAP-LVT (entidade que tem a tutela do licenciamento e fiscalização da actividade), refere que a actividade se encontra a funcionar dentro das regras.
O presidente da Câmara tem também reunido com o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, que já lhe disse que considera tratar-se de um problema de dimensão nacional. O executivo vai aguardar os resultados da inspecção, mas se “não for exigido o cumprimento das medidas mínimas para o funcionamento em segurança, higiene, defesa da saúde pública e bem-estar das populações”, pretende “instaurar procedimento criminal contra as entidades competentes, a fim de apurar responsabilidades”, acrescentou.
Humberto Marques lembrou que o seu antecessor, Telmo Faria, há mais de uma década propôs ao promotor do aviário a sua deslocalização, que era de uso incompatível com a área existente. Nada foi feito e em 2007 voltaram a reunir para que fosse feito um controlo efectivo sobre as pragas.
“Era inevitável uma propagação e criatório de larvas de moscas como estava a acontecer”, disse, lembrando que o proprietário garantiu que iria tratar disso. Em 2009 e 2013 voltaram a existir surtos, sendo que o último só terminou porque “uma grande superfície de distribuição resolveu fazer boicote à compra desta carne até ter o assunto resolvido”, disse.
O autarca acrescentou ainda que até essa altura as entidades que coordenam e têm superintendência sobre esta matéria nada tinham feito. Garantiu que a empresa não o irá “afrontar ou chantagear com 150 funcionários à porta da Câmara ou ameaças de acções judiciais, como já fizeram no passado”.
Parecer desfavorável à expansão da pedreira
Relativamente à expansão da pedreira da Avarela, Humberto Marques deu a conhecer que o parecer para a emissão da DIA foi desfavorável. “Não há qualquer hipótese da expansão da pedreira”, disse o autarca, acrescentado que já pediu uma reunião ao secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches para ver in loco o local para onde se perspectivava a expansão e o impacto que esta iria ter na população.
Nesta reunião foi também apresentado o relatório preliminar da actividade da Comissão de Acompanhamento do Casal da Avarela, criada em Fevereiro e composta por um elemento de cada partido representado na Assembleia Municipal.
De acordo com o porta-voz, Rui Raposo (PCP), depois de ouvidas várias entidades, a comissão sugere que devem ser tomadas medidas junto do governo para que “a exploração da pedreira da Avarela cesse, no imediato, a actividade”.
No que respeita aos aviários, também na Avarela, a comissão não dá por concluído que estes sejam a única fonte de proliferação das moscas, considerando, no entanto, que possa ser “até a principal”. Deixou ainda como proposta à Assembleia, que aconselhe a autarquia a encetar diligências para encontrar soluções para a deslocação dos aviários para outro local do concelho.
Os deputados acabaram por aprovar, por unanimidade, a moção de apoio à Câmara, para subscrição da queixa apresentada à IGAMAOT para apurar responsabilidades das entidades estatais.
Oposição contra contas de 2015
As contas consolidadas da Câmara referentes ao ano de 2015, de 772 mil euros negativos, mereceram o voto contra da maioria dos deputados do PS e do PCP. Estas viriam a ser aprovadas pela maioria social-democrata. No ano anterior o resultado foi negativo em 2,2 milhões de euros.
De acordo com o documento, para este resultado líquido concorreram os resultados negativos do município e da Óbidos Criativa e o resultado positivo da Óbitec (entidade que gere o Parque Tecnológico).
O mesmo documento refere que, embora o resultado se mantenha negativo, registou-se uma recuperação de 66% face ao ano anterior e que se fosse considerado apenas a actividade operacional, os números seriam positivos.
Nesta reunião foi aprovado um voto de louvor à Associação Espeleológica de Óbidos pelo bom resultado obtido no torneio internacional de futebol.