Cerâmica caldense em destaque em revista britânica

0
652

Fd1-CristinaHortaFoi recentemente publicado na prestigiada revista britânica The Decorative Arts Society, o artigo Portuguese Ceramicist Manuel Mafra , nature, exoticism and luxury” da autoria da investigadora Cristina Horta, que recentemente se reformou do Museu de Cerâmica.
À Gazeta das Caldas a autora explicou que o seu texto foca “a personagem e obra de Manuel Mafra e a sua importância na obra de Rafael Bordalo Pinheiro”. Aborda igualmente “o cruzamento de influências entre a cerâmica de Caldas, em pleno século XIX, e a de vários países, a forma como se mantinha activa e conhecedora do que se fazia no estrangeiro. É extraordinário pensar em tudo o que fez naquela altura com tão poucos meios”, afirmou cristina Horta, autora de várias publicações sobre a cerâmica local.
Por causa da investigação que tem efectuado ao longo dos anos, surgiu o convite, por parte da conservadora da secção de cerâmica artística do Victoria & Albert Museum de Londres, para que Cristina Horta a ajudasse a “classificar cinco peças do seu acervo, assinadas e atribuídas a Manuel Mafra”.
O resultado desse estudo seria publicado na Revista Artis, do Instituto de Arte da Faculdade de Letras de Lisboa e foi na sequência desses contactos surgiu então a oportunidade de escrever o artigo – que tem 20 páginas –  para a The Decorative Arts Society. A investigadora foi também convidada a integrar aquela sociedade.
A autora do artigo diz que no seu texto “há factos e reflexões novos que resultam dos anos de contacto com esta cerâmica e de todas as interrogações que se foram levantando ao longo do tempo e da tentativa de lhes dar resposta”, disse. Para Cristina Horta, a produção de Manuel Mafra era “um verdadeiro comércio de luxo surgido num meio que se poderia considerar rural, e que chegou às casas reais e elites”.
Para a investigadora, porém, há ainda muito a dizer sobre esta cerâmica, “ligada às correntes internacionais da altura, prolongando uma sensibilidade romântica tardia”, mas que ainda assim “manteve sempre características da cerâmica tradicional  local, bem como da memória histórica das Caldas da Rainha”.

Internacionalizar a cerâmica caldense

Há dois anos Cristina Horta já tinha estado no Rio de Janeiro (Brasil) a apresentar uma conferência no Museu da Republica, sobre a cerâmica de Caldas da Rainha e as suas ligações com o Brasil. Este colóquio esteve integrado no âmbito dos encontros Brasil – Portugal. Cristina Horta reformou-se recentemente do Museu de Cerâmica, entidade que chegou a dirigir antes de Matilde Couto. Está ainda a terminar o seu doutoramento, também na área da cerâmica local, tendo o  seu mestrado sido feito na área da azulejaria do concelho das Caldas. Só depois desse trabalhou exaustivo, decidiu passar a dedicar-se à cerâmica tridimensional. ”Gosto de mudar e tenho muitas pistas, mais do que poderei efectivamente cumprir, mas conto deitar mãos à obra e sobretudo sentir que estou a dar o meu contributo, para a história local e para a terra que me acolheu”, afirmou.
Questionada pela Gazeta das Caldas sobre o momento actual que vive o sector da cerâmica nesta região, Cristina Horta considera que se vive “uma fase de mudança de paradigma e que nada mais será o mesmo”. No âmbito fabril “mantém-se a Fábrica Bordalo Pinheiro Pinheiro, em moldes adaptados aos novos tempos e a exigências comerciais, e a Fábrica Molde com o perfil inovador que sempre a caracterizou”.
De resto, manifesta que tem esperança nos jovens talentos que  dão continuidade e inovação à obra dos consagrados. E cita alguns nomes como Bolota, Mário Reis, Carlos Enxuto, Ana Sobral e ainda Sónia Borga e Vítor Santos. A última dupla viu o seu trabalho ser premiado na última edição da Bienal de Aveiro. “Estes, e muitos outros autores, persistem em manter a cerâmica viva”, disse Cristina Horta. A autora promete continuar a dedicar-se ao estudo da cerâmica das Caldas que classifica como “essa ainda magnífica desconhecida” e vê a investigação como uma missão a que pretende dar continuidade. “A cerâmica das Caldas do século XIX correu mundo e, se a queremos conhecer, temos de ir atrás dela”, disse.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt