José Santos
professor
Eu nasci a 3 de maio de 1975, não vivi o 25 de abril. Não vivi a ditadura, não passei pela pobreza, pela censura, pela PIDE, pela falta de liberdade de expressão, pela não existência de democracia, pela fome, pelas guerras ultramarinas, por tudo o que é associado ao pré-25 de abril.
No entanto, apesar de não ter passado por isso tudo, cresci a ouvir histórias sobre esses tempos. Histórias de sapatos que passavam de irmãos para irmãos, de crianças que iam de manhã pedir café aos vizinhos, de unimogues e minas nas ex-colónias.
Depois, à medida que fui ficando mais velho, tive oportunidade de ler sobre a madrugada de 24 para 25 de abril, sobre o derrube do regime de Salazar e de Caetano, sobre o erguer do povo para se revoltar contra a guerra, a emigração (muitas vezes forçada), a pobreza, a fome, a censura. Tive a oportunidade de ver as fotografias de Salgueiro Maia e dos militares de abril, de ouvir “Grândola, vila Morena” e de compreender a importância que esta data teve nas nossas vidas.
E hoje, num contexto em que a informação se quer cada vez mais rápida, mais fácil e mais apetecível; nós, as gerações do pós-25 de abril, nós, os filhos da revolução; de informar, de passar a mensagem, de mostrar às gerações mais novas a importância da data.
Também na educação, o 25 de abril trouxe uma série de alterações que hoje parecem impossíveis de acreditar: as turmas mistas, as aulas distribuídas ao longo do dia, os cadernos e os lápis em detrimento das lousas com ponteiros, os manuais escolares que deixaram de ser iguais em todo o país e repletos de propaganda do regime e passaram a ser escolhidos pelos professores, entre tantas outras dignas de relevo.
Mas, a maior das conquistas educacionais do pós-25 de abril foi, sem dúvida, o abandono do elitismo na educação, o aparecimento da igualdade (…a equidade será um conceito muito mais recente), o final da distinção entre os poucos que continuavam a ter o privilégio de continuar estudos e o facto de todos nós podermos continuar a beneficiar de educação.
No fundo, nós que não vivemos o 25 de abril, temos muito por que agradecer a todos aqueles que perderam a vida durante o tempo da ditadura, àqueles que foram presos, àqueles que emigraram, que tiveram de exilar, aos nossos avós, aos nossos pais, a todos os que contribuíram para que hoje tenhamos acesso à realidade que temos, para que hoje possamos falar livremente, contestar o que está mal, dialogar e votar.
Temos de agradecer e respeitar o legado que nos foi deixado. Temos de viver abril sempre! ■