UMA LAGOA EM PERIGO DE VIDA
Hoje pegamos num curiosa brochura que é um extrato do Tomo XI das «Comunicações do Serviço Geológico de Portugal”, intitulado “A Lagoa de Óbidos”, da autoria de Albert A. Girad, e publicado em 1915. É uma publicação póstuma, na qual está integrada uma detalhada planta hidrográfica, e cuja edição é da responsabilidade do Serviço Geológico de Portugal, impresso na Imprensa da Universidade de Coimbra.
A sua leitura permite-nos ficar a conhecer melhor a lagoa que todos nós tanto apreciamos.
Passo a transcrever:
”A Lagoa não teve sempre o caracter oceanográfico que hoje apresenta. Tem-no modificado, por um lado os açoriamentos, embora pouco pronunciados, por ser pouco torrencial a corrente dos ribeiros que nela desaguam, e por outro lado e principalmente a invasão das areais, umas de dunas que a têm ido açoriando, outras de transporte litoral que o embate das ondas têm ido acumulando.
É sabido que no braço externo chamado do «Bom Sucesso» existiu em tempos históricos um grande banco de ostras «Ostrea edulis» hoje totalmente extinto, e em épocas remotas e como pode atestar o regímen salgado de toda a bacia, uma colina em frente a Óbidos e próximo da lagoa os habitantes foram-se acumulando grandes quantidades de cascas de ostras, deixando assim um verdadeiro «kioek-kenmoedding».
Atualmente e perto da sua foz, encontra-se na Lagoa um grande banco, que, por assim dizer, torna a Lagoa em comunicação com um canal «Verga» que começa a ser definido próximo ao preamar.
Às vezes o transporte pelas ondas vai acumulando as areias na entrada deste canal e obstruindo-o, transforma a lagoa ou antes ria numa verdadeira Lagoa interior, análoga, como dissemos, a uma Lagoa interior das dunas.
Posto isto, fácil é compreender o regímen variável a que a Lagoa está sujeita. O fluxo da maré introduz nela uma massa de água tal que por não existirem cursos de água importantes mantém nela um regime salgado. Ao passo, porém, que a amplitude da maré na costa pode atingir 3,60 m., vê-se pelo exame rápido dos cordões litorais que na Lagoa a amplitude não excede 1 (um) metro. Que isto dizer que o canal de alimentação da Lagoa é insuficiente para trazer a toda ela a vitalidade salina que a comunicação com o mar poderia imprimir.
Não há renovação completa da água na Lagoa. Conserva-se, e existe, a densidade da água salgada pura ou quase pura, mas os outros caracteres da temperatura e da fauna propriamente oceânicas não se propagam na totalidade da Lagoa.”
Com a leitura deste texto ficamos a conhecer melhor a Lagoa. E nada nos tira o prazer de caminhar ao longo das suas margens ou mergulhar nas suas águas, apesar de para meu gosto, serem um bocadito frias de mais…