Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – LXVI

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Gazeta das Caldas
Isabel Castanheira

UMA LAGOA EM PERIGO DE VIDA

Gazeta das Caldas
A Lagoa de Óbidos – Alberto A. Girard – 1915

Hoje pegamos num curiosa brochura que é um extrato do Tomo XI das «Comunicações do Serviço Geológico de Portugal”, intitulado “A Lagoa de Óbidos”, da autoria de Albert A. Girad, e publicado em 1915. É uma publicação póstuma, na qual está integrada uma detalhada planta hidrográfica, e cuja edição é da responsabilidade do Serviço Geológico de Portugal, impresso na Imprensa da Universidade de Coimbra.
A sua leitura permite-nos ficar a conhecer melhor a lagoa que todos nós tanto apreciamos.
Passo a transcrever:
”A Lagoa não teve sempre o caracter oceanográfico que hoje apresenta. Tem-no modificado, por um lado os açoriamentos, embora pouco pronunciados, por ser pouco torrencial a corrente dos ribeiros que nela desaguam, e por outro lado e principalmente a invasão das areais, umas de dunas que a têm ido açoriando, outras de transporte litoral que o embate das ondas têm ido acumulando.
É sabido que no braço externo chamado do «Bom Sucesso» existiu em tempos históricos um grande banco de ostras «Ostrea edulis» hoje totalmente extinto, e em épocas remotas e como pode atestar o regímen salgado de toda a bacia, uma colina em frente a Óbidos e próximo da lagoa os habitantes foram-se acumulando grandes quantidades de cascas de ostras, deixando assim um verdadeiro «kioek-kenmoedding».
Atualmente e perto da sua foz, encontra-se na Lagoa um grande banco, que, por assim dizer, torna a Lagoa em comunicação com um canal «Verga» que começa a ser definido próximo ao preamar.
Às vezes o transporte pelas ondas vai acumulando as areias na entrada deste canal e obstruindo-o, transforma a lagoa ou antes ria numa verdadeira Lagoa interior, análoga, como dissemos, a uma Lagoa interior das dunas.
Posto isto, fácil é compreender o regímen variável a que a Lagoa está sujeita. O fluxo da maré introduz nela uma massa de água tal que por não existirem cursos de água importantes mantém nela um regime salgado. Ao passo, porém, que a amplitude da maré na costa pode atingir 3,60 m., vê-se pelo exame rápido dos cordões litorais que na Lagoa a amplitude não excede 1 (um) metro. Que isto dizer que o canal de alimentação da Lagoa é insuficiente para trazer a toda ela a vitalidade salina que a comunicação com o mar poderia imprimir.
Não há renovação completa da água na Lagoa. Conserva-se, e existe, a densidade da água salgada pura ou quase pura, mas os outros caracteres da temperatura e da fauna propriamente oceânicas não se propagam na totalidade da Lagoa.”
Com a leitura deste texto ficamos a conhecer melhor a Lagoa. E nada nos tira o prazer de caminhar ao longo das suas margens ou mergulhar nas suas águas, apesar de para meu gosto, serem um bocadito frias de mais…

Gazeta das Caldas
Planta Hidrográfica da Lagoa de Óbidos