Com um calor destes…

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O título raramente se aplica à zona das Caldas. Tenho amigos e conhecidos, pelo Alentejo dentro, que “aproveitam” as altas temperaturas que os atormentam e vão uma semaninha às Caldas, para refrescar…
Serve, no entanto, de introdução a uma crónica fresquita, agora que, mesmo em Espanha, as horchatas quase só se encontram na Comunidade Valenciana e as nossas carapinhadas foram corrompidas por uns granizados de cores garridas.
Vamos devagar. As horchatas mais conhecidas são as chufas, produzidas com água, açúcar e os tubérculos da junça, muito parecida com o junco.
São servidas geladas, como um suco. De aspecto leitoso, é quase  um “leite vegetal”, rico em amido, gorduras, açúcar e proteínas.
A junça também é boa para curar doenças do estômago, caso em que deve usar-se 1 litro de água e 30 gramas de raízes, ferver 2 minutos e deixar em infusão durante 10 minutos. Deve ser bebida no fim de cada refeição, pelo menos duas vezes por  dia.
Em termos de refrescos há que recordar o de groselha, de capilé, salsa parrilha, ou os mazagran e os cafés com gelo, os últimos também muito do agrado dos nossos vizinhos espanhois.
Isto das “calorinas” é mesmo um sarilho. Em miúdo, passava algum tempo de férias em Ferreira do Zêzere, em casa de amigos da família e foi lá (ou em Tomar!) que soube o que era um whisky “saloio”, ou seja uma bebida em que é utilizado o brandy – na altura o da Macieira – levando o gelo e a Água do Castelo, de Pizões, Moura, se “com picos”.
Numa tarde de muito calor em Tomar (é o tema de hoje) entrei no café frequentado pelas pessoas de maior importância social (quase só homens) e presenciei uma cena que ainda hoje recordo.
Nessa noite actuava no teatro (seria o Cine-Paraíso?) uma companhia brasileira, cujo elenco feminino punha a cabeça à roda aos pacatos nabantinos, que ao saber da sua presença, se precipitavam para o café, o Central se a memória não me atraiçoa, para observar as vistosas artistas! O encanto que a mulher brasileira provoca, geralmente, na minha espécie é bem anterior à passagem da primeira versão da Gabriela, ainda a preto e branco, na RTP…
A revista, anunciavam os cartazes, chamava-se “Há fogo no pandeiro” e trouxe a Portugal nomes famosos e “vistosos” do teatro brasileiro.
A certa altura, para espanto de todos, ou quase, uma das artistas pediu um batido de leite com cerveja, porque “estava um calor danado”! Ao menos eu fiquei boqueaberto, de espanto.
Parece que a digressão foi um êxito estrondoso. Berta Loran, uma das actrizes de maior sucesso ainda ficou por cá largo tempo, gozando de enorme popularidade
Memórias que o calor me traz …até de anedotas!
Escrevia, a abrir este artigo, que o calor, nesta altura, incomoda os alentejanos.
E é o que sucede, do lado de lá da fronteira, seja na Estremadura, seja na Andaluzia.
A anedota: dois de “nuestros hermanos” morreram no mesmo dia e “baixaram”, juntos, ao inferno. Diz um ao outro, ao aproximarem-se: “já viste o calor que está! Coitadas das nossas mulheres, lá em Sevilha!
Aproveitem o fresco do Parque D. Carlos.

joaoreboredo@gmail.com