Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – XLIV

0
560
Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha Heinrich Friedrich Link - 2005 | D.R.

UM NATURALISTA DE VISITA A PORTUGAL

Heinrich Friedrich Link, (1767-1851) de nacionalidade alemã, professor de Zoologia, Botânica e Química, acompanhado do Conde J. Centurius von Hoffmansegg, visitou Portugal com a missão de estudar exaustivamente a fauna e a flora portuguesas.

Regressado à sua terra publicou 2 volumes com o resultado das suas observações e estudos científicos, assim como também deu à estampa o relato da sua viagem por terras lusas.

Em 2005, a Biblioteca Nacional, editou pela primeira em tradução portuguesa esse texto, com o título de “Notas de uma Viagem a Portugal e através de França e Espanha”.

H. Friedrich Link, entrou em Portugal por Elvas, passou por Estremoz, Arraiolos Montemor o Novo, charnecas do Alentejo, Lisboa, arredores de Lisboa, Queluz, Sintra, Setúbal, Alcácer do Sal, Grândola, serra da Arrábida, Setúbal e em Maio de 1978 caminhou de Lisboa para Torres Vedras e seguiu depois para Caldas da Rainha, que assim descreveu:

“A uma légua de Óbidos encontra-se a cidadezinha das Caldas, local muito conhecido e frequentado por causa dos seus banhos sulfurosos. A cidadezinha é pequena, construída num quadrado irregular, mas está em constante crescimento. As casas, habitualmente construídas por um piso térreo, são pequenas e só poucas têm janelas. O chão é em quase todas as salas muito mau e quem quiser ter outro mobiliário, que são péssimas cadeiras e mesas de madeira, tem de o trazer consigo. O mesmo acontece aliás em relação às camas, ao serviço e roupas de mesa e outras necessidades. Em suma, ali uma pessoa tem de conseguir governar-se assim. A estalagem só tem capacidade para acolher algumas pessoas e em Inglaterra e França seria apelidada de miserável, apesar de neste país ser ainda considerado tolerável. Os banhistas moram invariavelmente em casas particulares. Tal é o acolhimento que os ricos comerciantes e a alta nobreza de Lisboa encontram-se para aqui passarem as duas épocas termais, a primeira em Maio e a segunda em Setembro. Como era de prever não vale sequer a pena pensar em divertimentos, bailes, concertos ou espetáculos. Quem quiser ter coisas deste género nas estâncias portuguesas tem de as organizar ele próprio. Fazem-se visitas, toma-se chá em sociedade, joga-se, quanto muito realizam-se pequenas excursões recreativas a terras nas proximidades, e quanto a passatempos é tudo. É aliás de bom-tom ir para as Caldas, passando-se os dias quentes em Sintra e viaja-se dali para as Caldas, daí que a sociedade seja muito vezes mais esplendorosa no Outono do que na Primavera.

No meio da terra, por cima de fontes quentes, encontra-se um belo e espaçoso balneário, edificado no último reinado. Mesmo ao lado está um hospital para doentes pobres. Para além da fonte de água potável há ainda outras três, que fornecem a água a quatro banhos. O banho para os homens tem o comprimento de 36 pés, a largura de nove pés e dois pés e oito polegadas de profundidade, o chão está coberto por argila branca e areia lavada.

Uma pessoa despe-se por detrás de um cortinado, veste as roupas do banho e senta-se então no chão, com a água a dar pelo pescoço. Muitas vezes estão 12 pessoas de uma vez no banho. Embora a água esteja permanentemente a correr, a verdade é que apesar de tudo é desagradável ter de tomar banho acompanhado e ainda mais desagradável se torna quando se apanha a água por último, água essa que já lavou os outros. É igualmente desagradável que seja permitida a entrada a estranhos. Não se paga nada pelo banho, apenas se dá no fim uma gorjeta aos criados. Os pobres e as pessoas de condição mais baixa só se podem banhar por volta do meio-dia, depois de os outros terem terminado. Os restantes banhos, também os apropriados para mulheres, estão dispostos de uma forma semelhante, só que a água nos banhos dos homens é a mais quente e a mais forte, uma vez que tem entre 92 e 93.º Fahrenheit (entre 26 e 27 Réaumur). A água de todas as fontes conflui e aciona um moinho perto do balneário.

[caption id="attachment_113595" align="aligncenter" width="266"]Heinrich Friedrich Link | D.R. Heinrich Friedrich Link | D.R.[/caption]

Assim que se entra no balneário chega-se a um grande vestíbulo que serve para passear depois do banho e que geralmente está cheio de gente que com muita impetuosidade anda de um lado para o outro. Aqui encontra-se também uma farmácia e como pano de fundo a fonte de água mineral cuja temperatura é de 91.º Fahrenheit.”

Vou fazer uma pausa para beber um copinho…