A CARTA DA RAINHA
Que tem (ou não?) a capa desta publicação que chama a nossa atenção? Não tem nome, não tem data de publicação, não tem responsável; nada tem a não ser a figura da Rainha D. Leonor, de mãos postas em oração. Será que está a pedir a Deus desculpa pelo lapso informativo que não nos permite num primeiro olhar identificar este número especial comemorativo do V Centenário do Nascimento da Rainha D. Leonor, publicado em 1958, da responsabilidade da Gazeta das Caldas?
Os dados indicativos da publicação surgem após 8 páginas de anúncios.
Na página 16, num artigo intitulado “O Culto da Rainha D. Leonor”, assinado pelo Dr. Fernando Correia, é-nos dada ler uma curiosa “carta da Rainha D. Leonor à Câmara Municipal do Porto pedindo para esta ceder pão para os pobres das Caldas e Óbidos.”
Passamos a transcreve-la:
“- Juízes, Vereadores, Procurador e Homens bons da nossa mui nobre e sempre leal cidade do Porto. Nós a Rainha vos enviamos muito saudar.
Esta nossa vila de Óbidos em que hora estamos aposentada, e assim sua comarca, está muito desfalecida e minguada de pão; e porque nós esperamos, com a graça de Deus, estar aqui o tempo que o Nosso Senhor prouver, e é-nos muito necessário havermos pão – principalmente para mantença dos pobres e enfermos que se ora daqui àvante hão-de vir curar aos banhos e Hospital de Nossa Senhora do Pópulo, situada na nossa vila das Caldas, onde Deus querendo, por alguns dias esperamos estar, confiando nós, de vossas bondades e virtudes, que a isto com todas vossas possibilidades nos socorrereis, propusemos sobre isto escrever, rogando-vos muito que vos praza deixardes tirar para nós e para o que dito é, dessa comarca, 30 moios de trigo, entrando nesta soma algum centeio e milho, o qual pão encomendamos a Nicolau Nogueira e João Anes, moradores em Matozinhos, que no-lo trouxessem ao porto da nossa Vila de Selir, e assim 300 ou 400 galinhas para os ditos enfermos, os quais hão-de trazer vossa certidão de todo o pão que dela trouxerem por seu juramento que tudo tragam ao dito porto de Selir, querendo que de o assim fazerdes vo-lo agradeceremos muito e teremos em grande serviço.
Escrita em a dita Vila de Óbidos a 8 de Março, Francisco Fernandes a fez. Ano do Sr. de 1506.”
Rainha
Resta-me uma dúvida: a Câmara Municipal do Porto respondeu à Rainha, satisfazendo o seu pedido? Quem saiba que o diga…