Duche Gelado

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José Luiz de Almeida Silva

Se há coisa que nos invadiu nos últimos dias foi um fenómeno de espanto e de quase incredulidade.
O mundo não está bem e conflitos muito mais graves (guerras abertas) lavram em regiões críticas, bem como os desafios do mundo em relação às alterações climáticas e novas pandemias, pelo que novas crises, especialmente no nosso país, não eram desejadas.
Na passada semana o desencadear de uma operação policial/judicial deixou o país perplexo e sob choque. Uma alusão ao primeiro-ministro, em pé de página de um comunicado da PGR, deitou abaixo o governo de maioria absoluta antes de atingir metade do mandato.
Mas se algumas destas questões pareciam ter algum racional, uma semana depois, quando da apresentação do processo e dos investigados ao Juiz de Instrução Criminal, tudo isto cai por terra por falta de indícios sólidos e consistentes que possam sustentar a acusação.
É histórico no nosso país dizer-se que se criam dificuldades (muitas vezes apenas burocráticas) para se poderem «vender» facilidades e, no caso presente, alegadamente apenas foram apuradas umas refeições, nem muito principescas, para “forçar” ou simplificar as decisões.
Afinal estamos perante casos de “tráficos de influências”, num português mais direto e popular, de cunhas, afinal o célebre mal com que os portugueses vivem desde sempre, para as mais variadas situações, mesmo algumas que nada têm necessidade disso.
Não sei se muitos dos que falam e acusam com gravidade deste “pecado” nacional têm autoridade moral para o fazer e se no dia a seguir não irão fazer aquilo que antes criticaram.
Temo que o “duche gelado” que os portugueses sofreram não seja mau conselheiro para o futuro próximo. Ouso esperar que não. ■