O Presidente

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Mais um 15 de Maio está à porta e, este ano, não é só “mais um 15 de Maio”. Não me refiro ao facto de estarem já concluídas a maioria das obras da regeneração urbana, que nos permitem ter uma cidade mais funcional, amiga das pessoas e atrativa; tão pouco o menciono por já se perspetivar uma nova era para o termalismo caldense, com o impulso económico que pode alavancar para a cidade e região. Na verdade, para efeitos de uma análise mais política, o 15 de Maio deste ano é de particular importância porque já passou o tempo suficiente para, depois de tantos anos com o mesmo Presidente da Câmara, podermos avaliar a nova liderança da autarquia.
A troca do “chefe de equipa”, mesmo que no essencial a equipa se mantenha, traduz sempre um novo estilo, acalenta novas esperanças mas também provoca alguns receios. Quem tem de substituir um líder de décadas poderá ter sempre a dificuldade de sacudir a sombra desse líder. Quando o substituído foi líder durante décadas por ter ganho sucessivas eleições democráticas, a tarefa ainda se apresenta como mais complicada. Quando a saída do líder anterior ocorre mais por imposição legal do que por vontade do próprio ou da população, então o resultado pode ser catastrófico.
Foi nestas circunstâncias que Tinta Ferreira assumiu a presidência da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Depois dum longo e popularmente aclamado “reinado” de Fernando Costa, o actual Presidente comprometeu-se com uma Nova Dinâmica (conforme diziam os cartazes). A sua missão não era fácil: tinha de continuar a obra do seu antecessor, uma vez que, como várias eleições o haviam demonstrado, era isso que a população queria, mas tinha de mostrar que era capaz de encontrar o seu estilo próprio, a sua capacidade de impulsionar a prometida Nova Dinâmica. Estando quase a meio do seu mandato, já podemos fazer, neste 15 de Maio, uma avaliação sobre o novo Presidente.
Quanto à obra e ao rigor sempre tão elogiados durante os mandatos de Fernando Costa, o Presidente Tinta Ferreira em nada ficou atrás, podendo até dizer-se que pontualmente superou o seu antecessor. Vejam-se dois exemplos: nos dois anos finais do anterior executivo, realizaram-se cerca de um terço das obras da regeneração urbana, enquanto que, em ano e meio do atual mandato, foram concluídos os restantes dois terços das obras; por outro lado, os orçamentos camarários são agora elogiados por praticamente todo o espetro político caldense pelo rigor e realismo das contas.
Quanto ao fugir da sombra de Fernando Costa, o actual presidente tem adotado a posição inteligente de afirmar-se pela positiva sem nenhuma necessidade edipiana de “matar o pai”. É inteligente porque coloca os interesses das Caldas e dos caldenses à frente dos seus próprios. Na construção do seu futuro político, muitos vaticinavam a necessidade que Tinta Ferreira iria ter de afastar para bem longe a sombra de Fernando Costa. Mas a verdade é que Fernando Costa, pela experiência que acumulou, pelos contactos que tem e pela sagacidade que lhe é reconhecida, pode ser, e certamente será, ainda muito útil às Caldas da Rainha. Excluir Fernando Costa do futuro das Caldas poderia ser, apenas numa perspetiva taticista, útil a Tinta Ferreira mas seria, certamente, prejudicial para o nosso concelho. Daí que, reconhecendo o bom trabalho e a nova dinâmica de Tinta Ferreira à frente dos destinos do município, destaco a merecida homenagem que o executivo por si liderado decidiu atribuir ao “Presidente Emérito” Fernando Costa, concedendo-lhe a Medalha de Honra do Município.

Jorge Varela
jorge.varela@ipleiria.pt