Em dia de aniversário bombeiros caldenses queixam-se de dívidas do Estado

O maior problema está relacionado com Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), com quem os bombeiros têm um protocolo de colaboração para fazerem o transporte de emergência pré-hospitalar. No âmbito deste protocolo, o instituto paga trimestralmente 10.500 euros aos bombeiros das Caldas (mais cinco euros por saída), que garante o funcionamento deste serviço 24 horas por dia. Para isso a associação tem de pagar salários a sete homens, o combustível e todos os consumíveis necessários.
O presidente da associação denunciou que desde Março que deixaram de receber essa contrapartida financeira do INEM. “Mas continuamos a ter de pagar aos funcionários e abastecer a ambulância”, afirmou.
Abílio Camacho queixou-se também que a ambulância cedida pelo INEM em 2004 já tem cerca de 250 mil quilómetros e tem custado muito dinheiro em reparações. Há três meses reuniu-se com a direcção do INEM, tendo solicitado a substituição da viatura, mas não obteve resposta.
A situação é de tal forma desesperante que Abílio Camacho já ameaçou estacionar a viatura à porta da sede do INEM e utilizar outras ambulâncias da associação no socorro às pessoas. É que o dirigente teme que um dia a ambulância fique avariada na estrada durante um transporte de urgência.

“A situação está incontrolável”

O vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Rui Santos Silva, revelou que este problema acontece também nas outras corporações do país. “Há associações completamente falidas”, afirmou. A Liga vai pedir ao ministério da Administração Interna para que seja reforçadas as verbas do Programa Permanente de Cooperação (PPC) no âmbito do Orçamento de Estado. O PPC destina-se a apoiar, de modo regular e permanente, o desenvolvimento das missões dos bombeiros.
Em relação ao ministério da Saúde, Rui Santos Silva adiantou que as dívidas das administrações regionais de saúde estão a ser pagas a 60 dias, mas o INEM tem atrasos nos pagamentos de 120 dias.
O dirigente propôs que os bombeiros das Caldas façam chegar à Liga os casos de que falou, para que possam transmitir directamente às entidades em causa.
“Já no que diz respeito aos hospitais, a situação está incontrolável. Segundo o que apurámos, nenhum hospital central ou distrital pagou após Dezembro do ano passado”, lamentou.
A Liga e o Ministério da Saúde vão agora fazer um levantamento dessas dívidas. “O senhor secretário de Estado garantiu que essa situação iria ser ultrapassada até ao final do ano”, disse Rui Santos Silva, que é natural das Caldas da Rainha.
A partir de Janeiro de 2011 será actualizado o preçário dos serviços prestados pelos bombeiros.

Acidentes com bombeiros preocupam

Outra questão sensível abordada durante a cerimónia foi a sinistralidade rodoviária com veículos dos bombeiros.
Segundo o vice-presidente da Liga, está a ser feito um levantamento do índice de sinistralidade rodoviária dos bombeiros portugueses. Segundo o dirigente, devido ao elevado número de acidentes, as associações correm o risco de verem aumentados os prémios dos seguros das viaturas.
Em 2011 a Liga quer arrancar com acções de formação e prevenção rodoviária para os soldados da paz.
Durante a cerimónia foi recordado o falecimento de um bombeiro de Alcobaça, quando se deslocava num grupo de reforço para ir ajudar num incêndio no distrito de Viseu.
O governador civil de Leiria, Paiva e Sousa, comentou que houve um tempo em que as pessoas que conduziam uma ambulância, ligavam a sirene e as luzes de emergência, deixando de respeitar as regras de trânsito. “Agora ainda acontece, mas menos. Estamos a falar de um transporte médico, que muitas vezes deve ser lento e cauteloso para se estabilizar o doente”, referiu.

Bombeiros ajudaram em fogos em todo o país

Durante o seu discurso, o comandante distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Leiria, José Manuel Moura, não quis fazer um balanço sobre a época de fogos florestais porque esta ainda não terminou, mas salientou que os bombeiros do distrito de Leiria não só resolveram os incêndios nesta região, como também contribuíram para o combate noutros locais do país.
José Moura destacou a forma eficiente como o actual comandante dos bombeiros das Caldas assumiu o seu cargo. “Nos dois maiores incêndios que tivemos este ano, em Alvaiázere e em Pombal, era o comandante José António que estava de serviço ao distrito e por isso teve que levar um grupo de reforço”, adiantou o CODIS, sublinhando a forma como obteve bons resultados.
Segundo o governador civil de Leiria, foram vários os colegas de outros distritos que lhe agradeceram a ajuda dos bombeiros desta região. “Em termos de eficácia e rapidez temos um nome conquistado a nível nacional”, comentou.
O presidente da Câmara das Caldas destacou o facto dos soldados da paz caldense terem conseguido evitar grandes fogos no concelho, devido à sua prontidão e eficácia no combate aos focos de incêndio.
Desde o último aniversário em 2009 até ao dia 18 de Setembro, os bombeiros das Caldas estiveram em 16765 ocorrências, percorrendo 544668 quilómetros. Destas ocorrências, houve assistência a 241 acidentes rodoviários, 132 incêndios florestais (alguns fora do concelho) e 62 incêndios urbanos ou industriais. O grupo de Socorros a Náufragos efectuou 20 salvamentos nas praias da Foz do Arelho, sendo que duas foram transportadas para o hospital.
O comandante dos bombeiros, José António Silva, salientou que, apesar da corporação comemorar 115 anos, continua “com um espírito jovem e actual”. Recentemente iniciaram uma nova escola de estagiários, da qual deverão sair mais 19 bombeiros em Maio de 2011. Criaram também, pela primeira vez, uma escola de infantes e cadetes com 40 elementos “que nos dão garantia de um futuro promissor”.
Foi criado também um sítio na Internet, que pode ser visitado em www.bvcaldas.com, onde pode ser conhecida a história da instituição, ver algumas imagens, partilhar comentários e contactar directamente a associação.

Dia aberto para a população

Mas a comemoração do 115º aniversário fez-se principalmente em festa. No sábado, dia 18, as portas do quartel estiveram abertas para a população caldense conhecer o equipamento dos bombeiros e assistir a vários simulacros. Foram as crianças quem mais se divertiram, num dia recheado de actividades.
No dia 19 de Setembro, foram entregues vários galardões aos bombeiros e outros membros da associação que se distinguiram pelo trabalho que têm feito. Entre as diferentes distinções, destaque para o sub-chefe Conde que foi agraciado por ser bombeiro há 35 anos, continuando no activo.
Teve ainda lugar a tomada de posse da nova direcção que foi eleita em Agosto, altura em que Abílio Camacho foi reconduzido no cargo para um mandato de três anos.
Foram também entregues a todos os bombeiros no activo as notas novas de protecção individual (“tipo americano”) para incêndios urbanos, oferecidas pelo Governo Civil de Leiria. “É um elemento imprescindível para a protecção individual dos bombeiros”, salientou o comandante José António Silva.
No âmbito da comemoração do 115º aniversário, ao final do dia teve lugar pelas ruas da cidade o desfile técnico-operacional do corpo de bombeiros, com todas as viaturas e homens ao serviço da corporação. O dia terminou com um lanche convívio no quartel.