Caldense estudante de Medicina fez trabalho voluntário em Cabo Verde

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“Sei que todas estas experiências vão contar para o meu futuro, mas também sinto que, por mais pequena que tenha sido, fiz a diferença”, conta a jovem caldense

Há muitas maneiras de ajudar o próximo. Pode-se doar comida para o banco alimentar, ser voluntário numa das suas muitas campanhas, doar sangue ou – porque não? – ir para Cabo Verde ajudar comunidades isoladas durante as férias do Verão.
Inês Felizardo Lopes, uma jovem caldense de 21 anos, escolheu esta última opção e, acabada de regressar de Cabo Verde, diz que sentiu que “fez a diferença” por lá ter estado a ajudar comunidades isoladas nos meses de Agosto e Setembro.
“Sempre quis fazer voluntariado e por isso quando fui estudar para Lisboa procurei associações onde me pudesse inscrever” diz.

Estudante na Universidade de Medicina de Lisboa, Inês fez de tudo para conjugar os estudos com o voluntariado no Grupo de Acção Social Nova (GASNova), uma associação sem fins lucrativos, que conta com projectos na cidade da Beira (Moçambique), no município do Paul (Santo Antão – Cabo Verde) e até em Portugal, em Trás-Os-Montes.
Inês Lopes diz que escolheu o GASNova por a associação ser principalmente constituída por estudantes universitários e, apesar de existir uma direcção, serem os próprios voluntários a desenvolver o projecto. “Somos nós que organizamos actividades de modo a angariar fundos que permitam enviar equipas para os três destinos”, contou.
Para Cabo Verde, Inês foi acompanhada de mais três jovens com quem trabalhara no projecto durante o ano anterior: Francisco Pipa, natural de Viseu com 23 anos, a tirar o mestrado em Ciência Cognitiva em Lisboa, Duarte Lupi, 21 anos da Costa da Caparica, a licenciar-se em Gestão, e Lúcia Farracho, colega de curso de Inês, com 19 anos e natural de Mafra.
“Vivemos os quatro em conjunto momentos muito fortes e isso é muito importante”, diz Inês, recordando-se do apoio que ela e os colegas deram a diferentes comunidades, algumas delas completamente inalcançáveis de carro. “Muitas vezes tínhamos de andar ainda bastante tempo por trilhos até conseguirmos chegar a algumas aldeias”, o que acaba por explicar que em várias localidades não exista recolha de lixo e poucas casas possuam saneamento básico.
Os voluntários vão para Cabo Verde preparados para este cenário, mas Inês admite que “quando nos confrontamos com a realidade, é sempre diferente”.
Para colmatar as dificuldades que existem nestas comunidades, os voluntários desenvolveram formações para adultos e Actividades de Tempos Livres (ATL) para crianças. Aos mais velhos falaram de Empreendorismo e aos pequenos ensinaram a importância de lavar os dentes e organizaram campanhas de recolha de lixo, transformando o que recolharam em obras de arte. “É uma maneira de lhes ensinar o reaproveitamento dos recursos de forma sustentável e, quando não foi possível com o lixo, foram buscar pedrinhas e pintá-las” lembra.
Mas os ATLs também procuravam ensinar às crianças a evolução do nosso planeta desde o Big Bang à origem da vida, os quatro elementos essenciais à vida e as quatro estações e os Direitos Humanos. “Muitos dos meninos de lá nunca tinham ouvido falar dos Direitos Humanos, por isso foi muito importante.”
Para além destas actividades, os quatro voluntários também ofereceram formação nas áreas dos primeiros socorros e fizeram rastreios de glicemia. Numa das comunidades até conseguiram diagnosticar vários casos de tinha, uma doença da pele em crianças, o que foi uma ajuda valiosa para a única médica do Centro de Saúde do município. “O nosso maior esforço foi chegar ao maior número de comunidades possível, o que foi cansativo, porque eram 18 e havia aquelas muito isoladas” declara Inês, sublinhando que nessas comunidades eram normalmente muito bem recebidos e constatavam que o seu contributo parecia ter uma grande importância para as pessoas.
Para chegar a estas terras mais isoladas, os voluntários também tiveram a oportunidade de fazer formação através da rádio. A emissão era ouvida em toda a ilha e também na ilha mais próxima, São Vicente. “As pessoas tinham oportunidade de nos telefonar com perguntas para respondermos”, lembra Inês.
Em Cabo Verde só se começa a aprender o Português quando se vai para a escola, pelo que os quatro voluntários precisaram de aprender algo de crioulo pois interagiam com muitas crianças que ainda não estava em idade escolar.
“O agregado familiar é muito diferente do português. Têm muitos filhos e é difícil dar-se o devido acompanhamento a todas crianças” realça.
O GASNova também conseguiu contar com muitos patrocínios que contribuíram com vários donativos necessários para a associação. Os voluntários ficaram agradecidos a várias entidades e pessoas e fazem questão de as enumerar: Abbott Diabetes Care, Foz Cosméticos, as farmácias Caldense e Rosa (Caldas da Rainha), Fápil, Escola de Vela da Lagoa, Ramiro Augusto do Vale S.A. (Viseu), Paróquia de Caldas da Rainha, Paróquia de S. Miguel de Alcainça, Obra Social do Pousal e ainda ao professor Rui Tato Marinho e sua esposa.
“O principal não é aquilo que recebemos no voluntariado, é o que damos”, finaliza Inês. “Sei que todas estas experiências vão contar para o meu futuro, mas também sinto que, por mais pequena que tenha sido, fiz a diferença.”

Marina Araújo