Óbidos aposta na criatividade para um desenvolvimento sustentável

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Gazeta das Caldas

DSC_0505“O que é nosso tem valor”. Este o tema e a premissa que norteou a grande maioria das intervenções da conferência Ativa-te, que decorreu na tarde de 27 de Junho, nas Gaeiras (Óbidos). Governantes, académicos e empreendedores foram unânimes em considerar que é importante aliar a criatividade, talento e inovação aos produtos locais, criando assim valor acrescentado nos territórios.
A acção do município como um agente de desenvolvimento económico e social foi também realçada pelos dois secretários de Estado que participaram no evento.
“Um cidadão quando acaba o seu curso não tem que ir à procura de emprego, pode criar o seu próprio negócio e tem apoios para isso”, disse o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Manuel Castro Almeida. “E se for com produtos da terra ainda melhor”, concretizou.
Nas Gaeiras, onde encerrava os trabalhos de uma tarde ligada ao empreendedorismo, o governante referiu que há dinheiro para quem tem uma ideia e quer apostar nela criando a sua própria empresa, ou negócio. No âmbito do programa Portugal 2020, a região Centro (onde Óbidos está inserido) terá cerca de seis milhões de euros para apoiar estes projectos.
No entanto, alertou que o dinheiro apenas será dado para ideias que tragam valor ao território onde se inserem e que promovam o emprego das suas gentes. “Nos últimos 18 anos recebemos de fundos europeus cerca de 60 mil milhões de euros e nem um ponto nos aproximamos da média europeia”, disse o governante, criticando a forma como foram usados os apoios, na esmagadora maioria em equipamentos e infra-estruturas.
“Agora que temos os equipamentos falta-nos o dinheiro no bolso”, disse, defendendo uma aposta na valorização da criatividade das pessoas. E nisso, destacou, Óbidos é um bom exemplo. “Não aumentaram o território mas são mais valiosos, a marca que criaram hoje vale mais à custa deste desenvolvimento pessoal, da valorização dos recursos e das pessoas”, enalteceu.
Manuel Castro Almeida falava ao fim de mais de cinco horas de intervenções, onde os intervenientes foram unânimes na promoção da criatividade e identidade local, como ferramentas para o desenvolvimento económico e social dos territórios.
Antes, já o seu homólogo, secretário de Estado do Emprego, Octávio Oliveira, tinha defendido que o grande desafio dos dias de hoje é gerar emprego, desenvolvimento e ter gente empreendedora que queira ir à luta e fazer a diferença.
O governante falou dos programas que o governo está a desenvolver em que a tónica tem sido colocada na activação das pessoas e que só assim poderá haver um crescimento sustentável.
De acordo com Octávio Oliveira, o desemprego diminui há cerca de oito trimestres, mas “não estamos bem”, pois a taxa ainda se situa nos 13%. Esta situação piora quando se fala em desemprego jovem, onde em cada 100 há 30 sem emprego.
O governante lembrou que em 2011 Portugal era um país assente no imobiliário, construção civil, endividamento dos indivíduos, autarquias e bancos, um modelo que não era sustentável. Em vez disso, defendeu um paradigma económico assente na exportação de bens e serviços e geração de valor e inovação.
Octávio Oliveira, que trabalhou seis anos nas Caldas e conhece bem a região,  sabe que este é um território de recursos e que esta aposta na criatividade, digital, incubação, marketing diferenciador, “é algo que Óbidos tem vindo a percorrer há já alguns anos e há alicerces para que esta estratégia se possa desenvolver”.
Ana Abrunhosa, presidente da CCDR do Centro, defendeu uma acção concertada entre todos os agentes, realçando que este território “é possuidor de recursos riquíssimos”. A responsável alertou ainda para a importância das actividades tradicionais para a manutenção da identidade dos locais.

Cinquenta projectos em ano e meio

O facto de Óbidos ter recursos endógenos que não estavam a ser potenciados levou a autarquia a criar o programa Ativa-te, que integra vários projectos como o My Machine ou Colab at School, nas escolas, o Ativa-te no  Parque Tecnológico, ou o Espaço Ó, para empreendedores.
“Trata-se de um programa transversal à área da actividade económica, mas também com uma resposta de inovação social”, explicou o presidente da Câmara, Humberto Marques.
O autarca realçou que Óbidos tem recursos endógenos ao nível do turismo, do mar, da agricultura e dos saberes populares e que é preciso agregar comunicar a partir de novos produtos, “acrescentando valor a toda esta dimensão económica”.
Em ano e meio de programa já estão em funcionamento “50 projectos individuais e colectivos”, disse Humberto Marques, acrescentando que são “estes exemplos que nos fazem sonhar”.
Alguns dos projectos que se enquadram nesta estratégia foram apresentados ao longo da tarde, como foi o caso do Burel, o tecido tradicional português, que através de um projecto inovador acabou por ter outras utilizações e ganhar valor acrescentado. Também a ginja de Óbidos da FrutÓbidos foi apresentada como um bom exemplo pois, além de licor, a empresa criou outros produtos, como chás, bolos ou mesmo cosméticos, aproveitando todo o fruto.
A designer Mariana Alpedrinha apresentou o trabalho que está a desenvolver com a comunidade de Óbidos na área do design thinking, onde pretendem criar novos produtos e serviços assentes nos recursos locais, assim como melhorar a qualidade de oferta dos existentes.
O evento terminou com a celebração de protocolos de cooperação entre a autarquia e o Instituto Terra e Memória (Mação) e a Associação para a Formação Profissional e Investigação da Universidade de Aveiro.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

 

CaixaUm Espaço Ó também nas Gaeiras

Gaeiras vai ter também um Espaço Ó. O projecto de um edifício para trabalho colaborativo vem substituir o de um Museu das Guerras Peninsulares, que inicialmente tinha sido previsto para aquele local no centro da vila.
O esboço, da autoria do gabinete de arquitectura Sousa Santos, foi apresentado à comunidade no passado sábado aquando da conferência.
Assim que abram candidaturas a Câmara, pretende candidatar este projecto ao Portugal 2020.
“Será um equipamento de agitação das pessoas, num local de encontro de ideias e construção de novos projectos”, disse o presidente da Câmara, Humberto Marques. A ideia é que a promoção dos produtos e o marketing se faça depois a uma escala supra espaços, incluindo os projectos similares em Óbidos e na Amoreira.