Empresários cristãos dizem que se deve pagar a tempo e a horas

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notícias das CaldasCerca de 30 empresários das Caldas da Rainha e de Óbidos receberam no final de Outubro o kit “AconteSer – Liderar com Responsabilidade”, um projecto da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) que tem como principal objectivo contribuir para a melhoria da competitividade das empresas nacionais e dotá-las de instrumentos de gestão responsável.
O kit apresenta uma série de fichas com um conjunto de boas práticas de gestão “sob a óptica do amor ao próximo, no sentido de ‘faz ao outro o que gostarias que te fizessem’”, explicou João Pinto Magalhães, colaborador da ACEGE, que esteve na sessão de apresentação que decorreu na Câmara das Caldas.

Nesta cidade a associação nomeou Fernando Sousa como “embaixador” da iniciativa, o qual fez posteriormente os contactos com alguns empresários. Segundo o responsável, aderiram ao projecto 19 empresas, embora apenas uma parte tenha estado presente nesta sessão.
O consultor caldense entendeu envolver a Câmara das Caldas da Rainha, até como exemplo de como o Estado é um dos maiores devedores às empresas. “Mas sabia que esta não era das câmaras piores”, disse.
Em resposta, Fernando Costa fez questão de perguntar a cada um dos empresários presentes se a Câmara tinha alguma dívida antiga, o que não era o caso.
“Se todas as câmaras estivessem como a das Caldas, o país não estaria no estado em que está”, disse o edil.
Em Óbidos a apresentação do projecto foi feita em colaboração com a Óbidos.com. A associação empresarial organizou uma sessão na Albergaria Josefa d’Óbidos, onde estiveram presentes cerca de cerca de 15 empresas, incluindo a Agro-Litoral, Greenservices, Barros e Moreira, Núcleo Inicial e a One Day in Portugal. O presidente da associaçãoi, Luís Cajão, comentou que cumprindo estes compromissos as empresas serão o motor da economia e do Estado “num futuro muito breve”.
Na apresentação nacional do projecto, António Pinto Leite, presidente da ACEGE, salientou que pretendem provocar “um tsunami de responsabilidade social nas empresas, sendo necessário para tal rasgar a situação psico-negativa da actualidade que envolve o país”. Por esse motivo foram feitas sessões de apresentação por todo o país, de 24 a 28 de Outubro.
Segundo João Pinto Magalhães, os empresários que aderem ao projecto assumem “um compromisso interior”, mas a associação não faz qualquer tipo de exigência.
As boas práticas apresentadas no kit podem ser realizadas no dia-a-dia de qualquer empresa, através de três compromissos fundamentais e de um instrumento “físico” de gestão: “pagar a horas aos fornecedores, ter em especial atenção o projecto de vida dos colaboradores e promover as condições necessárias para o sempre desejável, mas cada vez mais complexo, equilíbrio entre vida profissional e familiar”.
Em relação ao compromisso de pagamento pontual aos fornecedores, pretende-se que as empresas interiorizarem a importância do pagamento “a tempo e a horas”, como salientou o colaborador da ACEGE.
Tal como acontece no estrangeiro, e com muitas empresas que dependem das importações, a ACEGE defende que deve acabar a prática comum de se quebrar o compromisso de pagar no prazo combinado.
“Continua a haver muitas falências, principalmente em pequenas e médias empresas porque as empresas não pagam ‘entre’ si, exportando o problema de umas para as outras”, explicou António Pinto Leite na sessão de apresentação em Lisboa.
Nessa altura, o presidente do IAPMEI,  Luis Filipe Santos Costa, afirmou que a questão cultural do “pagar e morrer, quanto mais tarde melhor” tem de ser apresentada como nociva à sociedade portuguesa.
A ideia é substituir este ciclo vicioso por um outro, “virtuoso”, desafiando o maior número de empresas a comprometerem-se a pagar, atempadamente, aos seus fornecedores.
A Acege através do Kit AconteSer apela a que as empresas não definam os seus colaboradores como sendo números, que se enalteçam os valores morais e se reestruturem empresas de forma a fazerem felizes os seus colaboradores.
“A motivação dos colaboradores é muito importante, para que sejam cúmplices da liderança e que o líder também seja um cúmplice”, explicou João Pinto Magalhães. “Os colaboradores devem ser tratados como o líder gostaria de ser tratado se fosse colaborador”, afirmou, acrescentando que um funcionário motivado “vale muito mais”.
A questão da conciliação entre vida profissional e familiar apresenta igualmente novos contornos em tempo de crise.
São vários os estudos recentes que comprovam que a crise leva a um maior refúgio dos indivíduos nas suas famílias, em busca de acolhimento e maior segurança.
António Pinto Leite lembrou que “a maior ansiedade das pessoas na sua incapacidade de gerir trabalho e família tem também efeitos na produtividade”.
Para as empresas que assim o desejarem, o AconteSER contempla ainda a possibilidade de as empresas serem certificadas (caso cumpram determinados objectivos) como empresas familiarmente responsáveis.

Câmara das Caldas da Rainha com as contas em dia
Fernando Costa aproveitou a oportunidade para garantir à Gazeta das Caldas, jornal que foi convidado para fazer parte da iniciativa, que as contas da Câmara das Caldas estão em dia.
“Já hoje mandei pagar as contas de Agosto e Setembro”, afirmou, explicando que tem outras dívidas mais antigas, mas devido a contenciosos e questões burocráticas, ou outras razões que não estão relacionadas com falta de verbas. Até em relação à Valorsul, com a qual existia um conflito antigo relacionado com a Resioeste, garantiu ter “as contas em dia”.
Assumindo dificuldades de tesouraria disse “que as coisas já estiveram piores, mas não quer dizer que daqui a um ano não estejam más”, acrescentando que “só não pagamos as nossas dívidas quando não temos dinheiro”.
Actualmente a autarquia tem dívidas aos bancos no valor de 5 milhões de euros “mas poderíamos ter 20 milhões”. Segundo Fernando Costa, não valeria a pena pagar o valor em dívida às instituições bancárias “porque estão a levar-nos 2% de juro”.
Aos fornecedores há facturas a pagar no valor de 2 milhões de euros, referentes aos meses mais recentes.

PISCINAS ESCOLARES ENCERRAM NO VERÃO
Fernando Costa admitiu que as obras que foram feitas nos últimos anos (piscinas, CCC, complexos escolares e outras) trazem muitos encargos para a autarquia. “A Câmara tem a obrigação de manter esses edifícios, mas com a menor despesa possível”, adiantou. Algumas das medidas a tomar passaram pelo encerramento das piscinas escolares durante o verão.
O presidente da Câmara não assume as dívidas das associações das quais a autarquia é responsável pela gestão, como a Associação para o Desenvolvimento Industrial do Oeste (que gere a Expoeste e, por enquanto, o CCC) e a Associação de Desenvolvimento da Juventude das Caldas da Rainha (que gere o Centro da Juventude).
Segundo Fernando Costa, as transferências da autarquia para estas associações não estão “muito atrasadas” e as dívidas dessas entidades são da responsabilidade de quem as gere.
Recentemente um atraso na transferência da verba da Câmara para a ADJ fez com que os sete funcionários do Centro da Juventude recebessem os salários de Setembro em atraso. “O atraso deveu-se a razões burocráticas porque há algumas dúvidas em relação aos protocolos antigos”, explicou Fernando Costa.
No entanto, houve quem considerasse que esta teria sido uma forma do edil caldense prejudicar o vereador Hugo Oliveira, que preside à ADJ, pela polémica em volta das recentes eleições da JSD das Caldas.