A Associação Industrial da Região Oeste – Airo assinalou o seu 30º aniversário, no passado dia 11 de Novembro, com um debate no CCC sobre “O financiamento da actividade produtiva”.
A iniciativa, que reuniu à mesma mesa o presidente do IAPMEI, um responsável da Euronext e a presidente da direcção da AIRO, contou com a presença de mais de uma centena de empresários e autarcas, que fizeram questão de dar nota da sua experiência e denunciar a falta de apoio público à actividade empresarial.
“O financiamento é o maior problema dos empresários, e ficou pior nos últimos anos”. As palavras são de Luís Filipe Costa, presidente do IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, que reconhece que embora esta nunca tenha sido uma questão simples, acentuou-se recentemente com a dificuldade de acesso ao financiamento bancário por parte das pequenas e médias empresas.
Luís Filipe Costa situou o aparecimento das dificuldades do financiamento no verão de 2008, aquando da emergência da crise nos Estados Unidos, altura em que começou a haver uma “grande aversão ao risco por parte dos bancos, e desconfiança, que levou praticamente ao encerramento do mercado interbancário”.
Na altura foi possível mitigar esta situação com o lançamento das linhas de crédito PME Investe, que simplificaram o acesso ao financiamento bancário, assim como a existência da garantia mútua (sistema privado e de cariz mutualista de apoio às pequenas e médias empresas).
Actualmente já está em funcionamento a sétima linha da PME Investe, num total de mais de 80 mil operações realizadas. De acordo com o presidente do IAPMEI cerca de 54 mil empresas tiveram já acesso a estas linhas de crédito, que já concederam mais de oito mil milhões euros.
“São linhas que têm feito o seu percurso e mitigado a aversão ao risco e a desconfiança que os bancos têm entre si e no relacionamento que têm com o tecido empresarial”, disse.
O presidente do IAPMEI partilhou ainda com os presentes a discrepância que existe a nível de financiamento aos três países actualmente intervencionados pela troika (Grécia, Irlanda e Portugal). “Os bancos portugueses estão com um acesso controlado e plafonado de 45 mil milhões de euros, os bancos gregos têm um acesso superior a 90 mil milhões de euros e os bancos irlandeses um acesso superior a 160 mil milhões de euros”, afirmou.
Também presente neste encontro, Miguel Geraldes, director de mercados da Euronext Lisboa, falou sobre a bolsa e da sua disponibilidade para financiar empresas. No entanto, o responsável fez saber que as empresas melhor posicionadas para iniciar os processo são as que têm um nível de internacionalização e exportação grande.
O debate foi bastante participado por parte dos empresários presentes, entre eles Ivo Silvestre, da Serralharia Santa Helena, que teceu duras críticas ao funcionamento e apoio prestado por parte da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. “A saída para o pais é a exportação. Um país em recessão não compra”, fez saber.
Também Carlos Gouveia, director geral da Shaeffler, corroborou da ideia de que a exportação é a porta de saída para as empresas nacionais e deu nota da falta de organização de alguns organismos públicos que poderiam ajudar os empresários a colocar os seus produtos no exterior.
Para o consultor Luís Brandão Rodrigues é muito importante a comunicação. “As pessoas não se encontram para tratar dos assuntos e encontrar soluções em conjunto”, disse, acrescentando que também existem várias pequenas empresas que se podem juntar e tornar mais competitivas.
O presidente do IAPMEI revelou ainda que a Europa foi muito “naif” ao abrir as suas portas, nos últimos 12 anos, aos países asiáticos, que lhes permitiu “competir de forma desleal com os produtos europeus”. O responsável adiantou ainda que, do ponto de vista do emprego, tem-se verificado uma política errada, ao dar igualdade de tratamento a quem produz de forma desigual.
“Anos de combate ao individualismo e falta de associativismo que ainda hoje impera no país”
Guilherme Colares Pereira, fundador e ex-presidente da direcção da AIRO, na impossibilidade de estar presente deixou uma mensagem escrita onde recorda o nascimento desta associação que englobava “empresa de todos os sectores de actividade do distrito de Leiria e da parte norte do distrito de Lisboa, em especial as da cidade de Torres Vedras”.
O empresário lembra a “equipa fabulosa” que agarrou esta missão e desenvolveu um plano estratégico para a sua actividade, baseado na criação de novos instrumentos para os associados.
De acordo com Guilherme Colares Pereira este plano traduziu-se, ao longo dos anos, na constituição do Cencal, ETEO, ESAD, Nerlei, entre outras estruturas. “Foram anos de grande dificuldade, mas de entrega de um grupo de pessoas que lutaram pelo combate ao individualismo, ao protagonismo e à falta de associativismo que ainda hoje impera de norte a sul do país”, refere, dando nota da sua aposta em fazer diferente e inovar, envolvendo os vários agentes do sector económico, autarquias e o sistema de ensino.
Tendo em conta a época difícil que o país atravessa, o empresário deixa votos para que a AIRO continue a “sonhar, sem restrições, com a criatividade e iniciativa, promovendo não só o empreendedorismo económico como também o social”.
Presidente da Associação Industrial em entrevista há Gazeta das Caldas em 1981
Gazeta das Caldas publicou, na sua edição de 9 de Dezembro de 1981, uma entrevista ao primeiro presidente da AIRO, em representação da Placol, Luís Fernandes, já falecido, com o título “Associação Industrial das Caldas da Rainha preenche lacuna”.
Quando questionado sobre os objectivos da nova associação e quais as metas a atingir, o responsável dizia que esta “vem preencher uma lacuna que existia aqui nas Caldas e nas regiões circundantes”. Apesar dos empresários recorrerem a associações especializadas, não “havia uma unidade de esforços e de interesses que permitiriam uma coesão e um desenvolvimento sobretudo regional”.
A ideia da criação desta associação teve desde logo a aceitação das empresas mais importantes da zona e o apoio da Associação Industrial Portuguesa.
“Esta associação tem por objectivo zelar a nível regional pelos interesses dos industriais e actividades que estavam dispersas por diferentes associações especializadas”, afirma Luís Fernandes.
O responsável fez questão de realçar que a associação pretende defender o interesse da classe e implementar nas Caldas um Centro de Formação de Mão de Obra, mas que não iria intervir nas contratações de trabalho (que viria a ser o CENCAL).
Luís Fernandes fala da crise que a construção civil atravessava no início da década de 80, e que dizia ter uma, uma vez que navia há incentivos ao sector. O dirigente empresarial dava ainda nota da necessidade de uma utilização racional da rede de transportes e da dificuldade dos parceiros sociais confiarem uns nos outros.