Espaço Saúde – FILHOS, PAIS e COISAS MAIS – A idade dos pais…

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A paternidade não tem idade – rima e porventura é verdade. Quero eu dizer com isto que os pais devem ter os filhos quando acham que sim, ou seja, quando vêem reunidas as condições de vontade, logísticas, sociais, económicas, etc. – ter filhos para que os filhos tenham irmãos, por exemplo, é quanto a mim errado. Os filhos têm-se porque os pais assim o decidem, presume-se que de forma pensada e não leviana.
Há idades que, porventura em termos estatísticos, representam uma probabilidade maior ou menor de ocorrerem problemas de saúde – é conhecido o aumento da incidência de mongolismo com o aumento da idade das mães.

No entanto, para o desempenho de ser pai há tantos factores a ter em conta, ente os quais o bom senso, o instinto e a experiência, que rotular as pessoas de acordo com a idade será disparatado.
No meu caso pessoal, tive o primeiro filho aos 23 anos e o último aos 47. Não sei dizer qual das experiências foi mais maravilhosa – acho que foram todas únicas e inovadoras.
Se, sendo mais novo, tinha possivelmente mais arcaboiço físico e mais resistência, também agora tenho mais experiência, maturidade, calma e uma vida mais organizada. Tudo isto – e mais dezenas de aspectos que poderíamos juntar – pode ser visto como factores positivos ou negativos, conforme a pessoa, a circunstância e o contexto
Uma coisa que recuso liminarmente é a ideia errada e arrogante de se considerar “avós” os pais que têm mais do que… certa idade (nunca se define qual). Pai é pai, avô é avô. Os desempenhos são diferentes, e o paternalismo com que se olham os recém-pais com mais de, por exemplo, 45 anos, é sinal de subdesenvolvimento. Muitas vezes são as mulheres, pela limitação etária mais baixa à capacidade de procriar, que falam com desdém desses “pais-avôzinhos”.
Já vi de tudo, na minha vida profissional – jovens adolescentes com maturidade de se lhes tirar o chapéu, adultos “totós” e pais com mais de quarenta com uma visão lúdica, lúcida e tranquila das coisas.
Como escreveu Ary dos Santos: “quem faz um filho, fá-lo por gosto”. Eu acrescentaria: e que tenha gosto em o ter, seja qual for a idade.

Mário Cordeiro
Pediatra
mario.cordeiro@netcabo.pt