Bombarralense estagiou na Indonésia a estudar orangotangos

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A jovem bombarralense a trabalhar, em Tuanan

Catarina Silva é uma jovem que, desde cedo, queria trabalhar com primatas. Em finais de 2019 foi para a Indonésia viver esse sonho, mas a pandemia obrigou-a a regressar a Portugal, onde se mantém a trabalhar na gestão de dados

A jovem Catarina Silva realizou em 2020 o estágio curricular do curso de Biologia da Universidade de Aveiro. Tratou-se de uma aventura na Indonésia, a estudar orangotangos.
“Desde muito nova soube que o meu sonho seria trabalhar com animais selvagens e contribuir para a sua conservação”, disse a investigadora à Gazeta das Caldas, acrescentando que “sabia que queria trabalhar com primatas”, dado tratar-se de “uma paixão de longa data”.
“Depois de visitar o sudeste asiático em 2016, tinha o desejo de voltar, por isso comecei a procurar por programas de vida selvagem dessa região do planeta e acabei por encontrar a BOSF (Bornean Orangutan Survival Foundation)”, explicou.
A jovem, de 25 anos, que estudou na Escola Básica e Secundária Fernão do Pó (Bombarral), tinha como disciplinas favoritas a Biologia, Português e Matemática. Em termos de grandes inspirações, a bombarralense cita David Attenborough e Jane Goodall.
Foi em novembro de 2019 que partiu, sozinha, para a Indonésia, já depois de obter as autorizações, vacinas, vistos e outras burocracias.
Poucos dias depois viajou para Palangkaraya, uma cidade pertencente à ilha do Bornéu, situada no Kalimantan Central, onde viveu durante três semanas, até ao início de dezembro, quando pôde fazer uma viagem de duas horas de carro e duas horas de barco até Tuanan, uma pequena aldeia, habitada por pessoas da tribo Dayak.

O trabalho de Catarina Silva foi registar o comportamento, dados biológicos e de saúde, e fotografar os primatas

Ali chegada, Catarina Silva tinha um quarto, mas tinha de dormir com uma rede mosquiteira à volta da cama. “As únicas divisões completamente fechadas eram os quartos, o escritório e o laboratório. A sala e os corredores eram abertos ao exterior, ou seja, sem paredes e era tudo construído suspenso do chão, para que, quando chovesse, não ficarmos inundados”, nota.
Outra dificuldade é que para ter rede e acesso à internet tinha de ir ao “phone spot” numa pequena casa da árvore. “Porém a rede era fraca e por vezes inexistente, por isso o acesso era bastante limitado”, recordou.
Já relativamente às casas de banho, “eram à moda típica do sudeste asiático, ou seja, um buraco e um balde com água, que servia como papel higiénico, autoclismo e chuveiro”, diz a bombarralense, acrescentando que passou “cinco meses a tomar banho de água fria, mas com temperaturas diárias constantes de 29ºC, uma pessoa acaba por se habituar”.
O trabalho na Indonésia “consistia em acordar às 3h30 da manhã, para às 4h30 estar junto ao ninho que os orangotangos fazem para dormir e passar o dia inteiro a segui-los, registando o seu comportamento, dados biológicos e de saúde, recolher amostras de fezes e urina e fazer registos fotográficos, até o orangotango voltar a fazer o ninho para ir dormir, que tanto podia acontecer às 14h00 como às 19h00”.
A estudante ficou também responsável pela gestão dos dados recolhidos, organizando-os e compilando-os para depois serem inseridos em bases de dados.
Na Indonésia, a alimentação “era à base de arroz, arroz ao pequeno almoço, almoço e jantar”. “Mas também ovos, legumes e, por vezes, peixe, que comprávamos aos pescadores. Uma vez por semana tínhamos frango da nossa capoeira”, relembra.
No campo havia apenas uma arca frigorífica, “mas que servia para armazenar amostras de fezes e urina de orangotango”. Por isso, a única maneira de conservar comida era salgando-a, o que se fazia com o peixe”.
A jovem tinha previsto ficar a trabalhar no campo até julho do último ano, mas em março, devido à pandemia, teve de regressar a Portugal. Entretanto, apresentou o relatório de estágio, concluiu a licenciatura e fez uma pausa no percurso académico. “Estou a viver no Porto, a trabalhar num Centro de Estudos e Explicações e continuo a trabalhar como Gestora de Dados Científicos, para a minha orientadora externa, Erin Vogel”, revela. ■