Caldenses “viajaram” até S. Tomé e Príncipe pela Rua Claudina Chamiço

0
604
Réplica de uma roça
Uma pequena santomense junto à réplica de uma roça do seu país

Dezenas de pessoas reuniram-se na noite de sexta-feira, 24 de Setembro, no Museu do Ciclismo, para descobrirem mais sobre S. Tomé e Príncipe e também sobre Claudina Chamiço, uma filantropa do século XIX, que deixou obra nas Caldas da Rainha e naquele país africano de expressão portuguesa.
O mote foi dado pelo livro de Mário Lino “Das Caldas da Rainha a S. Tomé e Príncipe” lançado naquele dia e, noite fora, não faltou a música, canções e o bom café de origem santomense.
Hoje a festa continua com um jantar de calulu no restaurante Zé do Barrete.

Foi ao som do hino de S. Tomé e Príncipe, seguido pelo hino de Portugal,  que começou o evento, que incluiu a inauguração de uma exposição, patente no Museu do Ciclismo e a apresentação do livro de Mário Lino.
O Orfeão Caldense – que ali ensaiava até passar, recentemente, para o Centro da Juventude -, juntou-se à festa, interpretando três temas do seu repertório. Pelas pareces do Museu do Ciclismo encontram-se expostos bilhetes-postais ampliados em grandes dimensões, fotografias, documentos e livros, que dão conta da realidade daquele país africano no início do século XIX, e uma maquete que tenta reproduzir uma roça santomense.
Referindo-se à sua mais recente obra, Mário Lino disse tratar-se de um “trabalho um pouco ousado”, uma vez que faz uma “viagem” das Caldas a S. Tomé sem sair da Rua Claudina Chamiço. Aliás, o autor disse mesmo que seria pouco provável visitar aquele país africano, confessando o seu medo em viajar de avião.
Convidado a apresentar a obra, o director da Gazeta das Caldas, José Luís de Almeida e Silva, destacou a pro-actividade e originalidade do autor, que “já nos habituou a de uma coisa sem importância fazer um acontecimento”. Na sua opinião, trata-se de um evento que vai motivar as pessoas a descobrir S. Tomé e uma oportunidade de juntar portugueses com santomenses.
José Luís de Almeida e Silva deixou ainda o desejo que estas parcerias se transformem em geminações, dado que S. Tomé e Príncipe é um país que atravessa dificuldades e Caldas poderia contribuir com uma pequena ajuda para o desenvolvimento de uma cidade daquele país.
“Só é pena que na cidade não existam muitos Mários Linos porque acho que as Caldas seria muito mais projectada”, referiu o orador, acrescentando que o autor “merece o nosso reconhecimento”.
Também presente no evento, Célio Santiago, vereador da Câmara de Trindade (a segunda maior cidade de S. Tomé) informou os presentes que existe na Roça Monte Café, que era propriedade de Claudina Chamiço, desde o século XIX, uma rua com o nome Caldas da Rainha.
O autarca santomense já elaborou um projecto para a recuperação daquela rua, que faz a ligação entre as cidades de Trindade e a capital, e agora pretende entregá-lo ao governo central, de modo a tentar obter um apoio.
O vice-presidente da Câmara, Tinta Ferreira, destacou as várias iniciativas culturais que se realizam no Museu, que desta forma não fica confinado ao ciclismo. Acrescentou ainda que os eventos dinamizados por Mário Lino têm permitido fomentar amizades com várias cidades de Espanha, dando o exemplo de La Cososera, cujo alcaide também fez questão de marcar presença na passada sexta-feira. “Esta aproximação tem permitido conhecer o país irmão, mas também fazer com que muitas pessoas venham às Caldas”, disse o autarca.
Na opinião de Jorge Sobral, representante do Governo Civil de Leiria, Mário Lino tem a “capacidade de aproximar os povos e surpreender-nos a cada dia”, pelo que quer continuar a contar com o seu trabalho em prol do distrito.
Na apresentação que fez de Claudina Chamiço, Mário Lino disse que esta chegou a ser a senhora mais rica de Portugal no final do século XIX, e que tinha a faculdade de fazer o bem. “Preocupou-se acima de tudo com a lepra e a tuberculose”, disse, dando os exemplos do Hospital de Santana, em Cascais, ou o balneário das Águas Santas, que mandou erigir de modo a ajudar os mais necessitados.
Mário Lino procurou homenagear a vertente solidária de Claudina Chamiço dedicando o livro à Santa Casa da Misericórdia das Caldas, por aquela instituição ser a que mais se assemelha actualmente a esse espírito.
A iniciativa, integrada também nas comemorações do I Centenário da República, contou também com o contributo da presidente do PH – Património Histórico e responsável local pelas comemorações, Isabel Xavier, que se referiu a Claudina Chamiço como alguém com “capacidade de intervenção”.
Isabel Xavier lembrou ainda que o Bairro da Ponte nasceu na altura da implantação da República e que em 1914 foram dados os nomes às suas ruas.
No dia seguinte a festa transferiu-se para o Largo Frederico Pinto Basto (Bairro da Ponte), frente à Rua Claudina Chamiço, onde foi feita uma homenagem junto à placa toponímica. A Junta de Freguesia de Santo Onofre ofereceu o livro de Mário Lino às primeiras 10 pessoas que se apresentaram no largo trajadas à século XIX e depois houve música. À noite o café e a saúde estiveram em destaque numa conferência proferida pelos médicos Luís Pisco e António Figueiredo.
O evento termina hoje à noite com um jantar de calulu (comida típica de S. Tomé) no restaurante Zé do Barrete.