“O que mais me apaixona no Brasil é a alegria de viver das pessoas”

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VaniaLoureiro-Vânia Loureiro
Foz do Arelho
26 anos
Brasília – Brasil
Bolseira de Doutoramento em Arquitectura e Urbanismo
Percurso escolar: Escola Primária da Foz do Arelho, EBI de Sto Onofre (Caldas da Rainha), Escola Secundária Dra. Laura Ayres, (Quarteira), Universidade da Beira Interior (Covilhã)

O que mais gosta do país onde vive?
O que mais me apaixona no Brasil é a alegria de viver que está em todas as pessoas com quem me tenho cruzado ao longo deste ano. Há uma cultura de partilha e de entreajuda muito forte, e uma esperança constante num amanhã melhor.

O que menos aprecia?
O clima, sem dúvida. Aqui em Brasília o calor é frequente, mas alguns meses no ano a humidade do ar é muito baixa. Para quem teve a sorte de crescer no clima fresco da Foz do Arelho, a adaptação não é muito fácil.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Acima de tudo da família e dos amigos. Do cheiro forte a mar e do café expresso em qualquer esquina, tão bom e barato.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
De momento a minha vida é aqui e esta já é, também, a minha casa. É um país encantador em muitos sentidos. Mas regressarei sempre a Portugal.

“Aprendi a gostar de arroz com feijão todos os dias “

O meu interesse, como arquitecta, passou sempre pela arquitectura feita pelos “não arquitectos”. Como bolseira de doutoramento na Universidade de Brasília, trabalho com favelas, estudo a sua forma construída e os seus impactos sociais. Colaboro também com um projecto que trabalha com o assentamento de comunidades “Sem Terra” que são localizadas em áreas rurais, longe de qualquer tipo de infra-estrutura básica. Ajudamos no planeamento do assentamento e das casas e procuramos soluções alternativas de baixo custo para promover a auto-suficiência das famílias e o uso sustentável dos recursos naturais disponíveis.
O contraste social é ainda muito forte e injusto. Mas a assistência aos estudantes, por exemplo, é muito boa, começando pelo ensino superior público que é integralmente gratuito, desde a licenciatura ao doutoramento. As refeições na cantina custam cerca de 75 cêntimos.
Aprendi a gostar de arroz com feijão todos os dias. É composição obrigatória no prato de qualquer casa, independentemente da origem no país ou da classe social. Mas a minha verdadeira delícia são as frutas e os sumos naturais.
No meu dia-a-dia, ando a pé. Percorro uma distância de quase dois quilómetros para chegar à universidade e quando preciso de ir mais longe uso o transporte público. Não é perfeito, mas é bastante frequente e muito barato.
O comércio informal movimenta a cidade e dá-lhe uma beleza própria. A parte da cidade onde moro é classificada como património da humanidade pela UNESCO por ser um exemplo de cidade modernista, foi projetada e construída de raiz para ser a nova capital do país. Mas por entre o “património arquitectónico”, só tenho onde lanchar – um “pão de queijo” ou um “açaí” – graças aos quiosques improvisados nos espaços amplos da universidade. Se subir a rua, ainda posso comprar um almoço, por menos de três euros, em pontos de venda que tão depressa se montam como desmontam, todos os dias. As pessoas sabem o que faz falta à cidade e usam isso a seu favor. É uma Brasília que não se vê nos “postais culturais” e de que gosto muito.
O custo de vida parece-me muito semelhante ao de Portugal, desde o aluguer ao supermercado. Com excepção dos nossos vinhos portugueses, que chegam cá ao triplo do preço. Mas neste calor tão distante do mar, onde a humidade relativa do ar chega a descer dos 20%, a água de coco muito fresca ou a cerveja, sempre muito gelada, também são óptimas alternativas!

Vânia Raquel Teles Loureiro