Manter a forma em casa é mais um desafio para atletas em época de isolamento

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Esta fase de isolamento social é um desafio para toda a população, mas apresenta um grau extra de dificuldade para os atletas que estão em plena época desportiva e, sobretudo, aqueles que praticam modalidades colectivos. Manter a forma em casa não é a mesma coisa quando se trata de modalidades, principalmente porque falta o balneário. Planos de treino e acompanhamento dos técnicos ajudam a minorar a situação.

O plantel do Caldas SC cessou os treinos para respeitar o período de isolamento voluntário há pouco mais de uma semana. Thomas Militão, que capitaneia o grupo, reconhece que este tem sido um momento difícil para todos. Os jogadores treinam sozinhos para manter a forma, com planos elaborados em conjunto com o Balance Club, mas “não é a mesma coisa do que quando treinamos todos juntos, sentimos todos a falta da bola”, salienta o central do Caldas.
Militão realça a ligação que tem existido quer com a equipa técnica, quer com a direcção do clube. “Tentam que não nos falte nada e estão sempre a tentar perceber se está tudo bem connosco”, afirma.
As redes sociais dão uma ajuda a manter o grupo em contacto. “Temos um grupo no WhatsApp, então fica fácil irmos falando uns com os outros, por vezes também ligamos uns aos outros”, diz o capitão.
Mas isso não substitui completamente a presença física. “Uma das essências do futebol é o balneário, sentimos muita a falta disso, das nossas brincadeiras, de estarmos todos juntos”, refere. Isso faz baixar um pouco o ânimo, “mas sabemos que temos que nos aguentar e fazer o que nos pedem. Daqui uns tempos estaremos novamente todos juntos a jogar pelo nosso Caldas”.
Militão acredita cada vez menos que a época seja retomada, pelo menos nos escalões não profissionais. Com a obrigatoriedade de terminar a competição a 30 de Junho (fase de subida incluída) e 9 jornadas por cumprir, a competição teria que ser retomada em meados de Abril. De outra forma, terão que se realizar jogos a meio da semana, o que é pouco viável tendo em conta que “há uma quantidade de equipas amadoras, como é o nosso caso”.

TREINAR NATAÇÃO… FORA DE ÁGUA

Se a pausa forçada e o isolamento social são entraves à preparação dos jogadores de um clube amador, quando se trata de atletas de alto rendimento a situação piora de forma exponencial.
José Machado, director técnico da Federação Portuguesa de Natação, dirige o Centro de Alto Rendimento de Natação em Rio Maior e diz que acresce a falta de referências relativamente a situações como esta.
Os nadadores dos Centros de Alto Rendimento têm uma rotina diária de treino de 5 a 6 horas, divididas por duas sessões de treino específico na água e outra de preparação física, em seco.
José Machado acrescenta que não é possível compensar a falta de treino fora de água, porque não é possível recriar toda a complexidade da acção de nadar e das características da água, por isso o trabalho dos atletas é, essencialmente, de manutenção da forma física. O plano que é traçado aos atletas visa a mobilidade e a flexibilidade das articulações, a manutenção do tônus muscular aproveitando o peso do próprio corpo e aparelhos como halteres, barras, elásticos e bolas medicinais. É feita ainda manutenção da endurance cardiovascular, em corrida em passadeira ou ar livre quando possível, e aparelhos como bicicleta e remo.
O acompanhamento técnico é também fundamental, considera o director técnico da federação. Se a parte do treino pode ter um acompanhamento mais ou menos frequente, dependendo da autonomia do próprio atleta, nesta fase é importante não descurar a parte psicológica.
“Com um cenário de cancelamento e adiamento das principais provas internacionais e nacionais, os atletas necessitam de ser acompanhados por profissionais, sejam eles treinadores ou psicólogos”, realça.
Quanto ao regresso à competição, José Machado diz que nunca poderá ser imediato, memso para um período de paragem de um mês. “É preciso permitir aos atletas uma nova adaptação neuromuscular e cardiovascular”, afirma, acrescentando que, além disso, é necessário “retomar o trabalho no ambiente em que o atleta treina e que compete”, de modo a evitar lesões.