As luzes de Natal

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Ano após ano, as Luzes de Natal que dão vida e cor às nossas ruas anunciam uma época especial. Este tempo festivo faz-nos acreditar que vale a pena ter esperança, que vale a pena lutar por um mundo melhor, um mundo mais justo, solidário e desenvolvido. É também nesta altura que começamos a pensar em tudo o que nos propusemos fazer no ano que finda e no que planeamos fazer no ano que se avizinha.
Para as Caldas da Rainha, 2015 foi um ano singular. Entre o muito que se passou há que destacar a passagem do património termal, onde se inclui o hospital termal e as próprias águas termais, mas também o parque e a mata, para a gestão da Câmara Municipal. Depois de séculos de gestão estatal, este património tão nosso, tão caldense, é finalmente gerido, para o bem ou para o mal, pelos caldenses. Levantaram-se as vozes do costume gritando que não seríamos capazes de levar o barco a bom porto; disseram que umas termas desta envergadura teriam de continuar na esfera do poder central; agoiraram até o fim das termas…
Não deixa de ser uma posição muito cómoda: ficar sentado a ver os outros correrem para tentar resolver um grave problema que é de todos nós e, em vez de se levantarem e ajudarem, limitam-se a deitar abaixo o que se tenta fazer enquanto preconizam a desgraça total que, uma vez que nada fizeram, será sempre da responsabilidade dos outros.
A verdade é que as Luzes de Natal ensinam-nos exatamente o contrário. A história está polvilhada de personagens que ficaram conhecidas pelas barbáries que praticaram. Os grandes heróis da antiguidade eram normalmente forjados em sangrentas batalhas. Já no século passado, Mao Tse Tung, Hitler ou Estaline ficaram tristemente célebres pelas chacinas de milhões de civis. No entanto, mais de dois mil anos depois, o único aniversário que continuamos a celebrar, ano após ano, em quase todo o mundo, é o de um menino nascido numa humilde manjedoura que, mesmo em adulto, nunca liderou um exército nem invadiu nenhum país e que, por se limitar a pregar o amor ao próximo, foi crucificado. A celebração do Seu nascimento é a prova de que, por mais sinuosa que seja a estrada, devemos sempre avançar e lutar pela resolução dos nossos problemas coletivos. As Luzes de Natal ensinam-nos que o pior não tem sempre de acontecer; que vale a pena arriscar e tomar em mãos uma empreitada destas, principalmente quando se acredita que se conseguirá recolocar as Caldas da Rainha no panorama nacional e internacional do termalismo; ensinam-nos, enfim, que a situação que existia, com a gestão estatal, apenas servia para desresponsabilizar os caldenses do estado lamentável em que, ano após ano, víamos as nossas termas se afundarem, sem que nada fizéssemos ou pudéssemos fazer.
Agora que se aproxima o fim de 2015, resta confiarmos em nós próprios, na nossa capacidade de transformarmos a nossa realidade e de fugirmos ao marasmo a que o poder central nos havia relegado. Que 2016 seja um ano de afirmação dos caldenses. O parque e a mata, o hospital termal e as águas, não passam a ser do presidente da câmara, nem dos vereadores da maioria, nem mesmo de todo o executivo camarário, ou sequer do PSD que continua a merecer a confiança da larga maioria dos caldenses. A gestão do património termal passa a ser nossa, de todos os caldenses. Saibamos todos nós sentir essa grande e pesada responsabilidade que nos é deixada nos nossos ombros. Saibamos nós, todos nós, sentir o orgulho de manter vivo o legado da nossa fundadora D. Leonor.
Se não forem os caldenses a gostar das suas termas, quem gostará?
As Luzes de Natal, que este ano são por todos reconhecidas como das melhores que, ano após ano, temos tido a oportunidade de ver nas Caldas, são um bom presságio. Agora, falta o resto…

Jorge Varela
jorge.varela@ipleiria.pt