ISABEL CASTANHEIRA – a livreira

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Gazeta das Caldas
Mariana Calaça Baptista

Cresci na cidade das Caldas da Rainha, na Rua Heróis da Grande Guerra, e é aqui que tenho as minhas raízes e razão de continuar a crescer, perto desta comunidade de que tanto me orgulho. Esta crónica é sobre uma das pessoas que eu sempre admirei, mas que só em idade adulta tive oportunidade de conhecer. Na Rua Heróis da Grande Guerra nº 107 existiu a Livraria 107 de que todos nos lembramos, e era aí que sempre que possível ía cheirar os livros, ler os livros infantis e passear os olhos pelas belas capas dos livros de fotografia. Havia um gato que ali estava sempre presente e que me fazia lembrar a casa de família dos avós onde também há uma grande biblioteca, e onde sempre houve gatos. Sempre quis ir viver para Lisboa, onde tudo acontece, e onde o apelo pela vida cultural dos Museus e das grandes exposições me prendeu durante mais de uma década. Nesta crónica que para mim é um regresso ao passado, venho falar-vos da Isabel Castanheira, a Senhora que costumava estar na Livraria 107 e que eu por vezes via a coordenar a gestão dessa casa. Mais tarde já em Lisboa, o meu imaginário sempre passou por passar largas tardes rodeada entre livros, numa qualquer FNAC ou Bulhosa e onde me entretinha rodeada de um lugar seguro, o mesmo que eu sentia na biblioteca da minha Avó e na Livraria 107. A

Gazeta das Caldas - Livraria 107
Isabel Castanheira

Isabel Castanheira é para mim a razão desse imaginário da minha infância nas Caldas da Rainha e relembro que ali me senti sempre segura, num local de aprendizagem e de humildade que vem da sua própria personalidade, de quem depois de muito caminhar talvez diga como o poeta, que nada sabe. Pois eu cada vez sei menos, mas há certezas que me fizeram regressar a esta terra e construir um futuro onde eu também pudesse fazer parte desse imaginário, o meu lugar seguro. Aprendi que é nesta cidade onde também tudo acontece e que é a casa de muitas pessoas com muito valor, que se pode fazer parte de um futuro mais próspero e cheio de plenitude, nas palavras e na verdadeira aceitação de que se queremos um lugar seguro, temos de fazer parte dele e reunir-nos das pessoas que nos dão essa tranquilidade. Já recentemente recorri à Isabel para que nos falasse de Bordallo, esse personagem encantador das memórias colectivas da nossa cidade e que cunhou a sua obra por toda a cidade. Mais tarde ofereceram-me o livro da Isabel das Caldas de Bordallo, e folheando as suas páginas regressei a esse passado da minha infância e senti-me em paz, de quem entende finalmente que um ciclo se fechou, graças à obra e ao legado que esta senhora apaixonada por livros nos dá de cada vez que expõe ao público algum dos seus projetos. É de facto uma bênção poder viver rodeada de pessoas com esta capacidade de entrega à cultura e à causa pública.
Resta-me talvez dizer que esta livreira tem dado um contributo inigualável à cultura das Caldas da Rainha, e eu esperando que a Isabel possa concluir mais algum projeto, estarei sempre a aguardar regressar ao seu mundo encantado, dos livros e das cores, dos cheiros a novo encadernados em fotografias de lugares longínquos, ou das palavras atentas com que humildemente se entrega a projetos de referência nesta cidade pela causa publica, pelo apoio ao próximo, pela entreajuda, pela colaboração e pela dedicação aos jovens que a procuram para do seu conhecimento beber um pouco deste imaginário que é o lugar seguro de todos nós. Um enorme obrigada Isabel, por tudo e por ter feito desta cidade um local onde crescer nos abriu os horizontes do pensamento, que pela sua mão foram mais doces, mais sábios e mais humildes.