Mahsa Amini (2000-2022) – Azadi, Azadi

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Amélia Sá Nogueira
Socióloga e Ceramista

Mahsa Amini. Podia ter agarrado em mil e um assuntos para a crónica desta semana, mas o nome, as imagens e a onda de protestos que se espalharam um pouco por todo o mundo ditam a triste e revoltante temática a abordar. Em pleno século XXI, num país chamado Irão, morrem mulheres às mãos da “Polícia da Moralidade”. Morreu uma jovem mulher, livre nos seus sonhos mas refém de um país sob o domínio do poder fanático e religioso dos aiatolás.
O “crime” de Mahsa, uma iraniana de origem curda, de 22 anos, foi deixar livres do hijab umas quantas mechas do seu cabelo. O seu rosto foi feito bandeira nas ruas das cidades iranianas por mulheres coragem que contornando o medo com que vivem diariamente ousam enfrentar com a própria vida as austeras regras do seu país.
Penso emocionada na sua bravura e como neste contexto de nada valem os conceitos de direitos humanos, liberdade, igualdade. Era esperada uma tomada de posição forte por parte dos países e das organizações no plano internacional mas o petróleo e os acordos nucleares com o Irão falam mais alto.
A questão de Mahsa Amini já não se centra apenas numa questão de violação grave dos direitos humanos. No tabuleiro mundial jogam-se os prós e contras dos interesses estratégicos no plano político, económico e militar. Enquanto isso, nas ruas da capital iraniana entoa-se o slogan ”Mulher, Vida, Liberdade”. A onda de revolta ultrapassou fronteiras e por todo o mundo crescem as manifestações contra o fundamentalismo religioso dos aiatolás. Várias mulheres, entre elas algumas figuras públicas, queimam o hijab e cortam o cabelo dando visibilidade ao protesto nas redes sociais, nos meios de comunicação ou em organizações internacionais.
O mundo tornou-se um lugar estranho. São várias as formas de ditadura possíveis nos dias de hoje entre pandemias, guerras e autocracias prepetuadas pelo velho e eficaz discurso do medo.
Mahsa Amini, um nome que não podemos esquecer na luta das mulheres iranianas e de tantas outras mulheres pelo mundo fora que vivem em pleno século XXI sob o poder déspota de ditadores de todos os credos, em todas as latitudes, violentadas pela simples condição de serem mulheres. Uma revolução feita por mulheres que pode mudar o rumo da história.
“Azadi, Azadi…” (liberdade, liberdade).

(Iran Human Rights – www.iranhr.net).